Uma mão sobre a mão do outro, em silêncio, pode ser o suficiente. Mas o trabalho da Associação do Voluntariado do Hospital de S. João não se esgota aí. Nem de longe, nem de perto. Por semana, oferece 1500 pequenos-almoços nas consultas. E roupa e alcofas e...
“Recuso-me a fazer peditórios. Não faço”. Conceição Veloso é vice-presidente de um grupo de 320 pessoas vestidas de amarelo. Voluntários, constituídos em instituição privada de solidariedade social, com contabilidade organizada, que circulam diariamente pelos corredores do maior hospital da Região Norte. A estender a mão a quem precisa. E, “infelizmente”, são mais do que se poderia julgar.
Sem peditórios, os fundos dos voluntários vêm de donativos deixados no hospital, ou entregues à associação, e das receitas da cafetaria que montaram na zona das consultas externas. Onde trabalham voluntários. E é com esse dinheiro que conseguem, por exemplo, distribuir semanalmente “1500 a 1600 pequenos-almoços”, com os carrinhos com que animam os doentes à espera de vez. “Há gente que vem de longe e pode estar ali das sete da manhã até à tarde”.
Nos carrinhos, há 460 a 480 euros de bolachas tipo maria ou de água e sal por semana, 35 litros de leite por dia – este oferecido pelo hospital –, cevada e chá. Circulam também pelo serviço de sangue e pelo hospital de dia. E não, não servem apenas os doentes. Há os familiares deles. E até quem venha de fora do hospital, só para o café com leite. “Já tivemos um grupo de crianças de bairros próximos que vinham cá comer”, conta Conceição Veloso.
Depois há a roupa. Um empresa fornece fatos de treino “a preço simbólico” com que os voluntários vestem os doentes a quem tem que se cortar a roupa quando chegam à urgência. E para vestir os sem-abrigo. Há pijamas também. E há dinheiro para o táxi dos idosos que recebem alta para ir para lares. “Todas as semanas enchemos um armário de roupa”, dada pela Cruz Vermelha e pelos associados.
Fazem também por ter o armazém sempre pronto a apoiar recém-nascidos que precisem. Ainda há dias nasceram dois gémeos. Levaram enxoval, alcofa e um “ovo” de transporte. Porque a Associação desatou a telefonar para todos os associados até descobrir. Descobriu, inclusive, “uma caminha”. “Infelizmente há muita gente nessa situação. As assistentes sociais pedem-nos apoio”.
Ao lado de tudo isto, os voluntários mantêm um infantário para crianças à espera de consulta externa, com uma educadora do hospital e voluntárias que eram professoras. Direccionam os doentes nas urgências, das nove às 24, conduzem-nos pelos confins do edifício, ensinam-nos, em todos os serviços à excepção do de infecto-contagiosas, a fazer trabalhos manuais. Ajudam-nos a comer também, muitas vezes . A deslocar-se aos tratamentos. E a sorrir.
“O diálogo é fundamental. A mão sobre a mão do outro, em silêncio, já diz que há uma presença humana do outro lado”, acredita Conceição Veloso, que faz do voluntariado a vida dela há mais de 20 anos. Foi levada a conhecer o mundo triste dos hospitais por força da doença de familiares. “Vi que havia uma necessidade”. E conheceu a fundadora do voluntariado do S. João, Teresa Salgado.
Fonte: Jornal de Notícias
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