O título "Novidades", propriedade da Igreja Católica, poderá brevemente ser reactivado. A notícia foi avançada por João Aguiar, Presidente do Conselho de Gerência da Renascença, que falava no âmbito do terceiro e último dia das Jornadas Teológicas de Braga, organizadas pela revista "Cenáculo" e pela Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional de Braga, em cujas instalações decorreu a iniciativa, subordinada ao tema "Religião: marca de sucesso?".
No contexto da mesa-redonda convocada para abordar as relações entre os mundos da Igreja e da comunicação social, e na resposta a um desafio lançado por Manuel Vilas-Boas, jornalista da TSF e partidário da publicação em Portugal de um jornal nacional de inspiração católica, João Aguiar - que participou nesta 19ª edição das jornadas a título de moderador – adiantou estar em estudo a possibilidade de reanimar o "Novidades", quer sob formato impresso, de periodicidade semanal, quer sob regime de edição electrónica, correspondendo, assim, a uma hipótese que a Igreja amiúde se coloca. A viabilidade da constituição da redacção é neste momento o aspecto em avaliação. Uma hipótese é partir do noticiário religioso da Renascença, agora já não concentrado num espaço próprio mas distribuído pelos vários blocos informativos.
"Um semanário católico não podia ser um caso de sucesso?" – foi esta a questão lançada para a mesa por Manuel Vilas Boas. Apesar de tudo, o radialista foi claro quando afirmou que a Igreja só tem a ganhar "se estiver na comunicação social, mais do que se possuir meios de comunicação social". Recordou, a propósito, a fracassada experiência da Igreja no panorama audiovisual (a entrada no projecto da TVI, ou da "Quatro"), embora referisse "aventuras" bem sucedidas como a Rádio Renascença, projecto já consolidado, o site Ecclesia ou o espaço televisivo "70 x 7". Seja como for, prosseguiu, a Igreja deve evitar transportar para a comunicação social a linguagem do púlpito.
Foram dois os problemas que Vilas Boas apontou como estando na origem do divórcio entre Igreja e Imprensa: a ignorância e preconceito do meio jornalístico, marcado por uma "indigência cultural e religiosa e uma mediocridade de bradar aos céus", e, por outro lado, a resistente desconfiança e alergia das autoridades eclesiásticas aos mass media, em particular aos novos formatos, de suporte electrónico. Deixou no ar que a Igreja tem um problema de comunicação, de consequências desastrosas, para resolver. Como exemplo, avançou com os resultados do recente referendo sobre o aborto. "Quantos sacerdotes temos especializados em comunicação social?", interrogou depois, alertando quer para a necessidade da formação quer para a urgência de repensar o ensino do jornalismo no nosso país, únicas formas de fazer face a uma questão "de cultura e de metodologia".
Para Manuel Vilas Boas, se a sectorização da informação religiosa traduz a importância desta dimensão da vida humana (tanto mais que já começam a ser-lhe destinados especialistas), não é menos verdade que, ao misturar-se o religioso com o esotérico "à maneira do que acontece em certas livrarias", alimentando um gosto que oscila "entre o fascínio e o mórbido", qualquer boa intenção cai por terra.
O outro participante da mesa redonda, Joaquim Franco, cuja carteira de reportagens se orienta pela bússola do religioso, também admitiu o "mútuo desconhecimento das linguagens" que, a seu ver, prejudica a relação entre a Igreja e os media generalistas. Segundo este jornalista da SIC, a deontologia do meio deve passar, mais do que pela mera objectividade no exercício da profissão, por uma equação onde cabem o rigor, a responsabilidade e, sobretudo, a distância crítica. Sobre os media confessionais, frisou que a crença pode limitar o exercício jornalístico. Em todo o caso, "o jornalista não é um robot".
Fonte: Agência Ecclesia
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