Um homem de cultura, apostado no diálogo ecuménico e aberto aos desafios da contemporaneidade foi ontem (25 de Março), empossado como o novo bispo do Porto. A Igreja portucalense engalanou-se para receber D. Manuel Clemente houve palmas, parabéns, sorrisos. O povo rendeu-se e encheu por completo o majestático claustro gótico da sé catedral do Porto.
Cerca das 15 horas, ou seja uma hora antes do cortejo sair do paço episcopal e entrar na Sé, já o morro de Penaventosa e o Largo do Terreiro da Sé estavam apinhados de gente, de crentes e não crentes irmanados num ideal comum assistir a uma cerimónia de grande simbolismo religioso. Viam-se prelados, conégos e bispos da diocese do Porto. E outras personalidadas marcadas pela fé e cultura teológica.
"O novo bispo do Porto é um homem aberto à realidade do mundo. Tem um olhar muito transcendente e ao mesmo tempo espiritual. Espero dele uma acção decidida para o incremento pastoral e cultural da Igreja", diz frei Geraldo, antigo professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Para o investigador e autor de uma vastíssima obra académica, o alto dignitário da Igreja do Porto é um homem de "grande dimensão cultural".
Como é habitual o vento sopra forte no cimo do morro da Sé, cujo casario, recorde-se, cai de podre e onde nem todos os caminhos vão dar há tal felicidade prometida. Chegam, entretanto, mais jovens, alguns acólitos,outros seminaristas e mais prelados com assento marcado nas cerimónias. "Temos um grande bispo para o Porto. É um homem dialogante, sereno e frontal. Tem um grande conhecimento da sociedade contemporânea e das suas correntes ideológicas", sustenta o cónego Orlando Costa, pároco da igreja de Cedofeita.
Quando o relógio da torre sineira marcava as 16 horas todas as conversas foram interrompidas. O cortejo (onde toma lugar o cardeal-patriarca de Lisboa) desceu a imponente escadaria do Paço Episcopal e D. Manuel Clemente mostrava-se sorridente. De vez em quando acenava à multidão "Até as gaivotas vieram ajudar à festa", lembra o bispo a um casal portuense. Soltam-se "flashes" e mais palavras: "É um grande dia para mim e para a Igreja. Estou muito feliz por servir a Igreja", acentua ,ao JN, D. Manuel Clemente.
Valores frágeis
Dentro da sé catedral não existia um nesga de espaço para acolher tantas almas. As palmas ecoaram outra vez, ouviram-se cânticos festivos dirigidos pelo cónego Ferreira dos Santos. Ao chegar ao altar o bispo entregou o báculo que envergava e depôs a mitra. Pela primeira vez, dirigia-se para a cátedra para escutar a carta apostólica do Papa e logo a seguir, o bispo auxiliar João Miranda Teixeira empregou a palavra "coragem" para o novo bispo poder vencer os "desafios" do futuro.
Na homilia, o sucessor de D. Armindo Lopes Coelho alertou os fiéis para a insensibilidade das sociedades modernas "Chamam pós-moderna à sensibilidade dominante nas últimas três décadas. Caracterizam-na como fruto das grandes decepções ideológicas e concentração no momentâneo e imediatamente gratificante", enfatiza.
Há mais sinais "desconfianças" a enviar "Neste ambiente o pensamento é débil, os valores são frágeis e as práticas inconsequentes", refere. Duas horas depois das cerimónias terem começado, D. Manuel Clemente voltou a ser aclamado pelos milhares que se dirigiram à Sé. No final, vêem-se políticos em lugar de destaque à espera de bênção divina: Luís Filipe Menezes, Fátima Felgueiras , Valentim Loureiro, Manuel Moreira .
26.03.2007 Fonte: Jornal de Notícias
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