I CONGRESSO DA PASTORAL SOCIAL, FÁTIMA

A pobreza não é uma fatalidade

O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, considerou que "a pobreza näo é uma fatalidade" e que para a sua erradicação "basta vontade política e ética". No final do I Congresso da Pastoral Social, que decorreu em Fátima e que teve como tema "Intervir na sociedade, hoje! Memória e projecto", o responsável referiu que "a acção social e caritativa não pode ser vivida como uma acção periférica e, muito menos, como uma acção optativa no conjunto das actividades pastorais".

"Não pode ser entendida como uma mera acção supletiva para responder a necessidades que não estão cobertas pela sociedade, mas sim um elemento constitutivo da própria Igreja", destacou o presidente da Cáritas Portuguesa.

Eugénio da Fonseca defendeu ainda que é "necessário alterar uma série de aspectos" da acção pastoral da Igreja, defendendo que se deve "passar de uma acção assistencialista, duvidosamente regeneradora, para uma acção integrada e integral".

"A assistência, em forma de ajudas materiais, é necessária e não se deve renunciar a ela", continuou o presidente da Catitas Portuguesa, que acrescentou: "É um meio para que as pessoas disponham das condições necessárias para caminhar no sentido da sua integração social, mas não pode ser o fim da acção social da Igreja".

O presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, cardeal Renato Martino, afirmou em Fátima, que a pobreza é causa e consequência do terrorismo. O terrorismo leva à pobreza e a pobreza leva ao terrorismo", afirmou o cardeal Renato Raffalelo Martino no final do I Congresso da Pastoral Social, onde lembrou o ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos.

O prelado considerou que um dos temas futuros da pastoral social passa pela "tragédia do terrorismo internacional", mas também sobre "os progressos e regressões das democracias, o poder financeiro transnacional, as novidades do mundo do trabalho, as novas formas de injustiça e de pobreza, os novos fundamentalismos".

O prelado destacou também a existência de novas pobrezas no mundo actual. "Não é só a pobreza da falta de bens. Há também a pobreza ideológica", afirmou o cardeal, que considerou a solidão como uma forma de pobreza. "As pessoas têm coisas, mas encontram-se sós. Isso é pobreza", referiu o responsável do Vaticano.

Já o presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, D. Carlos Azevedo, afirmou no final do congresso que o apoio da Igreja contra a pobreza não é uma questão de quantidade, "mas sobretudo de qualidade". "Não é a quantidade do auxílio aos pobres que estará em jogo em primeiro lugar, mas a nossa capacidade de ter um novo olhar sobre estas situações", referiu D. Carlos Azevedo.

O terceiro e último dia dos trabalhos do I Congresso da Pastoral Social ficou ainda marcado pela intervenção da presidente da Comissão Nacional de Justiça e Paz (CNJP) que desafiou as instituições de solidariedade social a criarem uma provedoria de direitos dos pobres. Tal provedoria, como a designação sugere, seria a voz dos pobres junto dos poderes públicos, mas também uma voz junto dos próprios pobres, dando-lhes a conhecer os seus direitos e ajudando-os a suprir défices de informação, conhecimento e participação", afirmou Manuela Silva.

A presidente da CNJP admitiu que "terá aumentado o grau de consciencialização colectiva acerca da pobreza do país". "Contudo, o certo é que continuamos presos a preconceitos desresponsabilizantes quanto às causas da pobreza e, consequentemente, surdos e mudos em relação à necessidade de as remover", afirmou Manuela Silva. A presidente da CNJP disse ainda que as políticas e instrumentos de combate à pobreza "nem sempre são implementados com a eficiência desejada".

12.09.2008

 

Data de introdução: 2008-09-12



















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