O coordenador do Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social diz que o número de pobres não vai diminuir nos próximos anos em Portugal. Em entrevista à TSF, Edmundo Martinho afirmou que as medidas de austeridade anunciadas pelo Governo vão prejudicar o trabalho pela redução das taxas de pobreza no País.
“Temos que esperar que, face a este conjunto de condições, aliado à manutenção previsível dos níveis de desemprego, naturalmente, não permitirá, ou, pelo menos, tornará muito mais difícil Portugal, e os outros países da União Europeia, que consigamos continuar este processo que vínhamos desenvolvendo com muito sucesso de redução significativa das taxas de pobreza em Portugal. E, portanto, eu penso que temos que ter a consciência de que estes próximos tempos serão tempos de travagem, certamente, desse processo regressivo das taxas de pobreza”, concretizou.
Questionado se espera um aumento das taxas de pobreza, respondeu que não e explicou: “Nós vamos ter que ser capazes, nomeadamente, nas pessoas que vão perdendo, por exemplo, o subsídio de desemprego, ou o subsídio especial de desemprego, de nos superarmos no que diz respeito à eficácia das nossas soluções. Isto significa encontrar eventualmente respostas novas, mas também significa utilizar melhor aquelas que temos.”
O presidente do Instituto da Segurança Social mostrou-se particularmente preocupado com a pobreza infantil e das pessoas com deficiência. No próximo Orçamento, o Governo pretende cortar em 25 por cento o valor do abono de família das pessoas com mais baixo rendimento, e há outras que perdem mesmo o direito ao apoio.
Edmundo Martinho receia o impacto destas medidas nas famílias mais carenciadas. “O Orçamento do Estado ainda não foi apresentado e, portanto, ainda não temos todos os detalhes, mas eu diria que tem que haver aqui um olhar muito particular para a situação das crianças e das famílias com crianças, principalmente as famílias com baixos rendimentos. Embora não tenham sido afectadas no que diz respeito ao abono de família, por exemplo, há aqui um regresso à situação que tínhamos antes, ou seja, vai ser anulada a majoração dos abonos de família dos escalões mais baixos, que, naturalmente, pode vir a ter algum impacto na vida destas famílias”, defendeu.
O último inquérito às condições de vida e de rendimento, publicado em Julho pelo Instituto Nacional de Estatística, mostra que 18 por cento dos portugueses viviam há dois anos abaixo do limiar da pobreza. Um número que mais do que duplica nas famílias com mais filhos.
Fonte: Público
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