CASA DO POVO DE SESIMBRA

Crescer para acabar com listas de espera

A vila de Sesimbra é, essencialmente, conhecida pelas actividades piscatória e turística, dispondo de praias muito apreciadas pelos turistas nacionais e estrangeiros. No entanto, o concelho, formado por três freguesias (Santiago, Castelo e Quinta do Conde), abrange um vasto território rural, pertença da freguesia do Castelo.

A Casa do Povo de Sesimbra desenvolve, maioritariamente, a sua actividade de acção social, especialmente direccionada para a infância e a terceira idade, precisamente na freguesia do Castelo, a maior do concelho em território e a segunda em população, com 15.207 habitantes, segundo o Censos 2001.
“A Casa do Povo de Sesimbra foi criada quando houve um fomento administrativo a nível da organização do País, com a criação de Casas do Povo, com o intuito de estabelecer uma maior proximidade entre as populações rurais e incrementar as ligações com a Segurança Social. Não consigo precisar se foi antes do 25 de Abril ou se estaríamos em cima do 25 de Abril, mas penso que foi uns anos antes”, começa por explicar Luís Xavier, actual presidente da Direcção da Casa do Povo de Sesimbra, continuando: “O grande avanço, em termos de organização e independência das Casas do Povo, e desta também, dá-se no período pós-25 de Abril, sendo que nestas instalações funcionava o pólo de Sesimbra da Segurança Social de Setúbal”.

O caminho percorrido pela Casa do Povo de Sesimbra até abraçar a acção social passa pelo abandono das instalações por parte da Segurança Social de Setúbal e a necessidade de prestar apoio a população rural da freguesia do Castelo.
“O abandono destas instalações pela Segurança Social, nos finais dos anos 1970, levou a que fosse proposto à Casa do Povo, enquanto organização, o desenvolvimento do apoio social. O que estava na altura a ser fomentado era o apoio social à terceira idade, com os centros de dia, e o início dos apoios à infância, com creches e jardins-de-infância”, recorda o presidente da Direcção, no cargo há cerca de cinco anos, que retrata ainda a situação que se vivia no concelho: “A oferta do público, na altura, era praticamente inexistente, resumindo-se o apoio à Misericórdia de Sesimbra. A Casa do Povo desenvolve-se nesse cenário e arranca com essas pequenas actividades com 20 e poucas pessoas no Centro de Dia e cerca de 30 crianças, divididas por duas salas, uma de creche e outra de jardim-de-infância. A Casa do Povo surgiu quando o apoio social começou a desenvolver-se no concelho”.

ERROS DE GESTÃO

A afirmação e evolução da instituição começa com o desenvolvimento das valências nas infra-estruturas existentes, “que foram adaptadas para os novos fins”, sustenta Luís Xavier, recordando que “um período de crescimento orgânico da instituição, que se traduz unicamente no aumento dos utentes das valências, sem investimento nas instalações”.

Esta falta de investimento nas instalações acabaria por, mais tarde, acarretar alguns problemas, que só a actual Direcção conseguiu ultrapassar.
“Já nos anos 1990, a Direcção da altura começou a pensar, também incentivada pela Segurança Social, na criação de um Centro de Dia. Então, em meados dos anos 1990, é criado rapidamente um Centro de Dia de raiz, mas estruturalmente ineficaz. Ou seja, ele existe, mas poderiam ter sido feitas umas instalações que cumprissem todas as regras, o que não acontece porque não cumprem”, sublinha Luís Xavier.
O crescimento da instituição é visível, registando-se um aumento de utentes na valência de Centro de Dia e, ao mesmo tempo, na de Jardim-de-infância, para números de lotação similares aos actuais.
“Por volta do ano de 2003, 2004, a Direcção de então propõe-se a fazer um lar de idosos. É feito um projecto, em que é gasto imenso dinheiro, mas é um projecto fora de época. Todas as oportunidades tinham passado…”, recorda o actual presidente, prosseguindo com uma crítica aos seus antecessores: “A Direcção fez o projecto fora de época, gastou o dinheiro e ficou com o projecto na mão, porque a Segurança Social informou que não havia apoios… Posto isto, a instituição ficou sem dinheiro”.

NOVA DIRECÇÃO, NOVA VIDA

É, então, que se dá uma transformação profunda na instituição, que começou pela renovação dos corpos sociais. Está-se em 2005 e perante complicada situação da instituição, em Assembleia Geral, é escolhida uma Comissão Administrativa para tentar reorganizar a instituição.
“Nessa reunião, e perante as grandes dificuldades que a instituição vivia, emergiu um grupo de pessoas, em que me incluo, que formou uma Comissão Administrativa que tomou conta dos destinos da Casa do Povo de Sesimbra e que tem tentado recuperá-la e levá-la a bom porto. A anterior Direcção desapareceu por completo. Quando esta equipa chegou à Direcção da instituição foi como partir do zero, pois não havia o mínimo de informação”, lamenta Luís Xavier, em cujo mandato a Casa do Povo de Sesimbra ganhou um novo alento, retomando o rumo do desenvolvimento: “Desde que fomos eleitos temos feito a adaptação das instalações e dado aos funcionários garantia de estabilidade, porque nestas instituições as pessoas não ganham bem, mas a segurança do posto de trabalho é o que de melhor lhes podemos oferecer.

Estabelecemos uma ligação forte com a Segurança Social que nos levou a poder executar obras de verdadeira adaptação do tal edifício dos anos 1970. Esse edifício, que era perfeitamente tabique, hoje tem todas as condições para ser utilizado como jardim-de-infância. E fizemos ainda a adaptação do Centro de Dia, em que colmatámos todas as deficiências que inicialmente não cumpriam com as regras exigidas”.
Do conjunto de obras prioritárias a que a actual Direcção se propôs, segundo o presidente, já há pouco para fazer: “Neste momento, faltam duas fases desta loucura a que nos propusemos, que é a adaptação da creche e dos serviços administrativos, que por ser a que influi menos com os utentes deixámos propositadamente para o fim, e a da zona de serviços na cave do Centro de Dia. A cave em si está bem, o problema é que a Segurança Social exige uma ligação vertical, através de um elevador, entre as duas áreas. Sem apoio da Segurança Social, foi-nos dito para solicitarmos ao ministro o accionamento do Fundo de Socorro Social. Depois de muita espera e de nos terem dito que não apoiavam porque tínhamos retirado o pedido, o que não aconteceu, desistimos, pois não fazia sentido estarmos à espera do que nunca viria, até porque as obras já estavam feitas e pagas”.

CASA ARRUMADA A OLHAR PARA O FUTURO

Luís Xavier é, neste momento, um presidente satisfeito, pois a remodelação da instituição foi feita de forma sustentada e apenas com verbas próprias: “Penso que fizemos um caminho bem feito, pois concluímos a obra com os custos a serem suportados unicamente pelo nosso orçamento, ou seja, com as comparticipações dos nossos utentes. E fizemos aquilo que é a regra básica do investimento empresarial, obviamente adaptada à instituição, que foi investir na actividade. Todos os lucros da Casa do Povo têm sido investidos nas instalações. Há quem diga que poder-se-ia ter aumentado os funcionários, mas em termos de gestão essa é uma medida que virá depois das infra-estruturas, porque são estas que geram valor para pagar aos funcionários”.

E a satisfação de Luís Xavier ganha força pelo facto de a situação financeira da instituição ser, neste momento e ao contrário de quando tomou posse, saudável: “Como tivemos uns primeiros cinco anos muito difíceis, nesta altura estamos num ciclo diferente até do País, isto é, sempre vivemos com grandes crises nos últimos cinco anos e agora, felizmente, estamos mais desafogados, não temos dívida e isso permite-nos agora fazer um acerto nos vencimentos dos nossos funcionários, o que irá acontecer este mês de Setembro”.

Actualmente, a Casa do Povo de Sesimbra apoia cerca de 200 famílias, directa ou indirectamente, nas três valências de que dispõe, para além das dos 80 funcionários. Como parceira do Banco Alimentar, a instituição ainda apoia muitas famílias com as mais diversas carências.
No Centro de Dia, a valência mais antiga, a instituição tem 40 utentes, enquanto no apoio à infância os números são bem maiores: em amas tem 48 petizes, em creche 12 e no jardim-de-infância 71.
“A casa do Povo é ainda promotora de actividades de enriquecimento curricular em parceria com o agrupamento de escolas do Castelo, há já três anos”, destaca Luís Xavier, pormenorizando: “Actuamos nas escolas do ensino básico das escolas do Zambujal e da Cotovia, onde temos cerca de 250 alunos. Cobrimos essa população escolar com as actividades dos nossos professores, com aulas de inglês, expressão plástica e educação física. Tínhamos também aulas de natação, mas este ano não tivemos capacidade para proporcionar essa actividade extra-curricular, mas criámos a de patinagem”.
Como em muitos pontos do País, a população rural é sobretudo idosa e Sesimbra não foge à regra, pelo que o Serviço de Apoio Domiciliário é igualmente uma das principais actividades da instituição. Neste momento, apoia 25 utentes, 365 dias por ano.
“Em termos de apoio domiciliário só fazemos a vila de Sesimbra se o utente nos solicitar directamente o serviço, porque normalmente quem faz a freguesia de Santiago é a Misericórdia, que também vêm cá acima quando os utentes lhes pedem, mas não há qualquer tipo de problema entre as duas instituições. No entanto, o nosso apoio domiciliário é feito 95% na zona rural”, explica o dirigente.

RETOMAR A CRIAÇÃO DO LAR DE IDOSOS

Sobre o lar de idosos, que no passado quase foi a ruína da Casa do Povo, a actual Direcção já teve duas posições. Inicialmente deixou cair por completo a intenção de o construir, pois não havia apoios institucionais para o fazer. Mas entretanto, essa ideia alterou-se.
“A Segurança Social sempre nos esclareceu que se não tivéssemos um investimento apoiado por um qualquer programa comunitário ou outro, não haveria acordo de cooperação”, esclarece Luís Xavier, dando conta da mudança de planos: “Estrategicamente considero que o projecto é para ser retomado, com financiamento próprio e um funcionamento muito idêntico aos privados. O projecto inicial previa a lotação de 30 utentes, o que é inviável, pelo que queremos reformulá-lo para uma lotação de 40 utentes para rapidamente passar para 60, rentabilizando a infra-estrutura toda e o seu funcionamento. O que temos vindo a pensar é seccionar a infra-estrutura, adequando-a para receber 20 ou 30 idosos e criar um lar residencial para 10 ou 20 deficientes profundos, tendo aqui um misto de resposta que permita baixar a lista de espera de Sesimbra. Podemos muito bem ir para a área da deficiência profunda, porque há lista de espera em Sesimbra. E na parte da deficiência é possível protocolar com a Segurança Social, o que apoiaria o funcionamento da outra valência”.

Esta aposta tem no horizonte a geração de receitas, fundamentais ao funcionamento da instituição: “Um lar de idosos, dentro da estrutura do nosso País, é sempre uma fonte geradora de receita para qualquer instituição. A razão da apetência dos privados por este tipo de serviço é porque é geradora de receita”.
Debatendo-se, como muitas outras IPSS, com o crescimento do incobrável, a Casa do Povo de Sesimbra tem desenvolvido algumas actividades geradoras de receitas e que permitem equilibrar as contas da instituição.
“Temos vindo a fazer um caminho para criação de receitas próprias, com o fornecimento de refeições às escolas públicas aqui do Zambujal e o transporte das crianças para tomarem a refeição quente aqui na instituição. Nesse sentido, fizemos uma reestruturação profunda do refeitório e da cozinha. As nossas carrinhas também geram receitas através do seu aluguer. E agora queremos apostar num serviço de lavandaria. Nesse sentido já tive algumas reuniões com responsáveis do Centro de Saúde com o intuito de tratarmos de toda a roupa hospitalar aqui do concelho”.

Para Luís Xavier, “o grande desafio que se coloca à Casa do Povo de Sesimbra é conseguir mobilizar a comunidade a pensar sempre no colectivo, daí deverá derivar uma gestão eficaz e eficiente, ou então o futuro será ruinoso”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2011-09-20



















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