Carvalhosa é uma das 16 freguesias que compõem o concelho de Paços de Ferreira, no Norte de Portugal. Com uma área de aproximadamente 6,5 km e com mais de 4500 habitantes, é a terceira freguesia do concelho em dimensão e importância, circunstância que se deve, em parte, a ser um prolongamento físico da freguesia sede, Paços de Ferreira. É uma povoação muito antiga cuja existência, segundo documentos medievais, se confunde com a fundação da nacionalidade. À data, séculos X a XII, pertencia às Terras de Sousa, entre os vales do Tâmega e Ferreira.
Actualmente, é uma das freguesias mais industrializadas do concelho e o local onde se situa o pavilhão da Associação Empresarial de Paços de Ferreira, onde se realiza anualmente a feira “Capital do Móvel”, sendo a indústria do mobiliário uma das principais empregadoras da região. Em Dezembro de 2004, Carvalhosa foi elevada à categoria de vila.
Nascido no seio da Paróquia de S. Tiago de Carvalhosa, o Centro Social e Paroquial de Carvalhosa tem desenvolvido um extenso trabalho junto da comunidade desde 1996, data da sua fundação. Inicialmente, a instituição surgiu para dar resposta a um grupo de idosos que se encontrava isolado, motivo de preocupação para um conjunto de paroquianos que deram corpo à instituição de solidariedade social. A primeira valência a surgir foi a de centro de convívio, destinada a três dezenas de utentes. Cedo a valência revelou-se insuficiente quer em número de pessoas, quer em termos de resposta social, uma vez que as necessidades eram maiores. “ À data da nossa constituição, existiam muito poucas instituições do género no concelho, havia um défice muito grande deste tipo de respostas sociais”, explica Ana Carneiro, directora técnica do Centro desde 2005.
Do centro de convívio avançaram para um centro de dia, uma vez que os utentes “já precisavam de um período mais alargado de tempo na instituição e de outro tipo de serviços”. Em Setembro de 2002 foi criada a valência de pré-escolar, com uma sala mista para os 3, 4 e 5 anos, com acordo para 20 crianças. “Refira-se que quase todas as valências nasceram das necessidades da comunidade e começaram a funcionar ainda sem acordos de cooperação, que só mais tarde foram estabelecidos com a Segurança Social”, explica a técnica. O pré-escolar sofreu um grande aumento, com a abertura de mais duas salas. “No ano lectivo de 2007/2008, face às inúmeras inscrições não só da freguesia, mas também de freguesias limítrofes, o centro social criou uma terceira sala de jardim-de-infância, passando assim a funcionar com três salas. Foi uma tentativa de dar resposta a todos os pedidos que nos chegam, o que não foi conseguido, uma vez que ainda ficaram muitas crianças em lista de espera”, diz Ana Carneiro.
Em 2004 começa a funcionar o apoio domiciliário e surge a valência de ATL, numa continuidade ao trabalho desenvolvido quer na área da infância, quer na área da terceira idade. O ATL, foi entretanto adaptado ao formato “de pontas”, com o prolongamento do horário escolar.
No que toca à terceira idade, a directora técnica e psicóloga da instituição alerta para a necessidade de responsabilização das famílias em relação aos seus idosos e afirma que os casos de solidão e isolamento são cada vez mais comuns. “Depois de passarem a frequentar o Centro, em muitos casos, toda a responsabilidade é depositada na instituição, apesar de nós tentarmos que a família participe e desenvolvemos actividades que fomentam esse envolvimento”, explica.
A participação na “Mostra de Trabalhos do Idosos do Vale do Sousa” é exemplo disso, cuja organização esteve, neste último ano, a cargo do Centro. Com 14 anos de existência, a mostra apresenta um conjunto de trabalhos manuais feitos pelos idosos das diferentes instituições participantes, que se reúnem uma vez por ano, numa espécie de feira aberta às famílias e comunidade. “Este ano, subordinamos os trabalhos ao tema «Música e Movimento» e desenvolvemos uma série de actividades alusivas, como aulas de dança, ioga”, explica a directora técnica. Durante três dias, no início do mês de Julho, receberam uma média de 400 idosos que vieram apresentar trabalhos e participar num concurso de dança também organizado pelo Centro da Carvalhosa.
Com 250 utentes e 22 funcionários, o centro funciona a poucos metros da Igreja Matriz, em instalações cedidas pela Paróquia, que, ao longo dos anos, foram sofrendo diversas obras de adaptação. Contudo, as novas normas exigidas pela Segurança Social para o funcionamento das instituições de solidariedade social impõem uma série de requisitos que o Centro não cumpre, o que pode até pôr em causa o seu funcionamento. “Estamos numa fase em que temos que requerer o licenciamento das instalações, uma vez que não cumprem os normativos exigidos pela Segurança Social. Temos um projecto já aprovado pela Câmara Municipal e pelas entidades parceiras, mas falta-nos o financiamento para poder avançar com as obras”, explica a responsável.
A instituição candidatou-se ao programa governamental POPH, ao abrigo do QREN e está a aguardar resposta. “Está em causa a nossa sobrevivência, porque se não houver financiamento, não podemos fazer obras e sem essas obras não conseguimos licenciar as instalações, segundo as normas da Segurança Social e, portanto, não podemos renovar os acordos de cooperação, a nossa fonte de receitas”. Ana Carneiro explica a necessidade cada vez mais evidente da renovação dos acordos de cooperação, uma vez que a instituição trabalha muito acima dos números previstos pelos mesmos, como por exemplo, na valência de apoio domiciliário, em que o acordo prevê 10 utentes e a instituição apoia cerca de 30. “Para nós é complicado dizer que não, porque nos vêm pedir ajuda e, cada vez mais, chegam-nos pessoas com imensas dificuldades, quer a precisar dos nossos serviços, quer a nível financeiro, em que não podem contribuir para ajudar a custear o serviço que lhes é prestado”.
A crise veio agravar ainda mais a situação, uma vez que as comparticipações dos utentes diminuíram e os atrasos nos pagamentos tornaram-se quase uma regra. “Aqui na freguesia e no concelho nota-se muito a situação de desemprego, principalmente a nível do atraso do pagamento das comparticipações e no valor das mesmas, que é cada vez mais baixo, tendo em conta a qualidade dos serviços prestados”, explica Pedro Monteiro, funcionário do Centro. “Para terem cá uma criança das 7h30 da manhã até às 19horas, com refeições, piscina, aulas de inglês, música, são cada vez mais os pais com dificuldades em pagar os 50 ou 60 euros mensais”, diz.
O novo projecto, para além da remodelação da instituição, contempla a implementação da valência de creche, uma resposta social “muito procurada no concelho”, segundo a directora técnica. Já foi investida uma verba avultada na concepção das novas instalações e a instituição estima que as obras venham a custar cerca de 300 mil euros. “Prestamos um serviço cada vez com mais dificuldades. Temos mais pessoas a recorrer aos nossos serviços e os nossos recursos são menores, uma vez que o poder de comparticipação dos utentes tem diminuído, não há possibilidade de alargar os acordos de cooperação e temos que nos governar com esta situação”, lamenta a técnica. A instituição tem empregue esforços para atingir o nível C exigido pela tutela para o seu funcionamento e encontra-se a implementar o sistema de gestão da qualidade.
Texto e fotos: Milene Câmara
Data de introdução: 2009-11-08