CENTRO SOCIAL E PAROQUIAL S.BENTO DO CORTIÇO, ESTREMOZ

20º Aniversário traz projecto de novo lar

É no coração do Alentejo que encontramos a freguesia de S. Bento do Cortiço, uma das 13 freguesias do concelho de Estremoz. Quem vem de fora, parece que recua no tempo perante a pacatez do lugar e os acessos difíceis. Com menos de mil habitantes, S. Bento do Cortiço padece do mal das pequenas aldeias do Alentejo: a desertificação. Com uma população vincadamente idosa, longe da cidade e dos serviços básicos de saúde, a necessidade de uma estrutura de apoio comunitário foi-se tornando num imperativo e Manuel Gabriel tomou a seu cargo esse desafio.

“Não tínhamos dinheiro, só a vontade de construir um centro de dia e eu tratei de arranjar um espaço. Falei com umas parentas e pedi para me doarem um terreno na sua propriedade”, lembra o actual vice-presidente do Centro Social e Paroquial de S. Bento do Cortiço. À época, Manuel Gabriel era paroquiano da Senhora da Saúde, em Évora, colaborador e até um dos cabouqueiros do Centro Social daquela Paróquia e quis fazer o mesmo na sua terra natal. O Pe. António Nabais, actual presidente, revela mais alguns pormenores dos primeiros tempos da instituição. “D. Maria dos Anjos Silveiro não apenas cedeu a casa que estava quase desabitada para a instalação do Centro provisório como também ofertou logo o terreno em frente para o futuro Centro de Dia, com a concordância de sua irmã, D. Antónia Rita e seu marido”, e explica que “nada pediram em troca, mas, a partir daí, a instituição cuidou deles na saúde e na doença até morrerem”.
As actividades começaram em 1989, mas só em 2000 é que foi inaugurado o centro de dia definitivo, com a presença de Rui Cunha, secretário de Estado Adjunto do Ministro do Trabalho e da Solidariedade, cuja construção teve comparticipação estatal. “D. António Rita, entretanto, vendeu ao Centro aquele edifício, os casões e a horta”, refere o presidente.

Para além do edificado foi necessário desenvolver outro trabalho, este no âmbito das mentalidades. “Foi preciso motivar as pessoas, pois de início ninguém queria vir para cá. Os filhos tinham vergonha que os pais viessem e foi difícil provar às pessoas que isto era para o seu bem-estar”, lembra Manuel Gabriel que andou de porta em porta a explicar às pessoas o que é que se estava ali a fazer. As mulheres foram as primeiras a frequentar o centro de dia e criaram uma forte dinâmica ao nível de trabalhos artesanais, especialmente, rendas, bordados e cestaria. “O artesanato deu visibilidade ao Centro e vinha gente de fora comprar as peças, o que nos permitia dar a conhecer o nosso trabalho interno”.

Com o tempo, a idade de admissão foi-se tornando cada vez mais elevada e as actividades mais difíceis de realizar. “Temos utentes cada vez mais velhinhos, com pouca mobilidade e que precisam de apoio para quase tudo, o que levou a que muitas das dinâmicas se fossem perdendo”, lamenta o Pe. António Nabais
O centro de convívio tornou-se num dos pólos de encontro de toda a freguesia. O bar e o auditório vieram tornar a instituição muito requisitada por outras colectividades para a realização de festas, o que também tem facilitado a integração da população idosa. “ Tentamos potenciar a interacção entre as crianças e os idosos. Os miúdos vêm de vez em quando fazer teatro e juntam-se todos em dias de festa. Vêm também grupos de fora que usam o nosso salão”, diz o presidente.

As respostas sociais

O Centro conta actualmente com centro de dia para 35 utentes e apoio domiciliário que beneficia 17 pessoas.
Em 2005, a instituição passou a dispor de ATL, num espaço cedido pela junta de freguesia local, e dá apoio a crianças entre os 6 e os 10 anos.
O lar, actualmente com capacidade para 8 utentes, foi construído através da adaptação do edifício primitivo do centro de dia. Mas a lista de espera é grande, mais de meia centena de pessoas, e a instituição já tem projecto para a construção de um novo equipamento. “O novo Lar é uma velha aspiração e terá capacidade para 30 utentes, o que dará resposta à enorme lista de espera, que integram pedidos da freguesia e de outras freguesias limítrofes”, refere o Pe. António Nabais. A obra está orçada em 2 milhões de euros e prevê um edifício com capacidade para 30 utentes, distribuídos por 20 quartos. “Temos crédito na banca, temos o terreno, temos vontade de fazer e estamos preparados para que quando o Governo abra novo programa de apoio possamos avançar com uma candidatura”.
No mês passado a instituição celebrou o seu 20.º aniversário. É a única IPSS de S. Bento do Cortiço e o maior empregador com quase duas dezenas de funcionários.

Texto e fotos: Milene Câmara

 

Data de introdução: 2010-01-08



















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