Ainda há dois meses ninguém era capaz de prever os acontecimentos que se vêm desenrolando no mundo árabe; nem esses acontecimentos, nem a velocidade que os caracterizou. Tratou-se de uma vaga inesperada que, além de inesparada, não encontrou, no seu caminho, obstáculos que a detivessem. É certo que a força dessa vaga não foi idêntica em todos os países por ela atingidos, mas pode dizer-se que o seu impacto chegou praticamente a todo o mundo árabe. Não foi a revolução de um país. Foi o movimento, simultâneo e libertador, de todo um povo.
Mesmo que o neguem agora, a maioria dos analistas e politólogos foram apanhados de surpresa. A situação social e política da Tunísia, do Egipto, do Bahrein, do Iémen, da a Jordânia e, por último, da Líbia, não parecia suficientemente degradada para justificar o perigo de uma qualquer ruptura dramática. Os seus regimes e governos não enfrentavam, pelo menos aparentemente, qualquer ameaça próxima.
É verdade que uma grande parte dos habitantes desses países sofria os efeitos de um sistema social injusto, porque nem todos usufruíam igualmente dos benefícios da riqueza petrolífera, mas não se pode dizer que as suas condições económicas fossem suficientemente graves para justificar uma revolução.
É verdade que a democracia estava longe de ser a característica fundamental dos regimes políticos desses países, mas a democracia, pelo menos a democracia de tipo ocidental, nunca foi, pelo menos aparentemente, o sonho e a reivindicação primeira dos árabes, habituados historicamente a viver num sistema de tipo feudal.
No entanto, manda a verdade dizer que, que sem uma base democrática, qualquer regime tende a violar os direitos humanos e a cair na opressão, e foi isso que sucedeu, com mais ou menos intensidade, em quase todos estes países.
Daí que os gritos pela liberdade e contra a ditadura se fizessem ouvir nas grandes praças onde os militantes da revolução se reuniam para afirmar a força do seu levantamento. Mesmo com a certeza de que muitos deles falavam com o objectivo de garantir o apoio internacional para a sua causa. O facto é que os gritos pela liberdade e pelo fim da autocracia ou da ditadura acabou, pelo menos em alguns casos, por ter eco, dentro e fora do país., mesmo que o caso da Líbia esteja ainda por resolver. Mas, aconteça o que acontecer no futuro, pode dizer-se que este foi - ou está a ser - um movimento triunfante, aparentemente contra todas as expectativas.
Ora a grande explicação para este resultado está naquilo que podemos chamar a força da Sociedade de Informação Já o fim do Império Soviético tinha demonstrado esta força. Agora, são, ou parecem ser, as mudanças no mundo árabe.
António José da Silva
Data de introdução: 2011-03-14