Solidariedade em período de férias

1. O Centro Social de Santa Cruz do Douro (CSSCD) é uma instituição implantada num dos concelhos mais deprimidos da província duriense. A Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Intelectual (ALADI) é uma instituição do concelho de Matosinhos, com instalações mesmo junto ao mar. Ambas as instituições desempenham um papel fundamental nas realidades socio-económicas em que se inserem. Embora distintas, ambas têm por missão a ajuda a pessoas que, por circunstâncias diversas, necessitam de apoio e acompanhamento diário.
Há cinco anos, o Centro Social de Santa Cruz do Douro e a ALADI estabeleceram uma parceria ao abrigo da qual os utentes da primeira instituição e outras crianças e jovens Baionenses beneficiam de uma Colónia de Férias na praia e de um vasto leque de actividades de carácter lúdico’desportivo. Neste mês de Agosto a iniciativa tem a sua sexta edição. Para além do período de férias na época estival, a parceria entre as duas instituições envolve a realização periódica de diversas iniciativas e actividades, nomeadamente actuações de folclore, participação em ateliers de cerâmica e a realização de convívios entre os utentes das duas Instituições.
Desta forma, duas instituições, uma de uma aldeia do interior e outra duma laboriosa freguesia do litoral, uma com valências de Creche, ATL, Jardim de infância, Centro de dia, Apoio domiciliário e CATI, e outra com apoio a crianças e jovens com deficiências de carácter intelectual, disponibilizam entre elas instalações, de forma graciosa, promovem em benefício mútuo actividades culturais e recreativas, trocam experiências na promoção de artesanato, favorecem o encontro, o convívio, a festa, a vida…
Com esta parceria, as duas Instituições dão corpo à ideia de que a Solidariedade é mais que uma palavra…
Não é a única experiência do género, mas é uma boa prática que importa divulgar…

2. As nossas instituições nasceram para fazer desenvolver a solidariedade.
E o muito e muito bem que têm feito deve ser conhecido e valorizado. Como e quanto este país tem beneficiado com verdadeiros milagres desses agentes anónimos e institucionalizados. Quantas e quantos, ao longo de várias gerações, exponenciaram capacidades e experiências que poderiam ter sucumbido adormecidas. E, graças a essas iniciativas solidárias, puderam sentir a força de um sorriso que faz nascer, de um afecto que faz crescer, de uma esperança que inebria e se abraça.
Graças a essas instituições e àqueles que as idealizaram e as desenvolvem...
Provavelmente será chegado o momento das nossas instituições, mais determinadamente, começarem a abrir entre si as suas portas. E a experiência de instituições do litoral e do interior que celebram parcerias e franqueiam entre si espaços, disponibilizam mutuamente recursos e engendram actividades com engenho e arte, para as apresentarem entre si, é uma prática que deve ser conhecida e seguida.
E o nosso mundo de Instituições é imensamente rico e plural: há Instituições em quase tudo quanto é aldeia, no litoral e no interior, no norte e no sul, no continente e nas regiões autónomas. Instituições com pessoas com deficiência, com crianças, jovens, adultos e idosos. Instituições afectas à Igreja e Instituições da chamada “sociedade civil”. Instituições com trabalho comunitário, com empresas de inserção e com apostas no desenvolvimento local. Instituições com belos equipamentos e com bons meios de comunicação e Instituições com acção verdadeiramente inovadora…
Muito provavelmente há crianças, jovens e idosos, pessoas com as mais diversas carências ou deficiências que, sem custos adicionais para as instituições que frequentam, poderão conhecer e partilhar experiências que os ajudarão a sorrir, a crescer melhor e a esperar mais ousadamente… Mais determinadamente, poderão desenvolver capacidades porque se sentirão estimulados e porque sabem que encontrarão palcos e plateias para as apresentar… Muitos mais poderão beneficiar de melhores períodos de férias, em períodos de algum “esvaziamento” das Instituições, em condições mais vantajosas e em espaços mais condizentes. E muitos mais poderão conhecer outras experiências e outros meios com visitas e permutas entre as Instituições.
Bastará, tão só, que a prática da solidariedade se abra em percursos nos vários sentidos. Também entre as Instituições.

3. Mas as perspectivas solidárias ainda poderão franquear-se em mais sentidos.
Muitas Instituições confrontam-se com dificuldades em ajustar as férias dos seus trabalhadores com as suas próprias obrigações e necessidades. E muitas outras sentem que o período de menor frequência poderia ser o tempo favorável para obras que se foram adiando ou para reapetrechamentos que não podem ser adiados. Mas deparam-se com a solicitude para com os utentes e com as exigências decorrentes dos acordos celebrados que impedem um conjuntural encerramento.
Também aqui se poderá abrir uma porta à solidariedade.
As relações de vizinhança e de cooperação entre Instituições de áreas limítrofes podem ser uma excelente oportunidade.
Por que não estabelecer parcerias entre Instituições que permitam que, em períodos de menor frequência, como o são estes de férias, alguns serviços sejam assegurados alternadamente, de modo a permitir pausas ou encerramentos coordenados e pontuais? Bastaria que os utentes não fossem vistos como clientes e que o engenho fosse colocado ao serviço da arte da solidariedade…
Poder-se-á pensar que os acordos não prevêem essas situações. Mas, provavelmente, já é tempo de serem as boas práticas a estabelecerem normas orientadoras para a cooperação. E, depois, o capital de experiência e a dimensão das respostas solidárias já são tão expressivos que a sua voz deve ser a mais audível…

 

Data de introdução: 2007-08-09



















editorial

O COMPROMISSO DE COOPERAÇÃO: SAÚDE

De acordo com o previsto no Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o Ministério da Saúde “garante que os profissionais de saúde dos agrupamentos de centros de saúde asseguram a...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Imigração e desenvolvimento
As migrações não são um fenómeno novo na história global, assim como na do nosso país, desde os seus primórdios. Nem sequer se trata de uma realidade...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Portugal está sem Estratégia para a Integração da Comunidade Cigana
No mês de junho Portugal foi visitado por uma delegação da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância do Conselho da Europa, que se debruçou, sobre a...