TRABALHO

Assédio moral tem-se agravado com transformações laborais

Não há estatísticas, porque as pessoas não as denunciam, mas as situações de assédio moral têm-se agravado, afectando homens e mulheres, velhos e novos, realça a socióloga Luísa Veloso. Não sendo um problema social "novo", o assédio moral tem vindo a adquirir "uma expressão maciça", potenciada pelas mudanças nas economias e nos mercados de trabalho, explica a investigadora no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, que, em conjunto com Luísa Oliveira, também socióloga e investigadora na mesma instituição, escreve sobre o assédio moral no livro "Portugal Invisível" (ed. Mundos Sociais), recentemente lançado.

O assédio moral engloba "situações várias", que não são recentes nas sociedades contemporâneas, mas "que se têm vindo a agravar", em que se verifica uma "infernização do quotidiano das pessoas", no local de trabalho, por parte dos superiores hierárquicos ou dos próprios colegas, resume Luísa Veloso.

As pessoas passam a ter de "desempenhar funções para as quais não estão preparadas" ou a "trabalhar muito mais horas do que é suposto" ou a serem forçadas a assumir mais responsabilidades ou exigências, enumera. Casos destes, alerta, estão por todo o lado, nas empresas privadas ou nos organismos do Estado e incidem quer sobre "quem fica e permanece no activo, a trabalhar", quer sobre os trabalhadores que os patrões querem dispensar
recorrendo a um "processo silencioso" que passe por cima dos direitos sociais adquiridos.

Todas são "situações muito perturbadoras", que configuram "um atentado à dignidade humana", e "muito prejudiciais à própria saúde das pessoas", quer mental quer física, pois resultam, frequentemente, noutras doenças, refere Luísa Veloso. "O valor económico deste problema -- escrevem as investigadoras no artigo -- não é despiciendo se atendermos aos gastos das empresas e do Estado, tendo em conta que se trata de um problema de saúde pública", o
que "impõe uma reflexão pública".

Pode chegar-se ao ponto de "a pessoa chegar para trabalhar e não ter nada na sua secretária", exemplifica Luísa Veloso, recordando que das três vítimas de assédio moral entrevistadas para o trabalho de investigação realizado uma "até chorou". "É um poço sem fundo", resume.

Uma psiquiatra e um advogado colaboraram no estudo retratando todos os casos "absolutamente dramáticos" que lhes chegam às mãos. Foi difícil convencer as vítimas a partilharem as suas experiências, porque "as pessoas não denunciam, há uma vergonha social muito grande" e, por outro lado, "nem sempre têm consciência do estado em que se encontram", justifica Luísa Veloso. Faltam estatísticas e muitas vezes estes casos são assinalados como depressão, por exemplo, não se estabelecendo as causas sociais do problema.

O assédio moral afecta tanto homens como mulheres e não escolhe idades. "As pessoas na faixa dos 45-50 anos são muito objecto de chantagem para saírem", enquanto os jovens fazem "uma aceitação tácita de determinadas condições": "trabalhar muitas horas por dia" ou ser "insultado ou humilhado publicamente por parte do superior hierárquico em frente aos colegas", descreve Luísa Veloso. "O mercado de trabalho mudou muito" e hoje existe "muita insegurança"
e "muitos jovens, e mesmo pessoas mais velhas, que já têm compromissos materiais -- endividamentos com a banca -- e que têm as suas famílias, aceitam situações que muitos de nós nem sequer sonham que existem".

 

Data de introdução: 2011-03-20



















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