Oito jovens de Bragança estão a aprender a ser autónomos no âmbito de um projecto pioneiro a nível nacional que pretende dar resposta àqueles que permanecem institucionalizados depois de atingirem a maioridade. Desde Dezembro que estes jovens, que passaram a maior parte das suas vidas no Patronato de Bragança, estão a experimentar "uma injecção de liberdade e de responsabilidade" vivendo em dois apartamentos.
Continuam a depender da instituição mas passaram a viver autonomamente, recebendo uma "mesada" da Segurança Social de valor próximo do ordenado mínimo nacional. Carlos Serqueira é um dos contemplados e em apenas quatro meses já experimentou uma realidade comum a muitos portugueses, é que "nem sempre o dinheiro chega até ao fim do mês".
Todos estudam, no secundário e superior, e com a "mesada", além das despesas pessoais, têm de pagar a renda, água, luz e fazer as compras que se tem revelado a tarefa mais complicada, principalmente para responder aos gostos de todos.
Carlos e os colegas David, Fernando e Ricardo partilham um dos apartamentos e não fosse este projecto continuariam a viver na instituição que acolhe desde crianças a jovens adultos.
Segundo Hélder Sousa, coordenador do projecto, o jovem que saiu daquela instituição com mais idade tinha 24 anos. Se a lei fosse cumprida à letra, aos 18 anos este e outros jovens teriam de procurar por eles próprios uma alternativa de vida, já que o sistema de lar de infância e juventude só abrange utentes até aos 18 anos, segundo aquele responsável.
De acordo ainda com Hélder Sousa, o projecto que está a dar os primeiros passos em Bragança "surge de uma necessidade extrema" de dar resposta a estes jovens que as instituições vão mantendo, apesar de atingirem a maioridade, até encontrarem um rumo. "Mantêm-se lá, no entanto, é estar a impedir o crescimento destes jovens com as mesmas regras de outros mais novos, que não são as que estes precisam", disse.
Assim surgiu esta experiência piloto de incluir na resposta social do Estado um regime de semi autonomia concretizada num acordo entre o Patronato e a Segurança Social.
A experiência tem a duração de três anos e espera corresponder ao projecto de vida destes jovens, pelo menos até concluírem os estudos ou serem encaminhados para a vida activa.
Têm de cumprir regras e aquele que se afastar delas é excluído do projecto, sublinhou o gestor Hélder Sousa que funciona como uma espécie de vigilante que os acompanha.
Esta retaguarda é para o grupo "um colchão" que lhes dá alguma tranquilidade, porém, como contaram à Lusa, "não é tudo uma maravilha". A maior dificuldade advém de saber gerir o tempo para quem depois de viver tantos anos numa instituição com horários e disciplina tem agora de se adaptar a uma nova realidade.
Cada um deles vai sendo alternadamente o moderador da casa para que o grupo não falha as tarefas que vão desde a arrumação, passar a ferro, lavar a loiça a cozinhar.
Todos recordam o primeiro almoço juntos e é precisamente o momento das refeições o predilecto do grupo que compara o encontro à mesa a uma verdadeira reunião de família.
Data de introdução: 2010-04-09