Formalmente constituída a 14 de Agosto de 2004, a Associação Via Nova nasceu com o propósito inicial de prestar apoio voluntário a instituições de solidariedade social. Mas seis meses depois abraçou, a pedido da Segurança Social, a valência de lar de infância, acolhendo 19 jovens e crianças do sexo masculino provenientes do lar juvenil da Petisqueira, pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, que foi fechado por ordem do tribunal local.
Sem casa própria, estiveram algum tempo instalados na Pousada da Juventude da cidade até se mudarem para uma vivenda e um apartamento arrendados no centro da cidade, onde estão actualmente. “Aquilo que nos unia era o trabalho voluntário. Trabalhávamos como voluntários no lar da Misericórdia e sentíamos que havia uma necessidade de organizar o voluntariado e resolvemos constituir uma associação”, explica Gomes da Costa, psicólogo e dirigente na Via Nova.
Actualmente com 20 rapazes entre os nove e os 21 anos, o objectivo da instituição é acolher crianças e jovens desprovidos de rede de familiar de suporte, tendo como princípio genérico proporcionar estruturas de vida aproximadas às da família. “O nosso trabalho é acompanhar as crianças a todos os níveis. Desenvolvemos os projectos socioeducativos individuais e os projectos de vida deles, de maneira a integrá-los na sociedade, a encontrarem um trabalho, uma família, a encontrarem um rumo”, refere Carlos Bento, director técnico da instituição.
O dia-a-dia dos jovens é passado fora da casa, na escola e nas actividades extra-curriculares que frequentam, desde o futebol, à capoeira e à catequese. As visitas familiares estão reguladas pelo tribunal e em muitos casos são escassas. “Há crianças que podem ir todos os fins-de-semana, outros só uma vez por mês, depende de caso para caso, mas noto que há mais interesse nas crianças em irem à família do que a família vir até elas”, confessa o técnico. O responsável refere que mesmo os telefonemas acontecem, na maior parte dos casos, por iniciativa dos jovens e que a ausência parental é muito notória. “Chegamos ao ponto de termos situações de que são os pais a ligar para os filhos para falarem dos seus problemas e os filhos são os ouvintes, o que deveria ser ao contrário”.
Para Gomes da Costa estas crianças são “duplamente vitimizadas”. “Em primeiro lugar, são vítimas da família, da disfunção familiar e da falta de responsabilidade dos pais e, em segundo lugar, são institucionalizadas”, diz. O psicólogo acredita que as crianças deveriam permanecer nas famílias e que a actuação do Estado deveria ser feita a montante, sempre com o intuito de evitar a institucionalização. “Se trabalhássemos com as famílias e se pudéssemos ajudá-las a assumir as responsabilidades e a desenvolver as suas competências perante os filhos que têm, estes miúdos não teriam necessidade de vir para instituições”. Gomes da Costa defende que a lei deveria responsabilizar e punir as famílias que negligenciam ou maltratam os filhos, situação que permanece impune actualmente. “Temos várias crianças aqui que são fruto da incompetência parental, crianças que são maltratadas, que são abandonadas, que os pais não cuidam. São crianças sinalizadas quer pelas comissões de protecção de menores quer pela Segurança Social e considerando-se que estão em situação de risco para o desenvolvimento são retiradas à família”, diz e acrescenta que essa é uma forma de “minimizar o risco” que os menores correm. “O que não pode acontecer é não suceder nada a estas famílias. Vêem-se livres dos filhos, livres das suas responsabilidades, muitas ficam com o rendimento social de inserção e os pais são desresponsabilizados, até criminalmente nos casos que se justificasse”. O técnico entende ainda que é necessário estabelecer redes de apoio a essas famílias para que possam “aprender” a cuidar dos filhos. “Sempre que possível, esses casos deveriam de ser apoiados através de educadores sociais, psicólogos, equipas multidisciplinares devidamente organizadas para que seja possível perceberem que ter um filho é assumir uma responsabilidade a longo prazo”, diz.
A viver em instalações arrendadas, com um custo mensal que ultrapassa os mil euros, a instituição vive com “a corda ao pescoço”, segundo Gomes da Costa. Já têm um projecto para a construção de instalações próprias, orçado num milhão e quinhentos mil euros, onde vão manter a valência de lar juvenil, mas também pretendem avançar com projectos na área da creche, apoio domiciliário e um centro de atendimento parental. A nova casa, que deverá ser construída num terreno doado pela autarquia de Vila Real a custo zero e irá ter capacidade para 25 a 30 rapazes provenientes de qualquer um dos concelhos do distrito. Aguardam neste momento, uma candidatura a verbas do QREN.
“A nossa sobrevivência depende da construção dessa estrutura”, refere Gomes da Costa. A instituição vive exclusivamente dos acordos com a Segurança Social num equilíbrio financeiro difícil”. Contudo, o dirigente faz questão de referir a generosidade da comunidade envolvente. “Desde a padaria que faz fornadas de pão de propósito para a Via Nova e que nos dá bolos até ao hipermercado Jumbo que nos vendia peixe a um euro ao quilo, contamos com a generosidade de muitas pessoas”.
Oferecer a possibilidade de sonhar e aumentar a auto-estima é outro dos grandes objectivos da equipa de profissionais que acompanha os menores. “Estes miúdos têm expectativas muito baixas de vida. São expectativas de vida de empregos subalternos e há uma falta de auto-estima muito grande”, diz Carlos Bento. O director técnico explica que muito do trabalho passa por mostrar aquelas crianças e jovens de que podem aspirar vidas diferentes daquela que conheceram até então. “Nós procuramos estimular o estudo e fazer com que estes miúdos sonhem mais alto e felizmente alguns deles conseguem”, afirma orgulhoso.
Data de introdução: 2009-04-06