O Porto é reputada de segunda cidade do país, mas, no que toca aos salários, não passa do oitavo lugar. À sua frente estão Sines, Alcochete ou Castro Verde. No país, é em Oeiras que mais se ganha; os salários mais baixos são os de Freixo de Espada à Cinta.
Entre os dez concelhos com os salários mais baixos está um alentejano (Marvão) e outro do Centro (Góis); os restantes oito são do Norte. Já entre os dez com melhores salários encontram-se dois alentejanos (Sines e Castro Verde), a açoriana Vila do Porto, Vila Velha de Ródão, Centro, e quatro em torno da capital: Oeiras, Lisboa, Alcochete e Amadora. Em oitavo lugar, surge o Porto, de acordo com dados de 2008 (os mais recentes) do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social.
Entre "os mais" e "os menos", vai uma diferença significativa, sentida no terreno por Lino Maia. O responsável pela Confederação das Instituições de Solidariedade sente a "progressiva diminuição" do poder de compra das famílias nos últimos anos, em todo o país, e "ainda mais forte" no "Norte e nas Beiras". Com os preços a subirem ou a manterem-se, diz, o poder de compra está a baixar.
"Não tem sido dada atenção suficiente [às disparidades regionais], nem estão a ser tomadas medidas para as atenuar. Pelo contrário", diz Lino Maia, referindo-se "ao desvio de fundos para Lisboa, à concentração da Função Pública e das empresas que o investimento público potencia na capital". Pede, por isso, maior envolvimento das autarquias na gestão dos subsídios europeus, mais abertura de agentes como as universidades e que, "sem paixões, se reflicta sobre a regionalização".
Ainda que a crise não o facilite, políticas públicas como de educação e saúde deviam atentar nas regiões menos desenvolvidas, para ajudar a lá fixar população, acrescenta Eugénio Fonseca, presidente da Caritas. "Centros de saúde, escolas, jardins-de-infância são equipamentos sociais importantes, que devem ser mantidos e reforçados, mesmo que se revelem onerosos para o Estado", pensa.
Mas o Estado "pode pouco". Cabe à sociedade mudar "o modelo económico", que tem privilegiado sectores e geografias "na lógica do lucro" e dando "ao trabalho a dimensão de dignidade humana que merece". Diz Eugénio Fonseca: "Aprendamos com o caminho que nos trouxe até aqui".
De Freixo a Oeiras
A disparidade salarial espelha os desequilíbrios na produção de riqueza das regiões. No fundo da tabela está Freixo de Espada à Cinta, situado no mais profundo de Trás-os-Montes, encostado a Espanha. Em média, um trabalhador leva para casa 583 euros por mês. No outro extremo surge Oeiras, entre Lisboa (o segundo com melhores salários) e Cascais, com o salário médio de 1667 euros.
Entre um e outro, a diferença é de 1.084 euros. Sem emprego qualificado não há bons salários e a quase inexistência de empregadores de dimensão e valor acrescentado em Freixo de Espada à Cinta ajuda a explicar a disparidade face à mais sofisticada Oeiras, como se pode ler, ao lado.
Fonte: Jornal de Notícias
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