Na Fundação Eng. António de Almeida, no Porto, estiveram reunidos representantes de cerca de uma centena de fundações de todo o país para debater o papel destas organizações no desenvolvimento de uma sociedade inclusiva. O XI Encontro Nacional de Fundações decorreu nos dias 7 e 8 de Maio e serviu para trocar experiências sobre projectos de intervenção social.
De acordo com o secretário-geral do Centro Português de Fundações, Mário Santos, o objectivo do encontro foi debater com todas as fundações em conjunto “assuntos transversais a esta realidade e chegar a conclusões a partir das quais cada instituição possa incorporar conhecimento acrescido nos seus programas”.
A ministra do Trabalho e da Solidariedade Social, Helena André, marcou presença no encontro e na sessão de abertura defendeu que a redução da pobreza e da exclusão social não cabe apenas ao Estado, porque essa “seria a via para liquidarmos o nosso modelo social”. “Estamos perante desafios que implicam exercícios de direitos e assunção de deveres para todos, ninguém pode ficar de fora, sobretudo as pessoas mais directamente envolvidas”, frisou. Segundo Helena André, “erradicar a pobreza e atingir patamares mais justos e equitativos na distribuição da riqueza e na redução das desigualdades só será possível se partilharmos a utopia”. “Em Portugal temos de reconhecer que muito tem sido feito para reduzir os níveis de pobreza e de exclusão social, mas temos consciência que muito caminho existe para percorrer”, disse, sustentando que “a inclusão social continua a ter de estar no centro da nossa agenda”.
Apesar da situação de grave crise financeira vivida no país, a ministra defendeu que é necessário continuar “os reforços dos meios”, para que seja possível “introduzir princípios de justiça e de rigor que reforcem a coesão e a solidariedade”.
O conceito de utopia na erradicação da pobreza foi também abordado por Rui Vilar, presidente do Centro Português de Fundações, que o comparou à abolição da escravatura, “uma utopia que se tornou realidade”. “O mundo tem recursos para lidar com a pobreza. São produzidos bens alimentares suficientes para erradicar a fome, sendo apenas necessária uma distribuição mais racional e equitativa”, considerou. O presidente do Centro Português de Fundações diz também que já existe “conhecimento científico e tecnológico disponível”, que deve ser usado numa “lógica de mudança”. “Quando a dignidade humana está em risco não chega mitigar os problemas, é necessário atacar as suas causas”, disse na abertura dos trabalhos.
Rui Vilar entende ainda que é “na capacidade empreendedora e na auto-responsabilização, individual e colectiva, que residem os ingredientes necessários para a resolução dos problemas de desenvolvimento das sociedades”. O também presidente da Fundação Calouste Gulbenkian referiu ainda que Portugal é “um dos países da União Europeia que apresenta maior desigualdade na distribuição de rendimentos. A parcela auferida pela faixa dos 20 por cento da população com rendimentos mais elevados é mais de seis vezes superior à auferida pelos 20 por cento da população com rendimentos mais baixos”.
O problema da inclusão social e a melhor forma de o combater no actual contexto da crise económica foi o tema central da discussão deste encontro, organizado pelo Centro Português de Fundações (CPF), que agrupa 129 instituições, e pela Fundação Eng.º António de Almeida, anfitriã da iniciativa. Para além de diversos representantes destas organizações também participaram universidades, autarquias, outras organizações não governamentais e consulados. O encontro contou ainda com a presença do comissário europeu do Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão, László Andor, uma representante do European Foundation Centre e ainda duas fundações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Com um painel de oradores diversificados, um dos objectivos do encontro foi proporcionar a partilha de experiências do trabalho das fundações no terreno, e que vai de projectos tão alargados como, por exemplo, os desenvolvidos e dinamizados pela Calouste Gulbenkian (Orquestra Geração) ou pela Fundação Aga Khan Portugal (K Cidade), à participação em parcerias locais, como sucede com a instituição anfitriã. A Fundação Eng.º António de Almeida apoia projectos das escolas e da Junta de Freguesia de Ramalde, nomeadamente a formação de “parlamentos juvenis” para a formação cívica, ou, por exemplo, um curso de música com a participação de uma escola local que já levou à formação de uma orquestra.
Data de introdução: 2010-06-10