São 126 anos ao serviço da comunidade de Santo Tirso, de início exclusivamente na área da saúde, mas cuja missão obrigou a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia a alargar a sua acção à área social.
Respeito pela dignidade humana, ética, responsabilidade e competência profissional, humanização dos serviços prestados, idoneidade, isenção, rigor, sustentabilidade, criatividade, inovação e qualidade são palavras-chave da cartilha dos irmãos da Misericórdia de Santo Tirso, que nasceu em 1885 com o intuito de recuperar para o concelho a Casa de Saúde fundada uns anos antes e que, por circunstâncias várias, fundamentalmente financeiras, tinha entretanto cessado actividade.
Desde então, a Misericórdia de Santo Tirso tem crescido paulatinamente, procurando dar resposta às necessidades de comunidade e isso tem levado a instituição a diversificar as valências, não se ficando apenas pela área da saúde, abrangendo um número, cada vez maior, de utentes/clientes.
“Faço um balanço altamente positivo da actividade da Misericórdia. A instituição fez 126 anos e durante muitos anos limitou-se à área da saúde, com o hospital e depois com o chamado Asilo, que tinha para as pessoas de idade e sem recursos”, sublinha o provedor Alberto Machado Ferreira, recordando a época em que a evolução da Misericórdia foi exponencial: “Nos anos 1980 tivemos o grande boom, sendo que hoje temos 12 valências e todas com certa dimensão”.
A grandeza e importância da Misericórdia de Santo Tirso medem-se igualmente pelo número de utentes que diariamente usufruem dos equipamentos, serviços e apoio: cerca de duas mil pessoas.
“Por outro lado, actualmente temos 320 funcionários, o que demonstra que é uma instituição com peso e grande relevo no tecido social. Nos dias de hoje, a Misericórdia de Santo Tirso deve ser o segundo ou terceiro empregador do concelho. Sem a Misericórdia, ninguém morreria, mas que faria muita falta aos tirsenses não tenho dúvida absolutamente nenhuma”, ressalva o provedor.
SERVIÇOS DE SAÚDE ABRANGENTES
Com o crescimento e diversificação, tem havido uma certa perda do peso da área da saúde na actividade da instituição.
“Tende a diluir, porque nos últimos anos crescemos muito na área social, mas na saúde também, pois continuamos a investir nessa área, como aconteceu com os Cuidados Continuados”, explica Alberto Machado Ferreira.
Foi em Novembro de 2010 que a Misericórdia de Santo Tirso inaugurou o seu mais recente equipamento, a Unidade de Cuidados Continuados, que integra a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) e é uma estrutura que, servindo de retaguarda aos hospitais, pretende dar continuidade aos cuidados de saúde e apoio social prestados a pessoas em situação de dependência, com falta ou perda de autonomia.
A valência, que dá prioridade aos cuidados de média e longa duração, tem capacidade para 30 camas e está localizada junto ao núcleo clínico da instituição, formado por três clínicas: de Fisiatria, de Hemodiálise e de Imagiologia.
A Clínica de Medicina Física e de Reabilitação é a mais antiga e entrou em funcionamento no ano de 1996, tendo uma capacidade para 300 utentes/dia. As instalações que foram recentemente ampliadas e modernamente equipadas, dispõe ainda de uma unidade destinada ao tratamento de crianças.
A Clínica de Hemodiálise tem uma capacidade para 123 utentes/dia e o seu quadro técnico é composto por 20 monitores. É a mais recente das três, tendo começado a funcionar três meses depois da Clínica de Imagiologia, que foi implementada em Janeiro de 2002, numa parceria com uma empresa privada de renome na área, e que tem uma capacidade para 200 utentes/dia.
Dispõe dos mais diversos meios complementares de diagnóstico, em que a tecnologia de ponta e a qualidade dos recursos humanos são uma garantia de qualidade.
ACÇÃO SOCIAL AFIRMA-SE NA INSTITUIÇÃO
Como disse o provedor Alberto Machado Ferreira, a área da acção social tem vindo a ganhar peso dentro da instituição e se houvesse oportunidade e capacidade financeira para crescer, seria certamente pela vertente social: “A fazermos novos investimentos, estes seriam na área do apoio social, que é onde sentimos mais carência no concelho”.
Neste particular é vasta a intervenção da Misericórdia de Santo Tirso. Se foi a casa de saúde que esteve na génese da instituição, o asilo para idosos, nascido em 1906, foi o primeiro sinal da sua acção social.
Hoje, o Lar José Luiz d’Andrade tem, desde 1984, a missão de acolher permanentemente utentes com mais de 65 anos que estejam em situação de exclusão ou sejam portadores de deficiência ou incapacidades permanentes do foro psicossomático. O lar tem capacidade para 83 utentes.
Pouco tempo depois, em 1986, iniciou actividade o Lar Dra. Leonor Beleza, na altura, a primeira unidade em Portugal com vocação específica para o acolhimento de grandes dependentes, de idade adulta e com diagnóstico de não recuperação. Este é um equipamento que alia o apoio social à área da saúde, pois devido ao tipo de utentes, estes beneficiam ainda de cuidados contínuos prestados por técnicos de saúde.
A Misericórdia tem ainda, desde 1994, um Serviço de Apoio Domiciliário em Santo Tirso, que posteriormente foi alargado à região sul do concelho, abrangendo as freguesias de Agrela, Água Longa, Reguenga, Lamelas e Refojos. Pode funcionar sete dias por semana, feriados incluídos, das 8h00 às 20h00, dependendo das necessidades diagnosticadas e da disponibilidade dos serviços.
Nas instalações do Lar José Luiz d’Andrade funciona ainda o Centro de Dia, que proporciona actividades de ocupação e animação sócio-cultural a cerca de 10 utentes, para além dos cuidados básicos diários.
Ainda na vertente da terceira idade, a Casa de Repouso de Real pode albergar 143 utentes, nos seus 75 aposentos privados, num equipamento residencial bastante próximo do centro urbano tirsense.
Com uma missão mais complexa, o Centro Comunitário de Geão é uma valência que, desde 2001, tem uma intervenção social diversificada, prestando serviços a grupos específicos, como crianças, jovens e idosos, entre outros, promovendo o desenvolvimento pessoal dos indivíduos, apoiando ainda as famílias.
A pensar nas vítimas de violência doméstica, a instituição criou, em 2004, a Casa Abrigo Dª Maria Magalhães, com o propósito de acolher, em regime temporário, até 25 mulheres acompanhadas ou não dos seus filhos menores que queiram de livre vontade contornar os problemas vividos violentamente e preparar um novo projecto de vida.
Igualmente de intervenção social, mas mais voltada para a área educacional, o Jardim-de-infância, que funciona desde 1984, acolhe cerca de 120 crianças, distribuídas pelas valências de creche e pré-escolar.
Em 2001 foi inaugurado o ATL do Centro Comunitário de Geão, que desenvolve actividades de tempos livres para crianças em idade escolar, apoiando os pais na gestão do tempo extra-escolar, oferecendo ainda serviços complementares como transporte a alimentação. Os Ateliers Infantis são outro serviço disponível e é um espaço direccionado a crianças dos 3 aos 5 anos de idade, também em regime de tempos livres. Em período de férias escolares, tanto o ATL como os Ateliers Infantis funcionam das 7h30 às 19h00, havendo ainda um programa de férias.
CRESCER DE FORMA SUSTENTADA
Actualmente, os dirigentes da Misericórdia de Santo Tirso não têm perspectiva de fazer crescer a instituição, porque o investimento na Unidade de Cuidados Continuados absorveu-lhe a totalidade dos recursos financeiros.
Por isso, “não há projectos em marcha”, sustenta o provedor Alberto Machado Ferreira, que, no entanto, observa: “Mas temos algumas ideias, como um lar para jovens mães adolescentes… E outras ideias vão surgindo, mas não podemos dar passos maiores do que a perna”.
Crescer de forma sustentada é também uma das bases da longa vida da instituição e o provedor está disso bem ciente: “Agora também tivemos este esforço que fizemos para a Unidade de Cuidados Continuados, apesar da doação dos cerca de 800 mil euros e da comparticipação do Estado de 750 mil euros, mesmo assim tivemos que investir capitais próprios no valor de quase metade da obra, ou seja, mais de um milhão de euros, o que desfalcou as finanças da instituição”.
É sabido que as Misericórdias foram, ao longo de anos, alvo de doações por parte de muitos beneméritos e filantropos, o que lhes fez crescer o património.
No caso da instituição de Santo Tirso, o vasto património imobiliário contribui para sustentar os projectos sociais da Misericórdia.
Para além de três prédios urbanos de rendimento na cidade do Porto, o património localiza-se maioritariamente em Santo Tirso e está dividido em três classes: os equipamentos sociais (lares, jardim-de-infância e clínicas, entre outras valências); a habitação social (dois bairros, num total de 30 casas); os imóveis de rendimento (Escola Agrícola Conde S. Bento de Santo Tirso, Hospital Distrital Conde S. Bento de Santo Tirso e edifício da Antiga Biblioteca Municipal de Santo Tirso, entre outros).
Mas os tempos em que as doações eram significativas e uma base sólida do património das misericórdias já eram…
“Em tempos mais remotos, as pessoas estavam mais predispostas a doar às Misericórdias os seus bens, actualmente já não é tanto assim”, começa por dizer Alberto Machado Ferreira, dando, no entanto, um exemplo que pode ser considerada a excepção que confirma a regra dos dias que correm: “Felizmente, tivemos agora um caso de uma senhora viúva, mas também era vontade do marido que entretanto morreu, que doou os seus bens à Misericórdia, o que foi muito útil para nós, pois ajudou-nos a construir a Unidade de Cuidados Continuados”.
Não é todos os dias que se recebe uma dádiva de cerca de 800 mil euros, mas a Misericórdia de Santo Tirso teve essa sorte e deu um uso efectivo à verba, de que muitos já beneficiam actualmente.
“Foi uma verba bastante considerável, perto de 800 mil euros, que nos chegou em duas tranches. Isto foi um caso excepcional, porque hoje já não há tanta gente vocacionada para fazer essas doações”, argumenta o provedor, avançando com uma possível explicação: “E a razão é que hoje as pessoas estão sobrecarregadas com impostos e sentem que já estão a contribuir por esse lado. E como o Estado já recebe todo este volume de impostos, as pessoas acham que é ao Estado que compete contribuir para estas instituições”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
Data de introdução: 2011-09-20