O projecto Maternar, nascido oficialmente a 8 de Março, pretende criar uma rede nacional de apoio à maternidade, incitando a partilha de conhecimentos e de experiências entre as mulheres, descreve Margarida Piló, uma das sete fundadoras da iniciativa.
O termo "maternar" - que visa definir o acto de criar, cuidar, educar, dar afecto, em suma, ao desenvolvimento de toda uma relação de âmbito sócio-afectivo entre mãe e filho - não surge nos dicionários portugueses, "embora no inglês encontremos o mothering e no francês o materner, assinalou Margarida Piló.
"O grande objectivo da Maternar é construir uma rede que apoie as mulheres e as suas famílias, para que vivam mais plenamente uma fase que pode ir da pré-concepção ao cuidar das crianças, passando pelo parto e a amamentação", explicou à agência Lusa esta educadora perinatal com 34 anos e três filhos (de 3, 5 e 7 anos).
Pôr as mulheres a conversar umas com as outras e a trocar experiências, "criando espaços para a partilha de emoções", é uma das formas de colocar em prática os objectivos da Maternar, associação sem fins lucrativos que se apresenta ao público no endereço digital www.maternar.pt.
Segundo Margarida Piló, "antigamente existiam redes de apoio que surgiam naturalmente e que eram compostas pelas famílias e pelas mulheres da aldeia" mas, na actual ausência deste suporte, "as mulheres, sobretudo no período pós-parto, ficam no vazio, numa espécie de terra de ninguém, sem apoio absolutamente nenhum".
Assim surgiu a ideia de criar grupos de apoio à maternidade, "algo que já acontece um pouco por todo o mundo mas não em Portugal", de acordo com a responsável.
"Não teremos apenas grupos específicos para cada fase, ou seja, um da concepção, um da gravidez, outro da amamentação, mas grupos heterogéneos, para que uma mulher grávida possa ir logo ouvindo falar de amamentação ou uma que está a tentar conceber pela primeira vez possa contactar com experiências de parto", esclareceu.
A co-fundadora da Maternar vê neste projecto a transposição, para o plano concreto, da sua tese de mestrado, intitulada "Maternidade em círculos - Grupos de apoio à maternidade consciente" e defendida a 30 de Janeiro no Instituto Superior de Psicologia Aplicada.
Tendo trabalhado dez anos no ensino especial e como monitora de informática, fazendo posteriormente a formação de doula (mulher que apoia a grávida durante a gestação, o nascimento do bebé e o pós-parto), Margarida defende que, durante a gravidez, as mulheres podem e devem "assumir a responsabilidade de tomar decisões informadas, em lugar de deixarem tudo na mão dos médicos".
Assente na filosofia da International MotherBaby Childbirth Initiative, "uma espécie de Carta dos Direitos da Mãe e do Bebé no Nascimento, que tem por base evidências científicas actualizadas e recomendações da Organização Mundial de Saúde", a Maternar pretende também divulgar edições portuguesas de folhetos informativos, livros e estudos já disponíveis noutros países.
"É nossa intenção levar as mulheres a perceberem que estão preparadas para trazer uma criança ao mundo, para a nutrirem e a ajudarem a crescer, sendo o parto um momento revelador, um momento único para as mulheres se redescobrirem e, de certa forma, renascerem", sublinhou Margarida Piló.
A também conselheira em aleitamento materno e voluntária da linha SOS Amamentação revelou à Lusa que a associação recém-nascida vai apostar em "acções de formação e sensibilização", visando, no futuro, trabalhar com comunidades carenciadas, "nomeadamente nas prisões", e directamente nos hospitais públicos.
"O nosso trabalho pode beneficiar em muito os profissionais de saúde, pois existe um movimento a nível internacional - e que em Portugal está cada vez mais presente - no sentido de tornar a assistência à maternidade mais humanizada, mais respeitada", argumentou, acrescentando que as acções da Maternar terão também um carácter preventivo "num momento em que aumenta a taxa de depressões pós-parto".
De acordo com a página digital desta iniciativa, "os círculos maternos acolhem todas as mulheres interessadas em conversar acerca da maternidade", independentemente da sua experiência, história de vida e orientação política ou religiosa, de terem filhos ou não, estarem grávidas ou não.
Para participar nos vários grupos é necessário associar-se à Maternar (mediante o pagamento de uma quota anual de 30 euros), decorrendo os encontros semanal, quinzenal ou mensalmente, com garantia de confidencialidade das histórias de vida aí partilhadas.
A Maternar pretende tornar-se uma rede nacional, pois conta já com coordenadoras regionais no Porto, em Aveiro e Setúbal e pretende colmatar em breve a ausência destas na zona Sul.
Fonte: Sol
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