IMIGRAÇÃO

Estrangeiros "não são mais criminosos do que os portugueses"

Uma investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, Maria João Guia, estudou as relações entre imigração e criminalidade e concluiu que "os estrangeiros não são mais criminosos do que os portugueses". Maria João Guia disse que "os imigrantes não são mais criminosos do que antes, nem cometem mais crimes do que os portugueses, apesar de haver diferença nas proporções dos grupos".

No dia 10 de Outubro, a investigadora do CES defendeu a sua dissertação de mestrado, intitulada "Imigração e criminalidade - caleidoscópio de imigrantes reclusos", um trabalho que realizou sob orientação da professora Maria Ioannis Baganha, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. "Existem factos em comum entre determinadas nacionalidades e determinadas condenações", verificou, frisando, no entanto, que "também os imigrantes contribuem para o avanço da economia e da sociedade" em Portugal.

O trabalho estatístico em que Maria João Guia baseou o seu estudo foram sobretudo dados sobre reclusos estrangeiros, em 2002 e 2005, facultados pela Direcção-Geral de Serviços Prisionais. "Concluiu-se que os imigrantes, em geral, não cometem hoje mais crimes do que antes", refere na contracapa da sua tese. "Através da análise de diversas variáveis, tais como nacionalidade, sexo, idade, habilitações literárias, pena e crime, foi possível constituir uma tipologia de quatro grupos de imigrantes, cujas condenações por tipos de crime e outras variáveis se aproximavam", explica.

No seu trabalho, Maria João Guia procura "desmistificar o preconceito de que todo o imigrante é criminoso". "Este livro é uma tentativa de repor verdades e de analisar com o rigor possível as realidades da imigração e da criminalidade", salienta. Através do subtítulo - "Caleidoscópio de imigrantes reclusos" -, a autora pretende "manter presente a consciência" de que "nunca poderá ser abordado de forma definitiva" o tema "Imigração e criminalidade".

Na sua opinião, o assunto deverá ser, pelo contrário, "encarado em diferentes perspectivas, visto integrar-se numa realidade social em constante mutação". “Com a expressão «imigrantes reclusos», pretendemos diferenciar a vertente dos estrangeiros residentes (imigrantes) da dos estrangeiros não residentes, aprofundando a análise no que respeita a nacionalidades e tipos de crime cometidos", esclarece.

Maria João Guia realça, por outro lado, que os processos de globalização "estão a fomentar grandes movimentos migratórios" e que "muitos países de acolhimento não estão preparados para receber um número elevado de imigrantes". Esses países "enfrentam problemas sociais graves, nomeadamente o aparecimento de novos tipos de crime".

"Aparentemente" - afirma -, "crimes como o auxílio à imigração ilegal, o tráfico de seres humanos, a angariação de mão-de-obra ilegal, o lenocínio, a extorsão e a falsificação de documentos estão a aumentar". Tais crimes proporcionam "elevados lucros" e são "frequentemente atribuídos aos imigrantes". "No entanto, são os imigrantes que constituem a maioria das vítimas dos mesmos", conclui a investigadora do CES.

Quando se verifica um aumento da imigração, "vem o bom e o mau", admitindo que alguma da criminalidade trazida para Portugal por estrangeiros "já exista antes" nos países de origem. "Se se verificou a entrada de um grande número de estrangeiros em Portugal nos últimos anos, naturalmente houve um aumento do número de reclusos estrangeiros", sublinha Maria João Guia nas conclusões.

O júri das provas de mestrado da investigadora do CES, presidido pelo catedrático João Arriscado Nunes, integrou ainda os professores João Peixoto e Maria Ioannis Baganha.


18.11.2008

 

Data de introdução: 2008-11-24



















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