SUICÍDIO

Segunda causa de morte dos jovens portugueses

A presidente do Núcleo de Estudos do Suicídio (NES) alertou para os perigos que os sites que incitam à morte representam para os jovens em sofrimento, podendo precipitar o suicídio, a segunda causa de morte dos adolescentes em Portugal. Maria Manuela Correia, presidente do NES do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria e membro da direcção da SPS, disse que existem mais de 100 mil sites na Internet que mostram a melhor forma para cometer o suicídio e os métodos utilizados. "É um risco para os jovens e adultos que têm a ideia do suicídio", disse Manuela Correia, acrescentando que "há jovens que se suicidam e são visionados por milhares de pessoas em todo o mundo".

No entanto, ressalvou, "a Internet não deve ser diabolizada porque ainda está numa fase precoce da sua utilização em que ainda não há regulamentação". Por outro lado, acrescentou, existem sites de prevenção do suicídio a que os jovens em riscos podem recorrer, como o da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, do Núcleo de Estudos do Suicídio e da Provida, além de
linhas telefónicas de apoio.

Apesar de o suicídio ser a segunda causa de morte na faixa etária entre os 14 e os 24 anos, seguindo-se aos acidentes de viação, Portugal tem das taxas mais baixas da Europa. Segundo dados do NES, registaram-se 49 casos em 2001, 60 em 2002, 50 em 2003, 45 em 2004 e 24 em 2005 (dados mais recentes), sendo os rapazes que mais se suicidam.

A especialista explicou que apesar da diminuição dos casos registados em 2005, "não se deve tirar ilações directas que houve diminuição do número de suicídios", porque há casos de morte por suicídio que não são identificados como tal. Maria Manuela Correia adiantou que os pais, professores e amigos têm um papel fundamental na prevenção do suicídio, estando atentos às mudanças de comportamentos dos jovens como quebra de rendimento escolar, alterações do sono, a música e os livros com temáticas ligadas à morte, mensagens, falarem muito sobre a morte, entre outros.

Podem ainda ter comportamentos suicidários que se dividem em três valência: tentativas de suicídio, comportamentos para-suicidários e auto-mutilações. "Estes sinais de alerta são para valorizar porque demonstram que a pessoa está em grande sofrimento", sublinhou, defendendo que mal o problema seja detectado os pais ou professores devem falar com o adolescente e explicar-lhe que pode ser ajudado, nunca o deixando sozinho.

A responsável do NES adiantou que há estudos que indicam que 60 por cento dos jovens que tentaram o suicídio já tinham procurado ajuda médica no último ano para falar do seu sofrimento. De acordo com a especialista, tem vindo a aumentar o número de jovens que recorre ao serviço de psiquiatria do Hospital de Santa Maria, fundado há dez anos.

"Tem vindo a aumentar mas ainda bem. Quer dizer que a formação que o NES tem dado a nível de professores, médicos de família e os encontros que realiza a nível das problemáticas da adolescência está a resultar", disse, acrescentando que muitos adolescentes são levados por professores, outros por familiares e amigos. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de
Estatística (INE) sobre a taxa de suicídio em Portugal, relativos a 2005, indicam que houve uma baixa significativa em relação a 2002.

Em 2005, registaram-se 8,6 casos por 100 mil habitantes (910 suicídios), contra os 1.100 casos (11,52 óbitos por 100 mil habitantes) em 2002 os 519 notificados em 2000 (5,1). Segundo Maria Manuela Correia, não se pode fazer uma "leitura muito simplista" dos dados, porque há mortes que surgem como causas indeterminadas por razões religiosas, por vergonha ou outras. "A morte assusta a todos e o suicídio é uma situação limite, contra natura" que muitas vezes se tenta esconder, justificou.

A especialista adiantou que a taxa de suicídio baixou em todas as regiões do país, à excepção do Centro e do Algarve que mantiveram os números de 2002, e que a região do Alentejo continua a ser a que regista mais casos.

Outro factor que a especialista destaca nestes dados é o aumento do número de suicídio na faixa etária entre os 35 e os 49 anos, um fenómeno que merece "reflexão e uma interpretação cuidadosa". Os dados indicam que os homens são os que cometem mais o suicídio e é a população com mais de 65 anos que continua a regista o maior número de suicídios.

O tema do suicídio foi abordado num simpósio promovido pela Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS), em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.


20.04.2008

 

Data de introdução: 2008-04-21



















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