Foram 32 dias sempre a correr, numa média de 55 a 65 quilómetros por dia, num total de quase 2000 quilómetros, que separam a localidade francesa de Romilly-sur-Seine de S. Bartolomeu do Rego, em Celorico de Basto. A proeza foi conseguida por Paulo da Mota, de 37 anos, um luso-descendente radicado em França que pretende angariar fundos para a construção de uma associação de solidariedade vocacionada para o trabalho com pessoas portadoras de trissomia 21.
Pai de um menino de seis anos portador dessa deficiência, o luso descendente não encontrou na comunidade onde vive respostas para lidar com o problema do filho. “Sou o presidente de uma associação que nasceu com o nascimento do meu filho, o Malo. Nasceu com trissomia 21 e como não encontrei respostas para ele a nível de centros de saúde ou de outras instituições onde vivemos, decidi criar uma associação que ajudasse estas crianças”, explica. A ideia consiste na criação de um centro médico-social com capacidade para 50 pessoas em Romilly-sur-Seine, onde vive a família, uma obra orçada em cerca de cinco milhões de euros. Em França, a iniciativa está a motivar muita gente e, segundo Paulo da Mota, estão mais de 300 pessoas envolvidas na construção do centro, com especial destaque para a comunidade portuguesa. “A grande particularidade consiste no facto de que as firmas portuguesas radicadas em França estão a dar materiais, a dar fundos e colocam os seus empregados à nossa disposição para construirmos o centro”, diz.
Para acelerar o processo e dar maior visibilidade à iniciativa, Paulo da Mota propôs-se correr de França a Portugal, vendendo cada quilómetro que separa a partida da meta por 10 euros. “Foram 32 dias sempre a correr, mas felizmente conseguimos vender os 2000 quilómetros e agora estamos a vender quilómetros bónus para angariar mais fundos. Já arrecadamos 23 mil euros e dentro em breve começaremos uma campanha de angariação de 4,5 milhões de pessoas que queiram dar um euro cada uma”. Os quilómetros bónus são vendidos através do sítio online (
www.quaidelapallee.fr).
A viagem começou a 15 de Julho e o corredor fez-se acompanhar por um amigo em bicicleta e por uma auto-caravana de apoio, onde seguiam outros cinco amigos que se revezavam na condução do veículo. Carlos Alves, de 55 anos, foi o ciclista que acompanhou Paulo ao longo do percurso. Natural de Chaves, está emigrado em França há mais de 50 anos e ajudou na concepção do percurso. “Somos amigos há muito tempo, eu conheço os pais dele e há mais de dois anos que planeámos esta viagem. Estou orgulhoso em ter participado nesta iniciativa”, diz. Quanto a complicações de percurso, ambos são unânimes ao afirmar que foi por terras espanholas que encontraram as maiores dificuldades, quer pelo trajecto muito montanhoso, quer pela chuva que caiu intensamente. Segundo Paulo da Mota, o percurso espanhol foi escolhido de forma a ser feito junto ao mar, “porque é mais fresco do que pelo interior de Espanha”.
Na chegada, a 15 de Agosto, a S. Bartolomeu do Rego, a família e os amigos marcaram presença. “Depois de tantos dias, são muitas emoções juntas ao chegar ao fim. Valeu a pena, não só pelo objectivo cumprido, mas também por ver tantas pessoas a ajudar-nos, solidárias com a nossa causa”, afirma o corredor. “O essencial desta iniciativa era chamar a atenção para o nosso projecto e estamos a conseguir, o que me deixa muito feliz”. “Pensei que era uma coisa impossível para ele fazer, mas conseguiu e eu estou muito contente. Não tenho palavras”, diz Ana Freitas, mãe do corredor. A mulher e os cinco filhos do casal também estavam à sua espera. Silvie da Mota disse ao Solidariedade estar “muito emocionada” pelo que o marido fez “pelo filho.
Texto e fotos: Milene Câmara
Data de introdução: 2009-09-17