Florinhas do Vouga oferece cabaz de alimentos todas as semanas. Famílias triplicaram em dois meses.
"Damos o que nos dão". É este o princípio da Florinha do Vouga. Empresas, amigos e o Banco Alimentar oferecem comida. A instituição de solidariedade ajuda a matar a fome de muitas famílias de Aveiro, que cada vez são mais.
O número de pessoas que recorre ao cabaz alimentar oferecido pelas "Florinhas do Vouga", de Aveiro, triplicou em dois meses. Eram 40 em Março, mês em que começou a "Mercearia e Companhia", mas desde Maio que são 120 os que recorrem à ajuda desta Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS).
É à segunda e terça feira que os contactos das responsáveis das Florinhas do Vouga com as empresas, os amigos e o Banco Alimentar se acumulam. "O que tem para darmos a quem precisa?" é a pergunta de sempre. Os alimentos são oferecidos à quarta-feira, mas cada família, previamente sinalizada pelas assistentes sociais das Florinhas, só pode recorrer ao serviço uma vez por mês. As dádivas não dão para mais.
Na última quarta-feira havia morangos, brócolos, arroz, feijão, açúcar, papas lácteas, chocolates, massas e refeições pré-confeccionadas (bacalhau e lulas). Cerca de 25 pessoas fazem fila à entrada de uma sala das Florinhas do Vouga. Representam outras tantas famílias, a esmagadora maioria moram no Bairro de Santiago, área de intervenção desta IPPS diocesana, explica, ao JN, Fátima Mendes, directora geral das Florinhas.
A "Mercearia e Companhia" foi a solução encontrada para o aumento de pessoas que procuravam a cantina social em Santiago. "Famílias inteiras procuravam o nosso espaço, especialmente a partir do dia 10, quando o dinheiro começa a faltar. Decidimos então ajudar de outra forma, dando alimentos para que pudessem cozinhar em casa", contextualiza Fátima Mendes.
A directora conhece as estórias e as caras. Quase todas são mulheres. O contraste de sentimentos - tristeza pela necessidade e alegria pela ajuda - reflecte-se nos poucos diálogos. Mas não será por falta de necessidade de falar. Pelo menos para o jornal. Acreditam que desabafando podem abrir portas, especialmente para o desemprego, o drama que está na origem de grande parte da fila. "Muitas vivem das limpezas. E como a crise chegou à classe média/alta, muitas "patroas" cortaram nas horas, afectando o rendimento mensal", lembra Fátima
É o caso de Marília, 62 anos, residente em Santiago, cinco filhos. Uns divorciados, outros desempregados. Como se não bastasse, o marido sofre de "stress pós-guerra", uma violência agravada pela falta de dinheiro. A reforma de 250 euros do companheiro não chega. Marília diz que os alimentos são, também, para os filhos, "com isto consigo reunir a família à mesa uma vez por semana".
Mais abatida, Maria Adelaide, 53 anos, revela que se não fosse a ajuda das Florinhas do Vouga "haveria mais dias de fome em casa", no Bairro de Santiago, onde vive com dois filhos e uma neta. Está desempregada há quatro meses e ainda não conseguiu obter o Rendimento Social de Inserção.
Marta Soares, 38 anos, tem quatro filhos. Mora igualmente em Santiago e ficou sem emprego numa gasolineira, onde trabalha o marido. Os 450 euros que este ganha não chega porque um terço vai para pagar uma dívida. "Esta mercearia não dá para muito tempo mas é suficiente para que durante vários dias a única comida em casa não seja apenas sopa", conta.
Os vizinhos de Santiago não podem resolver o principal problema de Encarnação Oliveira, 47 anos, desempregada, mãe de um deficiente de 26 anos. Cerca de 400 dos 600 euros que o marido ganha como motorista vão para as despesas fixas do filho. O resto é para sobreviver com a ajuda das Florinhas. Não pode comprar o "carrinho adaptado" para o jovem, que custa 600 euros. Encarnação diz que já pediu ajuda à Segurança Social e a outras instituições mas sem sucesso.
Fonte: Jornal de Notícias
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