OPINIÃO

A mensagem e o mensageiro

Uma mensagem vale, essencialmente, pelo seu conteúdo, mas o seu impacto depende de factores que o ultrapassam. A forma ou o estilo são dois desses factores. Há mensagens em que o conteúdo se perde no“ruído” que as envolve. Falta-lhes ordem, rigor, clareza. Outras há em que a substância se perde na preocupação da forma.

Isto é válido para as mensagens escritas, destinadas prioritariamente à leitura individual, mas vale, sobretudo paras as mensagens orais, destinadas a auditórios mais ou menos numerosos. E aqui, bem se pode dizer que o factor mais decisivo no impacto da mensagem é, claramente, o seu autor. Não apenas por razões objectivas respeitantes ao conteúdo e à forma, mas quase sempre por razões subjectivas, que nascem do grau de confiança e de afecto que os destinatários manifestam relativamente ao mensageiro. É sempre muito mais fácil aceitar a mensagem de alguém de quem se gosta. Aceitar, e até mesmo descobrir nessa mensagem virtudes e novidades que podem não ser originais.

Vem isto a propósito do presidente Barak Obama e do já célebre discurso que ele proferiu em Acra, a capital do Gana, no dia grande da sua deslocação àquele que foi o primeiro país subsariano independente. Perante uma multidão de africanos entusiasmados, ele comprovou tudo quanto se tem dito acerca do seu poder de retórica e da sua capacidade de fazer passar com êxito o discurso adequado a cada momento. Recebido e aclamado como se de um herói nacional se tratasse, estavam criadas condições para a receptividade total da uma mensagem que dificilmente poderia ter o mesmo eco, se fosse transmitida por outro.

Que Obama tenha afirmado que “ o futuro do continente depende dos africanos” não constituiu propriamente uma novidade no discurso dos políticos ocidentais, bem como a denúncia da corrupção de muitos dos governantes do continente. O presidente Sarkozi já o fizera numa deslocação a África.
Mesmo reconhecendo os pecados da colonização, o presidente americano teve a coragem de desafiar a multidão que o ouvia a não recorrer permanentemente ao argumento do colonialismo como bode expiatório dos problemas africanos. “Ninguém de boa fé poderá dizer que os problemas actuais no Zimbabue são culpa dos europeus, exemplificou, nem poderá afirmar que foram estes a inventar os meninos soldado que são regra em qualquer guerra civil africana”.

Apesar disso, o seu discurso foi intensamente aplaudido. Que outro líder ocidental o poderia ter pronunciado em plena visita a um estado africano? No caso de Obama, bem se pode dizer que o mensageiro pesa mais do que a substância da sua mensagem.

António José da Silva

 

Data de introdução: 2009-08-10



















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