AVEIRO

Pobreza aumenta na periferia das cidades

É na periferia das cidades da região de Aveiro que a pobreza mais tem aumentado no último ano. José Alves, presidente da Cáritas Diocesana de Aveiro, revelou, ao JN, que "em 2010, houve um aumento muito significativo de casos ao redor das cidades".

A freguesia de Beduído, Estarreja, é o caso mais preocupante. Seguem-se Albergaria e as localidades de Troviscal e Palhaça, no município de Oliveira do Bairro". Na cidade de Aveiro, capital do distrito, o aumento não tem sido tão expressivo, contudo, a sede da Cáritas regista "dois mil casos assinalados", desabafa o diácono. Regra geral, "são mais a pedir e a pedir em maior quantidade" mas os donativos, que permitem fazer face aos problemas, têm "diminuído". Na origem do aumento dos necessitados, justifica a Càritas, estão os novos desempregados e os baixos salários.

Dar rosto aos números não é fácil mas, Maria Salgado, de Estarreja, assume as dificuldades diárias. Divorciada, depois de anos de maus tratos, não consegue que os 500 euros do salário e os trocos extra amealhados nas limpezas estiquem o suficiente para pagar o apartamento, escola de dois filhos menores, roupas e alimentação. "Antes vivia com a ajuda dos meus pais. O ano passado recorri à Cáritas. Eles dão-me alimentos e vou pedindo também roupa a colegas de trabalho e amigos", conta. As rugas vincadas no rosto demonstram uma vida de preocupações e provações que "às vezes faz chorar". "Privo-me de certas coisas que não são essenciais. Pode parecer insignificante mas custa muito quando os miúdos pedem umas bolachinhas ou um leite achocolatado e não lhes posso dar". No discurso não se nota resignação ou vergonha. "Eu peço o essencial, não tenho vergonha, não roubo", diz, contento as lágrimas e agradecendo as ofertas que recebe.

Na mesma fila para receber alimentos da Cáritas Paroquial de Beduído, Estarreja, estava Cremilde Cabilhas, meio ano de vida passado e "muitas doenças em cima do corpo". "Passo muitas dificuldades e estou cansada de pedir ajuda à Segurança Social para pagar medicamentos, porque tenho uma doença crónica, mas nada", começa por dizer ao Jornal de Notícias.

Em casa de Cremilde entra apenas o salário do marido, serralheiro, que "não chega para tudo", suspira, enquanto arruma em cima da motorizada os alimentos que irão encher o estômago nos próximos dias.

César Sá, responsável daquele grupo de ajuda estarrejense, tem as mãos cheias de casos similares: 65 famílias ao todo. Ou melhor, 66, porque, no dia da reportagem do JN, mais uma família foi "bater à porta" da Cáritas. "No último ano os pedidos de ajuda têm aumentado muito". Só não são mais porque "em Estarreja há três instituições de ajuda e os registos da Segurança Social filtram e evitam que as pessoas estejam a receber alimentos de vários lados em simultâneo, para que não haja desperdícios ou duplicações", explica.

No ano que se avizinha, César Sá prevê que "a pobreza aumente ainda mais, devido à diminuição de benefícios e comparticipações nos medicamentos". Motivo que não pode servir para desanimar mas antes para arregaçar ainda mais as mangas e trabalhar. A solidariedade tem destas coisas.

Fonte: Jornal de Notícias



 

Data de introdução: 2011-01-06



















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