As crianças autistas de Viseu contam a partir deste mês com um novo amigo para as ajudar no seu desenvolvimento: Zico, um cavalo calmo, que num novo picadeiro lhes vai estimular as suas capacidades. A delegação de Viseu da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA) promove desde 1999 sessões de equitação terapêutica, mas atendendo ao grande encargo económico que representam para os pais, lançou este ano a campanha "Cavalo Novo", para que mais crianças possam delas beneficiar.
"Já tínhamos vários meninos a participarem na equitação terapêutica, mas havia casos em que, por dificuldades económicas ou dificuldades dos pais em os transportarem para o lugar da equitação (em Farminhão), não conseguiam participar", explicou a presidente da APPDA Viseu, Maria Prazeres Domingues.
Os números revelam que essas dificuldades são cada vez mais sentidas: ainda há pouco tempo havia 14 crianças a frequentar as sessões e agora apenas oito.
"É uma terapia que está a dar bons resultados com as crianças que nela participam já há anos e tínhamos pena que outras crianças não acedessem a ela", frisou.
Com poucos meios, a associação pediu ajuda e obteve logo resposta da empresa "Sem barreiras" (de material de reabilitação), que ofereceu o Zico.
"Foi seleccionado pelo nosso tratador, que andou pelos campos à procura de um cavalo calmo, que não se assustasse muito e que pudesse ser utilizado neste tipo de terapia", contou Maria Prazeres Domingues, que apela agora a outras ajudas para poder tratá-lo e sustentá-lo.
As actividades passam a realizar-se na Quinta de Ferronhe, em Vil de Souto, que disponibiliza o seu picadeiro, a box para o Zico e todo o espaço da quinta. Também o hospital de Viseu está a ajudar na campanha.
"O facto ser mais próximo da associação, de podermos com a carrinha ir buscar as crianças às salas onde estão e trazê-las aqui, de o hospital nos dispensar a terapeuta no horário de trabalho dela, com estes parceiros todos a funcionar penso que vai resultar", afirmou, optimista.
A "meta mais próxima" é conseguir fazer terapia com "pelo menos com 26 ou 27 crianças". Os custos de cada sessão passam a ser de "três/quatro euros", ao invés de "dez/doze euros".
A terapeuta ocupacional Isabel Pires, da Psiquiatria Infantil do hospital, não tem dúvidas dos benefícios.
"Com os meninos com autismo o que pretendemos muito é estimular a relação, a interacção social, connosco, com o cavalo, com todos os parceiros que estão envolvidos e a estimulação da comunicação", explicou, contando que "todos eles gostam bastante da actividade, participam, interagem e brincam".
Os familiares garantem que a hipoterapia, conjugada com outras terapias, tem dado resultados, que descrevem com orgulho.
"Já se interessa por algumas coisas que não se interessava. Já faz algumas perguntas um bocadinho mais elaboradas, que não fazia, já tem outro tipo de comportamento. Já olha para nós directamente, já se intrusa mais com os outros miúdos", contou Pedro Morujão, pai de Simão Pedro, de cinco anos, a fazer hipoterapia há um.
Eduardo Afonso, avô do Pedro Daniel, de oito anos, também fala de uma "evolução muito positiva no aspecto não só do conhecimento, como da afeição".
"Falávamos com ele e ele não respondia nada. Ficava alheio a quase tudo e agora falamos com ele, já nos responde a tudo, já faz algumas perguntas, já tem alguma conversa, que até aqui não tinha", referiu.
Fonte: Diário de Notícias
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