Desde 2005 que Joana Pontes dinamiza uma campanha que permite trocar tampinhas de plástico por cadeiras de rodas e material ortopédico. A primeira recolha começou no Verão de 2005 e resultou na entrega de mais de quatro toneladas de tampas. A jovem de 25 anos, natural de Gafanha da Nazaré, em Aveiro, resolveu continuar a campanha e já angariou mais de 10 toneladas de tampas de plástico que resultaram na entrega de seis cadeiras de rodas e dois pares de muletas a instituições de solidariedade social e escolas do concelho.
“Vi uma notícia na televisão de um senhor que recolhia tampas e fiquei interessada. Como se aproximavam as férias de Verão resolvi juntar o útil ao agradável: ocupar-me durante as férias e ajudar as instituições da minha área de residência”, explica Joana. A recolha começou por ser feita em bares e cafés e foram afixados alguns cartazes a alertar a população para a campanha. “O princípio não foi fácil e cheguei a ter casos de estabelecimentos em que tive como resposta «não podemos porque dá muito trabalho», mas insistia na ideia e apesar de não se guardarem todas, sempre era melhor recolher algumas tampas do que nenhumas”, diz a jovem recém-licenciada em Serviço Social.
A campanha durou todo o Verão centrada nos cafés e bares da Gafanha da Nazaré, Praia da Barra e Costa Nova, mas o início do ano escolar veio trazer um novo alento à iniciativa com a adesão de algumas escolas. “O nosso raio de acção foi aumentando, pois as crianças começaram a chegar a casas nas quais eu não conseguia entrar e cativaram pais, avós, vizinhos. Sei que numa escola (penso que em Aradas) uma professora chegou mesmo a dinamizar uma espécie de concurso em que quem entregasse mais tampas ganhava X ou Y e assim cativava mais os alunos”.
As tampas eram guardadas em casa dos pais de Joana Pontes, guardadas em sacos de 120 litros e enviadas para uma empresa de reciclagem. “Ensacar tampas é o primeiro trabalho que o meu pai faz ao Sábado, depois de tomar o pequeno-almoço, começa por ensacar todas as tampas recolhidas durante a semana e empilhar os sacos em «corredores» e, por vezes, são tantas tampas que passa a maior parte do dia nisto”, diz a jovem. Mas é preciso fazer chegar as tampas à empresa de reciclagem, pois é o dinheiro resultante dessa venda que é convertido em cadeiras de rodas e material ortopédico. Para isso, Joana Pontes contou com o apoio da junta de freguesia local e da autarquia de Ílhavo encarregues do transporte das tampas. Uma empresa também cedeu um camião e motorista para o mesmo efeito. “A câmara municipal de Ílhavo tornou-se num parceiro de peso, responsabilizando-se pelo transporte dos carregamentos posteriores, desenvolvendo um ponto de recolha no ecocentro municipal e apoiando nos contactos e na cedência de espaços sempre que se realiza uma nova entrega de materiais”, explica. A jovem diz que a logística de recolha e entrega ainda pode ser optimizada e, para tal, gostava de explorar outras formas de divulgação, com mais pontos de recolha fixos em locais estratégicos e com painéis publicitários.
Pelas contas da jovem, cada garrafão de cinco litros equivale a cerca de 750 gramas de tampas e são precisas mais de uma tonelada para comprar uma cadeira de rodas. O número é elevado, mas a adesão da população tem sido muito “boa”, desde anónimos, a empresas, estabelecimentos comerciais, escolas e instituições. “Houve uma resposta muito positiva e as pessoas mostraram muita sensibilidade. Chegaram-nos tampinhas de Vagos, Cacia… Há pessoas que andam no mar, em viagens longas e juntam sacos cheios que depois nos entregam”, refere Joana. “A campanha alcançou uma dimensão que jamais pensei vir a conseguir, pois o objectivo inicial era apenas ocupar umas férias de Verão e tentar recolher uma tonelada”.
Como resultado da primeira recolha foram entregues uma cadeira de rodas à Fundação Prior Sardo e outra ao CASCI, duas instituições de solidariedade social com uma área de intervenção muito diversificada. A segunda entrega voltou a contemplar o CASCI, desta vez com duas cadeiras de rodas, uma vez que se associaram à campanha, recolhendo uma grande quantidade de tampas. Foram surgindo pedidos de ajuda e as recolhas passaram a ter destinatários. Um deles foi o lar “Divino Salvador” e o lar “Nossa Senhora da Nazaré”, cada um com uma cadeira de rodas. Duas escolas locais receberam um par de muletas, “como forma de demonstrar as crianças que o seu esforço e dedicação fora reconhecido, procurando assim difundir uma cultura de reciprocidade”.
Joana Pontes pretende continuar com a iniciativa, enquanto tiver apoio para transportar as tampas para a empresa de reciclagem. Entretanto inscrita na associação “Tampa Amiga”, a jovem é referida no site como um dos dez pontos de entrega na zona de Aveiro. Apesar dos bons resultados a jovem gostava de ver reformuladas algumas questões, como por exemplo, a existência de um local próprio para recolha de tampas nos ecopontos.
Data de introdução: 2009-06-03