Um estudo divulgado hoje pela Associação Portuguesa de Nutricionistas (APN) revela que existem apenas 52 nutricionistas nos 356 centros de saúde de Portugal continental. A região Norte é a mais favorecida com 38 profissionais em 101 centros de saúde.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo, segundo o mesmo estudo a que a Lusa teve hoje acesso, existem somente dois nutricionistas para os 86 centros de saúde.
«Ao analisarmos os dados por sub-região de saúde, a situação assume contornos preocupantes uma vez que existem estruturas de saúde sem profissionais ao serviço da população», denuncia a APN.
As sub-regiões, que segundo a APN não possuem nutricionistas, são Castelo Branco, Guarda e Leiria.
A associação explica que «50 por cento dos nutricionistas está no Grande Porto porque até há pouco tempo era o único local onde existia um curso superior de Nutrição (na Faculdade de Ciências de Nutrição da Universidade do Porto) e os profissionais iam-se fixando próximo do local onde se licenciaram.
Os dados relativos a Maio deste ano revelam que, para cada 183 mil portugueses, existe apenas um nutricionista nos centros de saúde, um número considerado »manifestamente insuficiente« para prevenir e combater doenças como a obesidade ou outras doenças crónicas não transmissíveis, como a diabetes e as doenças cardiovasculares.
Numa altura em que a obesidade é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a epidemia do século XXI e que os casos de morte provocada por distúrbios alimentares estão a crescer, a Associação Portuguesa dos Nutricionistas alerta para a urgência do aumento do número de profissionais disponíveis nos cuidados de saúde primários.
Segundo a OMS, em 2025, 50% da população mundial será obesa.
Em Portugal, os números revelam que 32% das crianças, com idades entre os sete e os nove anos, apresentam excesso de peso, sendo 11% obesas.
A APN refere ainda que 24% das crianças em idade pré-escolar têm excesso de peso e que 7% são obesas.
Na idade adulta, os indicadores apontam para 50% da população com excesso de peso, o equivalente a 3,7 milhões de adultos, sendo 15% obesa, o que equivale a 850 mil adultos obesos.
Dados de 2002, citados pela APN, revelam que os custos, directos e indirectos, da obesidade custam ao país quase 500 milhões de euros/ano.
Em declarações à Lusa, a presidente da APN, Alexandra Bento considerou «premente» a introdução de nutricionistas nos centros de saúde devido ao seu papel preponderante no combate à doença do século e na prevenção de novos casos.
«Nos hospitais, não há falhas, mas é nos cuidados primários que se deveria investir, apostando na prevenção», frisou a responsável, referindo que a própria Plataforma Contra a Obesidade tem «chamado a atenção» para o problema.
Segundo Alexandra Bento, também a Missão para a Promoção dos Cuidados de Saúde Primários reconhece que «a situação não é desejável e que são necessários mais nutricionistas para trabalhar em equipas multidisciplinares nos centros de saúde».
Num centro de saúde, explicou, o nutricionista integra-se nas áreas de saúde escolar, saúde materna, saúde do adulto e saúde do idoso, promovendo actividades de educação alimentar.
«Ou seja, além de realizar consultas de nutrição e outras actividades de aconselhamento nutricional individual e colectivo, pode desenvolver acções de formação em diversas áreas, desde a alimentação saudável à segurança alimentar visando a prevenção das doenças», frisou.
«Seria uma medida simples, com um alcance preventivo, que ajudaria a inverter a tendência da obesidade, quer da população portuguesa, quer ao nível das despesas do Estado com a saúde», acrescentou Alexandra Bento.
Contudo, e apesar dos coordenadores das sub-regiões de saúde reconhecerem que o número de especialistas é «manifestamente insuficiente, até nos centros de saúde do Porto», tudo indica que a situação se irá manter.
Apesar de não estar definido o rácio por habitantes, a responsável entende que «será necessário olhar para as zonas do país onde a situação é mais grave».
O nutricionista é um profissional com formação universitária, que trabalha no âmbito das Ciências da Nutrição e Alimentação, fazendo o estudo, orientação e vigilância da nutrição e alimentação e intervindo nos domínios da adequação, qualidade e segurança alimentar, com o objectivo da promoção da saúde, prevenção e tratamento da doença.
No sistema de saúde, o nutricionista insere-se como Técnico Superior de Saúde, no ramo de Nutrição, sendo esta carreira regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 414/91, de 22 de Outubro, com algumas alterações pontuais feitas pelo Decreto-Lei n.º 501/99, de 23 de Novembro.
O ingresso na carreira de Técnico Superior de Saúde está condicionado à posse de habilitação profissional que confira o grau de especialista, obtido mediante a realização de estágio de especialidade.
Com Lusa
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