A Igreja Católica portuguesa "sente-se provocada por certas situações que considera escandalosas", como a pobreza extrema gerada pelo desemprego, e rejeitou cortes nas prestações sociais aos mais carenciados. "Embora haja algumas tendências para ocultar, que há situações de vida que não são humanas", frisou o presidente CEP e arcebispo de Braga D. Jorge Ortiga, em entrevista à agência Lusa. Mesmo num quadro de contas públicas desarrumadas, D. Jorge Ortiga considerou que "não é oportuno" cortar nas prestações sociais, "particularmente as mais baixas", embora admitisse que se repensem alguns procedimentos, "não permitindo alguns oportunismos que podem estar a acontecer".
O prelado recordou a propósito que essa preocupação está na génese do encontro que a Igreja quis promover, a 13 de Maio, em Fátima, envolvendo organizações assistenciais e o próprio Bento XVI.
O também arcebispo de Braga destacou o caso dos portugueses que perderam o emprego, logo, a capacidade de pagar empréstimos contraídos, e "para quem a vida está muito complicada e nem sequer têm a coragem de dizer que necessitam" de ajuda.
O combate a estas situações é prioridade da obra social da Igreja Católica portuguesa "através da caridade organizada", devendo merecer a especial atenção dos católicos, assinalou D. Jorge Ortiga.
"As comunidades cristãs são convidadas a estar muito atentas, para individualizar estas situações, ter consciência delas, e, depois, encontrar respostas", afirmou.
Recusando comparar o relacionamento da Igreja portuguesa com o actual e com anteriores governos, com o argumento de que como arcebispo só trabalhou com o executivo socialista, D. Jorge Ortiga disse que tem procurado manter um diálogo "diálogo aberto, transparente e continuado".
A Concordata revista mas que ainda não entrou em vigor e o artigo 17 do Tratado de Lisboa sublinham esta ideia da colaboração, conforme enfatizou.
"Nós gostámos desse diálogo, tenho procurado manter esse diálogo, tenho procurado [junto das instâncias governamentais] manifestar aquilo que me parece mais oportuno para a Igreja e para os portugueses. Os resultados por vezes conseguem-se, por vezes, não", declarou.
D. Jorge Ortiga minimizou também as "feridas" deixadas na Igreja há 100 anos, aquando da implantação da República, nomeadamente as decorrentes da apropriação pelo Estado de bens religiosos, considerando que a Concordata de 1940 resolveu parte dos problemas criados pela lei da separação religiosa de 1911. Outros problemas esperam pelo pleno funcionamento de uma comissão bilateral.
Numa alusão ao republicanismo anticlerical que admite subsistir em Portugal, o prelado declarou: "Um dos pilares da República é a da liberdade. Se existe liberdade, todo e qualquer cidadão é livre de tomar as suas opções, num campo civil ou religioso".
Data de introdução: 2010-04-25