1. Importa ter presente que não há realização de vida sem liberdade, sem igualdade de oportunidades, sem respeito integral pela identidade e pelas diferenças de cada pessoa humana.
A generosidade é um valor responsabilizante que exige uma acção dinâmica e pró-activa face aos demais. A generosidade está na base e justifica o voluntariado, numa lógica de compromisso social.
O Sector Solidário assume uma visão positiva e avançada da sociedade assente em valores essenciais concretizados através de princípios básicos.
Esta visão permite que as Instituições de Solidariedade assumam e desenvolvam os valores da comunidade à semelhança da família: uma família generosa que se preocupa e responsabiliza pelo bem comum de todos os seus membros.
Através das suas Instituições presentes em todo o território nacional, desde os meios mais urbanos aos mais rurais e isolados, o Sector Solidário desempenha um papel insubstituível para o equilíbrio socioeconómico e para o bem-estar comum das populações.
São as Instituições do Sector Solidário que assumem uma responsabilidade relevante pela maioria das crianças portuguesas em cada comunidade, contribuindo desde tenra idade para a sua formação e educação. Este papel é um serviço de cooperação com a comunidade que exige a confiança dos pais e dos membros dos sectores estatais e privados.
São as Instituições do Sector Solidário que assumem a responsabilidade de cuidar das pessoas mais frágeis da comunidade, nomeadamente os mais idosos, aqueles que apresentam alguma deficiência, os sem-abrigo e aqueles que as sucessivas flutuações de condições atiraram para alguma forma desestruturada de vida.
São as Instituições que encontram respostas para as diversas situações dramáticas causadoras de exclusão social, de miséria, de pobreza e de desequilíbrios morais, psíquicos e físicos.
Quando nos responsabilizamos e nos preocupamos com os outros, queremos ajudá-los na sua realização de vida e queremos protegê-los dos perigos. Pretendemos que realizem os seus sonhos e pugnamos para que sejam tratados com justiça.
2. Para desempenhar a sua missão com eficácia e eficiência, na estrutura que as individualiza, as Instituições do Sector Solidário têm princípios essenciais, tais como:
- O compromisso cúmplice com a comunidade onde existem e interagem;
- A primazia racional da ética inspiradora de todas as acções e comportamentos, tanto em termos de cultura organizacional interna como em termos externos;
- O reconhecimento de que são as pessoas a razão de ser de cada Instituição, de que são aqueles que na comunidade necessitam dos serviços e acções desta;
- A fundamentação das opções e das acções em dados objectivos e rigorosos;
- A responsabilidade de assumir uma gestão exemplar dos recursos e acções da própria Instituição, numa óptica de atingir os resultados pretendidos com os menores custos possíveis;
- O tratamento equitativo e justo que exige que cada um seja tratado de acordo com aquilo que é, como pessoa e não segundo critérios de origem social, educacional, económica ou outros;
- O respeito pela diversidade e identidade de cada membro da comunidade e da própria Instituição;
- A perspectiva que o sector solidário dá prioridade aos mais necessitados e mais frágeis da sociedade.
- A assumpção da qualidade como um desafio, um caminho, um processo na rota da melhoria contínua tendo como objectivo a excelência;
3. Os tempos que correm no mundo ocidental não são propriamente tempos de reescrever a história, mas talvez sejam tempos da sua releitura. São tempos muito difíceis. São tempos de um certo retrocesso e de agravamento das dificuldades. O mais certo é que, muito provavelmente, serão tempos sem retorno.
Também em Portugal as dificuldades são cada vez mais dolorosas.
O triunfo conjuntural de determinados valores contrários a uma visão solidária, como, por exemplo, o individualismo, o egoísmo, o isolamento social, o “salve-se quem puder”, entre outros.
A falta de trabalho ou de emprego é um problema muito grave, potenciador de situações de exclusão social.
A redução dos mecanismos de apoio social do Estado agrava a situação dos sectores mais vulneráveis das comunidades.
A onda de pessimismo e negativismo que percorre a opinião pública gera um clima de desânimo e de medo do futuro, que pode desmobilizar as vontades mais generosas.
A tendência é de continuarem a aumentar as situações de pobreza.
Impõe-se enfrentar os riscos que a situação de crise provoca, numa lógica de encarar a crise também como uma oportunidade para disseminar os valores e as boas práticas do Sector Solidário.
Lino Maia, Presidente da CNIS
Data de introdução: 2011-06-01