PATRONATO S. SEBASTIÃO, GUIMARÃES

Meio século ao serviço da infância e da cidade

Guimarães é por estes dias alvo de grande atenção e actividade cultural, uma vez que neste ano de 2012 é, a par de Maribor, na Eslovénia, Capital Europeia da Cultura. A cultura, tradições e costumes da cidade, tal como as personalidades que ao longo dos séculos engrandeceram o nome de Guimarães. Não esquecer que foi a partir dali que D. Afonso Henriques partiu para a conquista aos mouros do que é hoje Portugal.
Atentos a isso, os responsáveis pelo Patronato de S. Sebastião, IPSS que labora essencialmente na área da paróquia com o mesmo nome, estabeleceram como projecto educativo do pré-escolar «À descoberta dos costumes e tradições de Guimarães».
“O projecto educativo foi planeado para três anos, estando já previsto terminar em 2012, na perspectiva de coincidir com a Capital Europeia da Cultura”, revela Maria João Oliveira, Coordenadora Pedagógica, acrescentando: “As nossas crianças que agora têm cinco anos já estão a desenvolver o projecto desde os três anos, portanto, muita coisa do que se está a passar não é novidade para elas. Agora que se fala em tudo o que é tradição, as nossas crianças têm vindo a vivenciar isso mesmo. Isso projecta-se nas actividades que desenvolvem, nas festas que apresentamos de Natal e de final de ano, nas visitas que fazemos aos museus e às aldeias e aos trajes que experimentam nas festas, entre outras coisas. Toda a envolvência que agora a cidade está a viver, nós já vínhamos a preparar as crianças para isso mesmo”.
O SOLIDARIEDADE esteve na sala dos cinco anos e, de certa forma, testou os conhecimentos adquiridos pelos petizes. O André, o Rúben, a Inês, o Fábio, a Leonor, o Dinis, a Maria Inês, a Ana Isabel, a Andreia, a Inês Silva, a Ana Pedro, o Gabriel, o Tiago, a Luana, a Soraia, a Natasha, a Luna e a Maria João foram mesmo brilhantes, respondendo de pronto às questões colocadas, evidenciando um vasto conhecimento sobre a cidade, os seus costumes, tradições e personalidades. Os bordados de Guimarães, os “corações das capitais”, como respondeu uma das crianças numa referência ao Coração símbolo da Capital Europeia da Cultura e que em cada lugar da cidade assume cores e decorações diferentes, as Cantarinhas dos Namorados, os Nicolinos, a Mumadona, a Senhora da Oliveira e, como não podia deixar de ser, D. Afonso Henriques foram citados pelas crianças, que remataram com um sonoro e uníssono: “Gostamos muito de Guimarães”.
Este «grand final» não é mais do que um sentimento transversal a todos os cidadãos de Guimarães, cujo bairrismo é uma marca identitária, daí que a Coordenadora Pedagógica refira que “são tudo crianças nascidas, criadas e educadas em Guimarães e vimaranenses ferrenhos”.

MEIO SÉCULO DE VIDA

O Patronato de S. Sebastião foi fundado a 19 de Março de 1962 e cumpriu este ano 50 anos de vida ao serviço de Guimarães e da sua população.
No cumprimento das disposições testamentárias das irmãs Maria do Carmo Cardoso de Magalhães Teles e Menezes, Delfina Laura, Francisca Palmira e Maria da Glória Cardoso de Magalhães e Vasconcelos, o edifício hoje ocupado pelo Patronato foi oferecido à paróquia, que inicialmente serviu para “a chamada Obra das Mães, ligada ao Ministério da Educação, em que nesta casa, em horário pós-laboral, das sete às 10 da noite, funcionava uma espécie de escola de lavores, em que se ministravam aulas de cozinha, costura e bons costumes”, explica o padre José Antunes, presidente da instituição e pároco de S. Sebastião.
“Foi por aí que isto começou e, depois, o meu colega antecessor viu que a casa poderia dar outra resposta, quer à paróquia em si, quer a toda a cidade. Não pensemos que o Patronato é uma casa só para esta paróquia, não, o seu raio de acção é grande e apanha a cidade de Norte a Sul, de Este a Oeste. Os pais trabalham aí na cidade e colocam cá os filhos para serem nossos utentes na hora de trabalho”, afirma o padre José Antunes, recordando que ainda antes de a instituição criar o jardim-de-infância, “quase ao mesmo tempo que, ou logo a seguir, à Obra das Mães havia as férias do ATL, com actividades organizadas em que as crianças faziam visitas ou iam à piscina, numa altura em que ainda não havia acordo nenhum com a Segurança Social e isto era uma espécie de espaço onde os jovens passavam o seu tempo nas férias, faziam diversas visitas e praticavam desporto”.
Há meio século ao serviço da comunidade de Guimarães, o Patronato S. Sebastião tem por missão acolher, servir, proteger, educar, desenvolver e cuidar das crianças em conjunto com os educadores (pais), promover um ambiente saudável e harmonioso de modo a garantir à criança um desenvolvimento pessoal e social incutindo-lhe os valores pelos quais se orienta a instituição, nomeadamente, a vertente religiosa católica que a identifica.
“É uma vida cheia de encontros e desencontros, certamente, umas histórias felizes, outras menos felizes, mas uma história bonita”, comenta o padre José Antunes sobre os 50 anos de vida da instituição, acrescentando: “Penso que é uma história cheia e bonita, pois por aqui passou muita gente, quer em termos de funcionários, quer em termos de utentes… Bem, em termos de meninos, foram muitos milhares que já por aqui passaram”.
Nesse sentido, o Patronato de S. Sebastião pretende continuar a ser uma instituição de referência na acção social e pastoral, baseando a sua intervenção na melhoria contínua das suas práticas e na elevada qualidade dos serviços prestados.
Actualmente, frequentam o Patronato 50 crianças em creche, 66 no pré-escolar e 12 no ATL, apoiadas por uma equipa de 22 funcionários.
No passado, a instituição tinha em média 60 crianças no ATL, mas os seus responsáveis não acreditam que apesar das alterações introduzidas no mais recente Protocolo de Cooperação, em que é dado o direito de escolha aos pais, o número de frequentadores actual se altere.
“Não me parece que vamos receber mais meninos… Nas férias o nosso trabalho continua a ser muito procurado, pois o número de crianças triplica, em especial nas férias de Verão, mas também no Natal e na Páscoa, mas, de resto, não me parece que vá aumentar, até porque as escolas agora cumprem esse papel e os pais não estão para mudar outra vez”, argumenta o presidente da instituição.
Noutra perspectiva, também as recentes alterações às regras da creche no âmbito do PES não vão possibilitar ao Patronato aumentar o número de frequentadores.
“Na creche não podemos meter mais crianças, pois não temos capacidade para mais, apesar de termos lista de espera com cerca de três, quatro crianças”, sustenta Maria João Oliveira.

APOIO À TERCEIRA IDADE

Apesar da sua vocação para a infância, o Patronato de S. Sebastião ciente das dificuldades da comunidade que envolve a instituição, situada em pleno centro histórico de Guimarães, presta já algum apoio à terceira idade, ainda em parceria com outra entidade da cidade, mas pretende lançar o seu próprio Serviço de Apoio Domiciliário.
“Estamos a colaborar com outra entidade que não tem cozinha e, então, estamos a fornecer as refeições. Essa entidade procurou-nos e nós estamos a prestar esse serviço de refeições. Queremos lançar o Serviço de Apoio Domiciliário e foi um dos desafios que também lancei na sessão solene comemorativa do 50º aniversário da instituição”, revela o padre José Antunes, fazendo o ponto da situação: “Neste momento, estamos a fazer o levantamento das necessidades, em parceria com a Cruz Vermelha, que está a fazer o levantamento das necessidades casa a casa. Depois teremos que fazer intervenções a nível de cozinha, de lavandaria e de transportes para então respondermos com este serviço à população”.
E apesar de ainda estar a ser feito o cadastro da situação, os responsáveis pelo Patronato tem já consciência de que “é uma necessidade premente, não só aqui da freguesia que cobrimos, mas das freguesias vizinhas também”.
“Os idosos, os doentes, as pessoas que têm necessidade de atenção e de uma proximidade muito maior são um desafio para nós”, sustenta o padre José Antunes, adiantando: “Esta é uma zona antiga, portanto de gente envelhecida. É uma zona de gente muito idosa, temos plena consciência disso, e com muitas pessoas metidas no seu cantinho, sem ninguém a ajudá-las. E este Serviço de Apoio Domiciliário vai responder um pouco a este estado de coisas e dar um bocadinho de qualidade ao final de vida e à velhice destas pessoas, muitas doentes e que precisam de nós”.
Para o padre José Fontes, “o futuro passa pela implementação do Serviço de Apoio Domiciliário”, mas há outros projectos que o Patronato gostava de concretizar.
Para já com a criação daquela valência “é o ir de encontro às necessidades da população”, refere o presidente do Patronato, que refere ainda: “Este é um desafio que nos é lançado pela transformação social que se vive. Há tempos uma vizinha nossa, aqui a 20 metros, ficou morta três dias em casa… Isto é um espelho do nosso Portugal, de muitas pessoas idosas que não têm um apoio de proximidade, que levaria a uma atenção maior e a uma vivência de velhice com mais qualidade”.
Ao que Maria João Oliveira acrescenta, “evitando a institucionalização dessa população idosa”, especialmente num ano em que na Europa se celebra o Envelhecimento Activo.

CRISE TRAVA PROJECTOS

Mas o Patronato tem outros sonhos… “Antes desta crise, que se deu em 2008 e que ainda aí está, tínhamos a ideia de criar uma obra de raiz para a construção de um edifício para albergar a creche, o infantário, o ATL, um Centro de Dia, o Serviço de Apoio Domiciliário e um Lar de Idosos, mas é evidente que com este crash que sucedeu tivemos que parar”, revela o padre José Antunes, acrescentando: “Temos as coisas pensadas, temos um ante-projecto e ideias, mas a situação não é favorável para o lançamento de novos investimentos. A situação que se vive actualmente não convida a que avancemos”.
Apesar disso, o presidente do Patronato S. Sebastião não esmorece na intenção de alargar o apoio da instituição à terceira idade, preferindo falar antes de uma espera por melhores dias.
“A ideia é fazer um lar com 20 e tal camas e também um Centro de Dia, mas as condições actuais, apesar da vontade ser essa, não permitem avançar com o projecto em virtude da situação que se vive. Vamos tentar o Apoio Domiciliário dentro do que temos e aguardar por melhores dias, porque para já a casa não tem condições para mais respostas. Esperemos melhores dias para avançar com esse projecto, que será um espaço mais moderno e que dê melhores resposta também aos meninos, que aqui têm-nas, mas que no novo espaço seriam muito melhores”.
E os responsáveis pelo Patronato não se abalançam em novos investimentos para não colocarem em risco a sustentabilidade da instituição.
“A nossa saúde financeira não é má, mas… Não estamos em falência técnica, mas… O que recebemos dos acordos de cooperação já não dá para cobrir determinadas despesas que temos. Para prestar um serviço de qualidade, aqui no Patronato tem que se fazer uma poupança muito grande e usar de grande criatividade. Tudo fazemos para manter o equilíbrio das contas”, sustenta o padre José Antunes, rematando: “Nestes 11 anos em que estou à frente do Patronato foi sempre diferente, porque neste momento as coisas estão mais complicadas, porque há muitas situações de desemprego, toxicodependência, famílias monoparentais e imigrantes e vem tudo aqui parar. Nós respondemos, mas é evidente que muitas destas pessoas não têm capacidade de pagar uma prestação consentânea com os serviços que prestamos”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2012-04-15



















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