A cena de violência entre uma aluna e a professora de francês na escola Carolina Michaëlis, no Porto, faz lembrar aqueles lances polémicos que a justiça desportiva decide punir depois de analisar as imagens televisivas. O facto de um colega da estudante ter gravado a cena e a ter colocado no You Tube provocou uma amplificação da gravidade do caso e obrigou a uma discussão generalizada sobre a falta de educação nos estabelecimentos escolares que em alguns casos chegam à agressão física.
Do You Tube as imagens foram repescadas por um semanário e a seguir reproduzidas até à exaustão pelas cadeias de televisão. As reacções sucederam-se em catadupa desde as bases populares até às cúpulas dirigentes nacionais. Tal qual como nos lances polémicos do futebol: A agressão grave entre jogadores não é percepcionada pelo árbitro, o povo reclama justiça, os jornais e televisões exibem a prova e o tribunal futebolístico acaba por parir uma qualquer sentença que, por norma, costuma ser tão ou mais polémica do que o lance que lhe deu origem.
Toda a gente sabe que, infelizmente, as cenas de violência entre alunos, alunos e professores, pais e professores desde há muito que transpuseram os muros e os portões do território escolar. No tempo do culto da autoridade, bater nos filhos e nos alunos era uma prática social edificante. A escola era, desse ponto de vista, um exemplo. Nem sequer se pode alegar que a violência é de agora; apenas que é diferente. São inúmeros os casos denunciados, mais ainda os camuflados, e serão poucas as escolas em que tal não acontece. Tal como no futebol, nos jogos em que não há imagens nada ocorre.
Só existe o que se vê. E só se cura a ferida sangrenta esquecendo a maleita profunda que lhe causa as lesões. Acabem com os telemóveis nas escolas. Castiguem-se os envolvidos. Puna-se o realizador de trazer por casa. Critique-se a escola. Marginalize-se a professora.
Vou deixar aqui uma sugestão que tem sido adiantada como remédio para mitigar os crimes mais violentos das cidades e está também a ser maturada para se adaptar aos lances de juízo mais difícil nos estádios de futebol: Câmaras de vigilância nas salas de aula! É só vantagens: tem uma função inibitória; pode constituir prova de ocorrência de crime; e, de bónus, permite avaliar os professores com mais rigor, eficiência e maior transparência do que o método proposto pelo Ministério da Educação.
Nada foi feito para mudar a mentalidade deste povo que somos. Já pouco faltará para darmos razão ao falecido cronista e escritor Eduardo Prado Coelho, que chegou a defender que a solução é mesmo mudar o povo.
Data de introdução: 2008-04-07