O padre Lino Maia levou "murros no estômago" aos jovens participantes da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide. O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) desfiou de forma serena os números da pobreza em Portugal. Números que para muitos dos presentes são uma realidade desconhecida: há cerca de dois milhões os pobres no país e, face ao flagelo, defendeu que ele seja encarado como um "desígnio nacional".
Vinte por cento da população portuguesa vive, revelou Lino Maia, com menos de 360 euros por mês. Ou seja, sobrevive no limiar da pobreza e se não houvesse subsídios de apoio aos mais carenciados, como o Rendimento Social de Inserção (RSI), "esse número poderia atingir os quatro milhões de pessoas". E o número de pobres, afirma, "aumenta significativamente de dia para dia".
O presidente da CNIS revelou também que existem cerca de 5100 instituições de solidariedade social sem fins lucrativos em Portugal. Elas "são responsáveis por 73,3 por cento do que se faz em acção social", servem 600 mil utentes directos e suas famílias e empregam cerca de 200 mil pessoas. "O que seria do país se estas instituições fechassem portas?", perguntou.
Lino Maia acha que "os subsídios só atenuam o problema" e defendeu que o combate à pobreza seja encarado como um desígnio nacional assente em quatro pilares: "apoio de facto à família, que não existe"; "clara aposta na educação a partir dos primeiros meses de vida"; "olhar para o meio físico onde as pessoas vivem acabando com os guetos" e fazer uma "grande aposta no empreendedorismo".
O RSI é, para Lino Maia, fundamental, mas acha que ele "não é suficiente para uma vida digna" e que "apenas atenua o problema". Defende que a sua entrega seja controlada, "não por razões economicistas, mas por justiça", mas acha que as pessoas devem ser efectivamente acompanhadas para poderem regressar à vida activa. O que conta com a sua oposição é a justificação obrigatória por Internet por parte dos mais desfavorecidos para obter subsídios. "Os que mais dificuldades têm são os que menos acesso têm à Internet". Para tal, sugere a ajuda das autarquias e instituições sociais.
De manhã, a aula da Universidade de Verão do PSD esteve a cargo do presidente do conselho de administração da Vodafone Portugal, António Carrapatoso. O gestor também levou números negros, mas sobre o estado da economia e das finanças em Portugal. Defendeu um "novo projecto político para o país", considerando que o PSD "está bem posicionado para o assumir", embora tenha afirmado "que o actual Governo também o pode assumir se essa for a sua vontade".
"Nós não podemos continuar na mesma situação dos últimos quinze a vinte anos, temos tido projectos políticos que têm feito poucas mudanças estruturais", afirmou, defendendo que esse novo projecto tem de contar com a participação dos portugueses.
Por Luciano Alvarez, Jornal Público (2 de Set. 2010)
Data de introdução: 2010-09-08