A situação do país começa a ficar preocupante e a qualidade da nossa democracia remeto-nos para uma reflexão aprofundada sobre a consistência da nossa cidadania.
O Primeiro Ministro fala de silêncios ensurdecedores. O livre pensador Manuel Alegre, em coerência com um passado ao serviço da liberdade, denunciou o clima de medo que paira sobre a sociedade portuguesa.
O maior partido da oposição, em campanha por eleições directas para a eleição do seu líder, revela incomodidade pela eventual fraude no processo eleitoral.
A comunicação social está confrontada com uma nova legislação que, por um lado, responsabiliza mais os jornalistas, situação que dignifica o seu estatuto deontológico, mas, por outro, constitui uma ameaça velada ao seu direito/dever de informar.
As organizações da sociedade civil no seu conjunto e as de solidariedade social, em particular, correm um sério risco de, por omissão ou por inadvertida cumplicidade, pactuar com uma indevida apropriação por parte do Estado de competências que, por tradição e história, fazem parte do património da Sociedade Civil, através das suas Instituições.
É tempo de gritar que a subsidiariedade está a ser asfixiada pela governamentalização e pela municipalização!
É tempo de denunciar uma crescente centralização das várias Administrações do Estado e uma marginalização de Instituições que sempre foram parceiras de cooperação com sucessivos governos e cada vez mais se sentem arredadas de uma participação efectiva e consequente na construção de respostas sócio-educativas e de um desenvolvimento de rosto humano que urge aplicar junto de centenas e centenas de milhares de famílias em situação de exclusão social.
Por mais eloquência parlamentar que o Governo utilize na apresentação dos seus debates mensais para fazer calar as oposições, há uma coisa que os discursos não conseguem evitar: a consciência de que Portugal está com um problema de coesão nacional, tanto a nível territorial (assimetrias regionais) como a nível social (com uma classe média e uma rede de pequenas e médias empresas e de instituições esmagadas por uma política fiscal que lhes ameaça o presente e o futuro).
Sem coesão nacional, mais tarde ou mais cedo...por mais controlado que esteja o deficit (objectivo que todos consideramos imprescindível para a boa saúde da nossa administração), os cidadãos mais castigados pelas diversas crises sócio-económicas poderão adoptar comportamentos de cidadania ao arrepio dos padrões considerados politicamente correctos como, por exemplo, abster-se de votar ou criando formas de protesto para as quais será difícil encontrar respostas adequadas!
Se alguns silêncios podem ser de ouro, protegidos por uma conveniente prudência, outros podem ser de chumbo, amortalhando a liberdade e os deveres de cidadania.
Data de introdução: 2007-08-09