Situado no coração de Lisboa, o Centro Social e Paroquial de S. Jorge de Arroios, freguesia que lhe empresta o nome, nasceu formalmente em 1985, mas a história é anterior e remonta à década de 50.
Nessa altura, a população da freguesia era bastante homogénea, com incidência na classe baixa, caracterizada por famílias numerosas e com dificuldades económicas. Moravam em casas antigas, que ainda hoje compõem o cenário de Arroios. Fome e pobreza eram comuns e a Igreja começou a distribuir a sopa dos pobres.
José de Freitas era o pároco da freguesia e rapidamente percebeu a necessidade de encontrar um local com condições dignas para confeccionar as refeições e distribuí-las. A Casa do Prior foi o sítio escolhido e o trabalho solidário continuou a crescer com a construção de balneários públicos e, mais tarde, com a abertura de um espaço designado por “Casa de Santa Maria”, que acolhia órfãs.
Com a construção de uma nova igreja, em 1976, a comunidade alargou o apoio aos idosos, mas os pedidos de ajuda não paravam de crescer e foi necessário encontrar um espaço próprio para desenvolver toda a actividade de cariz solidário. É assim que em 1985 nasce o Centro, que funcionava apenas com voluntários.
Pedro Cardoso é director desde 2003 e, em entrevista ao Solidariedade, elegeu a terceira idade como a área principal de intervenção da IPSS. Sem esquecer o passado, os novos tempos trouxeram novas exigências e o assistente social destaca o serviço de apoio domiciliário como a grande bandeira da instituição.
“Queremos que o lar não seja a primeira e única resposta ao alcance dos idosos e das respectivas famílias, por isso o nosso apoio domiciliário transformou-se numa resposta não tipificada e que está adaptada às necessidades de cada utente”, explica. O serviço de ao domicílio funciona sete dias por semana em três turnos distintos, o último dos quais até à meia-noite. Contudo, o Centro passou a disponibilizar recentemente um serviço de 24 horas por dia. “É um tipo de serviço que as pessoas contratualizam connosco e que lhes dá a possibilidade de escolha se vão para um lar ou se ficam em casa”.
O serviço não tem acordo com a Segurança Social e um utente nestas condições custa à instituição 2230 euros, em vez de 743 euros, custo correspondente a oito horas de serviço. “Hoje, as famílias não têm possibilidade de cuidar dos seus idosos, correm contra o tempo, têm os seus filhos e torna-se muito complicado e, às vezes, por uma questão de segurança, optam por colocá-los num lar e se esta resposta social for potenciada é, seguramente, uma alternativa à institucionalização”, sublinha o técnico.
Pedro Cardoso refere como exemplo o período de férias de Verão, em que o Centro sentiu um aumento dos pedidos para o apoio domiciliário 24 horas por dia. Para complementar a valência foram criados os serviços de engomadoria e de limpeza doméstica e estão a decorrer negociações com um mecenas para o fornecimento de um serviço de tele-alarme, de forma a manter o utente mais próximo da instituição e transmitir-lhe um sentimento de maior segurança. “Esta é uma freguesia em que muitos dos idosos vivem completamente sozinhos e em quartos alugados. Temos uma média de idades de 82 anos, logo, estas são áreas que têm que ser desenvolvidas e aperfeiçoadas para corresponder àquilo que são, de facto, as necessidades das pessoas”.
A instituição também oferece à população a resposta de centro de dia, cujo horário está a ser alargado para os sábados. Mas também aqui, a intenção é alterar o conceito tradicional de ocupação para um centro de promoção da autonomia, que inclui cuidados de saúde, por exemplo, em áreas como a fisioterapia ou a terapia da fala. “Queremos prevenir aquilo que são as dependências das pessoas e este modelo está desadequado”, conclui Pedro Cardoso. O técnico vai mais longe e afirma que há uma falta de visão da tutela neste sector. “Em Portugal temos respostas de promoção à dependência e está instalada uma visão muito pouco integrada da pessoa idosa”. Apesar disso, o assistente social acredita que o Governo poderá vir a comparticipar o apoio domiciliário 24 horas, pois isso iria permitir diminuir a afluência aos lares. “Passa também pelas instituições de solidariedade, que estão no terreno, apontar caminhos e mostrar novas formas de intervir, é isso que se entende por parceria e nós somos parceiros do Estado”.
A instituição tenta igualmente combater alguns estigmas sociais sobre a população idosa. “A sociedade tem tendência a infantilizar o idoso ou então a vê-lo como um inútil e essa imagem tem que ser contrariada”. Pedro Cardoso explica que o Centro avançou na área do voluntariado sénior e tem vários voluntários, muitos deles utentes do centro de dia, a desenvolver actividades em hospitais e escolas.
As exigências de contexto levaram em 2009 à criação do Gabinete de Apoio às Famílias (GAF), actual Centro Comunitário Madre Teresa, que ajuda a resolver várias questões de gestão familiar, sobretudo no campo do endividamento. Apesar de continuar sem acordo de cooperação, o centro comunitário presta apoio a 72 famílias, que correspondem a mais de duas centenas de pessoas. “Ajudamos a traçar um plano de desenvolvimento individual para atacar as causas da situação que obrigaram a família a procurar ajuda e esse plano deve ser cumprido, pois os critérios são muito rigorosos para beneficiar desta ajuda”, explica Pedro Cardoso. Para além de trabalharem as questões do sobreendividamento, também actuam na área da saúde, disponibilizam ajuda psicológica, jurídica e tentam colmatar as necessidades básicas de alimentação. Com o agudizar da crise económica que o país atravessa, o Centro, em articulação com a paróquia, criou um peditório mensal de forma a constituir um fundo para auxiliar as famílias a pagar as contas da água, da luz ou da renda.
O trabalho com os sem-abrigo da zona também tem adquirido uma dimensão considerável dentro da instituição. Equipas seleccionadas saem três dias por semana à rua para levar uma palavra amiga a quem dorme ao relento. “Não entregamos comida ou cobertores, fazemos uma aproximação às pessoas, criamos relação e conversamos com elas. O objectivo é confrontar a pessoa com ela própria e criar no seu seio o desejo de deixar aquela condição”.
O director faz questão de referir que para já, estatisticamente, o trabalho não assume grande relevância, mas as histórias pessoais de sucesso mantêm acesso o desejo de continuar. “Conhecemos um senhor que tinha graves problemas com álcool e vivia há muitos anos na rua e conseguimos fazer com que deixasse aquela vida. Primeiro fez uma aproximação ao Centro: vinha cá, tomava banho, almoçava e, depois, começou a desenvolver algumas tarefas e acabou por deixar a rua”.
Para ajudar a estabelecer relação com a população sem-abrigo, o Centro Social, em colaboração com a paróquia, promove mensalmente um almoço solidário frequentado por meia centena de pessoas. “Damos a refeição, estão cá os Médicos do Mundo para fazer os rastreios de saúde e, durante a tarde, fazemos uma actividade de sensibilização para as saídas à rua e essa abordagem tem resultado nalguns casos de sucesso.
Com 40 funcionários, o Centro procura permanentemente novas formas de “inventar” capacidade financeira para fazer face aos desafios. “Há que haver abertura das instituições para o risco e o entendimento de que existimos para servir as pessoas e isso tem que ser encarado como uma missão, não podemos depender exclusivamente dos acordos com a tutela”, sublinha o responsável.
Futuramente, sem no entanto querer adiantar prazos, Pedro Cardoso diz que a instituição gostava de abrir um centro de acolhimento para os sem-abrigo e já foram desencadeados esforços nesse sentido, nomeadamente junto da Câmara de Lisboa para a cedência de um espaço.
Texto e fotos: Milene Câmara
Data de introdução: 2011-01-16