OPINIÃO

Férias

1 - A semana com que findou este mês de Julho trouxe-nos três notícias capazes de nos inflar o ego - que andava tão cabisbaixo e tão precisado de afagos desde que a Espanha nos eliminou com justiça do Campeonato do Mundo e que o PEC nos veio acordar da doce ilusão em que temos vivido.
Essas notícias foram as seguintes:
- a GALP aumentou os lucros, no primeiro semestre de 2010, em 90% - mais do dobro do previsto;
- a EDP teve, durante o mesmo semestre, os melhores resultados financeiros de sempre na história da Companhia;
- e a PT, com a venda da VIVO aos espanhóis da TELEFONICA, realizou o maior negócio do ano em todo o espaço da União Europeia.

Claro que o gasóleo e a gasolina aumentaram em 2010 o triplo do que aumentou o preço do petróleo em bruto – embora a Autoridade da Concorrência continue a não ver sinais de cartel das empresas de combustível.
Assim, qualquer aprendiz sabe fazer negócios e ter lucros.
Até eu, tão arredio de tentações empresariais.
Quanto à EDP, que faz concertos, com os artistas do regime, nas barragens que constrói e explora, para glorificar a água, já nos preveniu, pela voz da Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, que a barragem do Tua - independentemente da classificação patrimonial da linha de caminho de ferro que por essa barragem vai ser submersa e da correspondente protecção legal -, não deixará de se fazer.
Por sinistra coincidência, disse-o no mesmo dia em que o Governo inaugurou o Museu do Côa, construido em homenagem ao abandono da Barragem de Foz-Côa, porque António Guterres percebeu que as gravuras não sabiam nadar.
(Os comboios e os carris também não sabem, não é verdade?
Embora os carris às vezes voem, para o depósito de algum sucateiro amigo …)

Isto é, a EDP continua a mandar no País, não obstante ser agora uma empresa dita privada.
E manda em monopólio.
Assim, também eu …

2 –Fica o negócio da PT, com a venda da VIVO.
Ainda na crónica do mês passado me congratulava, nestas páginas, por o Governo ter vetado o negócio da venda da VIVO aos espanhóis.
O Governo tinha posto os interesses da Pátria antes da rendição à vil pecúnia e ao império de Bruxelas e do mercado – isto pensava eu, que já cá ando há tempo mais que bastante para ter perdido algumas ilusões e não devia já ser enganado por figurantes atrás do papel de cera -, afrontando a Europa e defendendo os interesses estratégicos de uma empresa portuguesa de referência – que passavam por manter a VIVO na PT –, inibindo a sofreguidão espanhola em deitar a mão a esse activo. (Acho que é assim que se chama, no jargão dos economistas …)

Bastou-me um mês para me cair mais essa ilusão … Obrigando-me a penitenciar-me hoje junto dos meus leitores, por, num momento de ingenuidade, me ter deixado enganar pela propaganda – que, como eu tinha obrigação de saber, é hoje a metonímia da política e que já muito raramente me leva à certa.
Logo no dia seguinte ao veto da golden share do Governo, já o Conselho de Administração da PT negociava com a TELEFONICA a continuação do negócio da VIVO, como se não tivesse havido veto.
(E fazia-o, evidentemente, em conúbio com o mesmo Governo, tão lesto em validar e saudar agora o mesmo negócio, como fora determinado em parecer vetá-lo um mês antes.

Passado esse escasso período, o negócio que não se podia fazer, por ser contra os interesses estratégicos da EDP – e, portanto, de Portugal – lá se fez como estava previsto, com uns ligeiros arranjos de cosmética.
Nem é possível que Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, sempre tão próximos e íntimos de José Sócrates – lembremo-nos da novela da compra da TVI pela PT e dos jantares em casa de Manuel Pinho, em que se falou mas não se falou do negócio – e tão de acordo com ele no veto pretérito, se atrevessem a continuar a negociar com a TELEFONICA, sem a autorização do Primeiro-Ministro, a venda que, embora decidida pela assembleia geral da PT, fora vetada pelo Governo e fora igualmente recusada pela Adminstração da PT.
Sucede que o negócio agora celebrado, com o aval do Governo, é mais ou menos o mesmo que fora recusado há um mês: 4,5%, ou seja, a subida do preço de 7.150.000 euros para 7.500.000 euros, é o escasso preço de passagem da recusa da hipoteca dos interesses nacionais para a aplaudida realização de um “óptimo negócio”.
A compra de uma pequena parte da OI é apenas um galhardete para aperfeiçoar o jogo de sombras em que toda esta história se enrola).

3 – Como, com grandes doses de convicção, nos advertem os CEO’S – nome americano com que os administradores das nossas maiores empresas nos explicam que o seu lugar deveria ser na Wall Street -, podemos ter orgulho no nível planetário das suas competências empresariais.
Pagam-se e premeiam-se de acordo com elas, como se sabe.
Quanto às remunerações das administrações, ninguém nos leva a palma.
Infelizmente, os resultados tão redondos e auspiciosos da exploração das maiores empresas nacionais – mesmo quando os seus resultados são manipulados, para justificarem maiores prémios aos que os manipulam - não têm o mesmo efeito retemperador nos salários dos seus trabalhadores.
Por essa razão, temos no topo salários de topo, mesmo pela bitola europeia.

Mas temos na base salários de base, na mesma bitola.
As remunerações dos administradores são das mais elevadas das Europa e do Mundo.
Mas os salários dos trabalhadores são os mais baixos.
As empresas, são, todavia, as mesmas.
Esperar-se–ia de uma política socialista que, ao fim de 6 anos de Governo, alguma coisa tivesse mudado na distribuição nacional do rendimento.

4 – Espanha, Espanha, Espanha – são as três prioridades da política externa portuguesa, definidas há 5 anos por José Sócrates.
Para lá vou indo, de férias …
Para a Galiza, como sempre – mais nosso parente do que de Castela.
Mas, ao contrário da VIVO, hei-de voltar.
Para o mês que vem.

Henrique Rodrigues – Presidente da Associação Ermesinde Cidade Aberta

 

Data de introdução: 2010-08-05



















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