CENTRO SOCIAL PAROQUIAL DE CHAVES

«As Freirinhas» dão colo e educação

Em 1969 assumiu a figura jurídica de Centro Social Paroquial de Chaves, mas a história desta instituição da cidade transmontana é muito mais antiga e conta já mais de sete décadas. Fundada, em 1929, como Asilo da Infância, sete anos volvidos passaria a Asilo dos Anciãos, emergindo em 1955 como Cantina Sopa dos Pobres. Em 1963, a congregação das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado assumem a instituição, implementando a Escola de Costura e o Jardim de Infância. É desta altura que a instituição começa a ser conhecida na comunidade pela carinhosa designação de «as freirinhas»…
Como se pode ver por esta breve resenha histórica, a instituição, ao longo dos tempos, foi criando diversas respostas sociais consoante as necessidades da comunidade flaviense. Como Centro Social Paroquial, a IPSS tem dedicado a sua missão à infância, sendo a maior instituição do género no concelho de Chaves. Com a construção de um novo edifício, inaugurado em Setembro de 2010, ao abrigo do Programa PARES, a instituição alargou grandemente a sua resposta de creche e, agora, recebe e cuida diariamente 160 crianças (135 nas duas creches do novo edifício Fonte do Leite e 25 no edifício da Lapa). Em termos de pré-escolar, a instituição tem a seu cargo 150 petizes.
Para cuidar, servir e educar estas mais de três centenas de crianças, o Centro Social Paroquial de Chaves tem uma equipa de 55 funcionários, que inclui duas irmãs da Congregação que em 1963 chegou à instituição e que continuam a dar sentido ao nome pelo qual a instituição é conhecida na região, as «Freirinhas».

SONHO ADIADO

Apostada em aumentar e qualificar ainda mais o serviço da instituição, a irmã Elizabete Veiga, directora da instituição há oito anos, dá conta ao SOLIDARIEDADE do grande sonho de futuro da instituição: “Gostaríamos que a visão da instituição fosse um bocadinho mais além, no sentido de poder responder a novas solicitações da comunidade. Por exemplo, gostaríamos de poder responder a um grande pedido dos pais que era a abertura do Ensino Básico, mas não podemos. As estruturas do Governo estão muito inseguras e construir e abrir uma escola para depois não haver acordos de cooperação não pode ser”.
Para a religiosa, “aos pais dói-lhes que os filhos não continuem na mesma metodologia, pedagogia e linha de afectos que aqui têm…”, mas a única solução para avançar de imediato não lhe agrada: “Eu via uma solução no horizonte, mas não ficava bem com a minha consciência, pois seria abrir uma escola de carácter particular. Aí, íamos contra a filosofia da nossa casa. Só avançaremos quando tivermos linhas orientadoras do Ministério para novos acordos”.
Por outro lado, a instituição gostava igualmente de dar uma resposta que já deu no passado: “Gostaríamos de ir às origens da instituição, que são precisamente os refeitórios sociais, mas também não avançámos, porque acabámos de construir uma creche há dois anos e o PARES não comparticipa, para além de todos os extras. É que construímos uma creche, mas no final os custos para nós foram a triplicar! Neste momento, queríamos mesmo dar essa resposta, mas primeiro temos que equilibrar as nossas finanças”.
Com os pés bem assentes na terra, com os olhos postos na sustentabilidade, mas sem deixar de lançar um olhar ao futuro, a irmã Elizabete Veiga sustenta que “o grande projecto de momento é a qualidade, mas em termos de projecto futuro seria uma escola primária, que é o grande pedido dos pais”.

CERTIFICAÇÃO DE QUALIDADE

Relativamente à implementação dos procedimentos de qualidade com vista à certificação pela Norma ISO:9001/2008, Nuno Gonçalves, o educador de infância que é simultaneamente responsável pelo processo na instituição, traçou um retrato do mesmo: “Desconstruídos os Manuais e desmistificada a Norma, definimos todos os processos, documentámo-los e progressivamente estamos a implementá-los. O grande desafio foi envolver toda a equipa de colaboradores, que tem um grande mérito porque reúne frequentemente no sentido de restruturar caminhadas e estratégias, renovar práticas, construir novas formas de estar e de ser no sentido da melhoria contínua e da qualidade. Portanto, estamos todos a remar no mesmo sentido”.
O responsável releva como de grande importância o envolvimento e a parceira que se estabeleceu entre todos os agentes da instituição. “O grande envolvimento que temos que destacar é a parceria, a triangulação entre encarregados de educação-crianças-Centro Social Paroquial. São colaboradores incansáveis e estabelecemos um elo de ligação muito forte. Eles vão acompanhando o nosso processo de implementação da qualidade e, frequentemente, perguntam qual é o ponto da situação. Fazemos questão de os envolver em todo este processo e eles vão acompanhando com interesse. Tem sido um processo de parceira e de interacção”, realça Nuno Gonçalves, ao que a irmã Elizabete Veiga acrescenta: “Foi muito bem recebido pelos pais, porque fomos claros na explicação e eles começaram a caminhar connosco. Ao contrário do que se ouve muitas vezes, nós temos tido um grande envolvimento dos nossos pais. Neste processo que vamos lançando, os pais acompanham e colaboram bastante”.
Relativamente às mais-valias que já conseguiram identificar na vida da instituição, Nuno Gonçalves indica o trabalho que já era feito anteriormente para que, de momento, essas vantagens ainda não sejam relevantes, mas destaca a interacção com os encarregados de educação como o mais palpável de momento.
“Em todo o processo, provavelmente, ainda não conseguimos enaltecer grandes vantagens, porque consideramos que já estávamos num patamar de qualidade bastante elevado. E é este o feedback da nossa comunidade. Agora, este envolvimento dos encarregados de educação é uma mais-valia que nos ajudou a estreitar laços afectivos com eles e a melhorar as relações com os colaboradores. No âmbito do processo de certificação, criámos o nosso plano de formação em que incluímos a ética, a deontologia, as relações humanas… Isto foi trabalhado e as acções de formação demonstraram-se eficazes. É por aí que enaltecemos este processo, não tanto pela casa arrumada, como costumamos dizer, porque já a tínhamos, mas, acima de tudo, por este estreitar de relações com os encarregados de educação. Depois, continuamos a defender a nossa pedagogia holística e a nossa pedagogia de integração”, explica o educador de infância, exemplificando: “Chamamos a comunidade à escola e chamamos os encarregados de educação, porque defendemos uma pedagogia participativa, em que todos temos algo a acrescentar. Se calhar, este processo de certificação trouxe-nos esta mais-valia em termos de relações”.
A directora da instituição destaca que, em especial, o processo de certificação da qualidade “ajudou a aperfeiçoar aquilo que já existia”.
“Por exemplo, aperfeiçoou muito o acolhimento, a entrada e entrega de crianças, o que nos permite ficar mais descansados, pois aperfeiçoou-se muito o registo. Depois, também com o crescimento dos colaboradores, por via de se ter o plano de formação, houve um grande crescimento na linha da planificação. Há um debruçar e um conhecimento muito maior sobre a criança”, relata a religiosa, ao que Nuno Gonçalves adianta: “Tornou-se num suporte fundamental no apoio consistente para a reflexão e a acção, que já existia, mas tornou-se uma mais-valia porque foi exigido algo mais. Pegámos em tudo o que nos foi apresentado e fomos muito autodidactas, porque desmitificámos e desconstruímos os manuais. A Norma ISO:9001 foi-nos apresentada, mas nós demos-lhe um cunho muito pessoal. Adaptámo-la à nossa realidade”.
E exemplifica: “Dentro dos processos-chave, o plano individual é apresentado de forma muito estereotipada, no sentido da avaliação mecânica, impessoal e imperceptível para muitas famílias, e o nosso esforço foi adaptá-lo à nossa realidade, ao que já fazíamos, à forma como avaliávamos a educação de infância, usando o portefólio da criança, que ilustra claramente o seu desenvolvimento e a sua evolução. Adaptámo-lo à nossa forma de avaliar e de observar a criança, enquanto ser activo da construção do conhecimento, valorizando a escuta, partindo do que a criança sabe e faz para conceber actividades que constituam desafios às suas capacidades. Enquanto em determinadas instituições aquilo foi apresentado e seguiram aquela estrutura, nós pegámos nas grelhas do plano individual e galgámo-las de acordo com o que já fazíamos e de acordo com o estrato social que tínhamos à frente”.

PAIS COM MAIS DIFICULDADES

Com o processo de certificação da qualidade em marcha, estando agendada para Setembro próximo a primeira auditoria, o Centro Social Paroquial pretende manter os níveis de qualidade do serviço que presta e cujo maior indicador é a procura que regista por parte da comunidade. Mas tem havido algumas mudanças que exigem mais das «Freirinhas»…
“Temos crianças de um raio de 30 quilómetros que vêm para a instituição, são crianças da periferia, sobretudo, de pais que trabalham na cidade”, explica a irmã Elizabete Veiga, que destaca: “Dá-nos uma alegria muito grande saber que a nossa instituição é cada vez mais procurada pelo pobre, pelas famílias que precisam. E este é um dos principais critérios de admissão de crianças. E cada vez são mais”.
Neste particular, a religiosa tem constatado um aumento crescente das dificuldades das famílias: “Há um decréscimo na capacidade das famílias em pagar a comparticipação, porque também há uma procura maior de famílias com dificuldades. Os nossos critérios também mudaram, ou seja, um dos primeiros critérios é precisamente dar prioridade a crianças cujas famílias têm problemas financeiros. E depois, e isso é conhecido da comunidade, o Centro Social Paroquial acolhe e dá resposta a essas situações. Nestes últimos anos temos visto que aumentou o número de pais que já não procuram o privado, mas vêm aqui porque sabem que damos resposta a essas situações mais difíceis”.
O momento que o País atravessa e o elevado número de desempregados tem acarretado dificuldades extra para as famílias, sabendo-se que, muitas vezes, as regiões do Interior sofrem mais agudamente de problemas como a falta de emprego, a desertificação e o envelhecimento populacional.
“Há algumas crianças que não pagam nada e esse número tem sido em crescendo”, sustenta a religiosa, o que Maria da Glória, funcionária que lida mais directamente com os pagamentos, corrobora: “Durante o ano deparamo-nos, constantemente, com novos pedidos de pais para rever a sua comparticipação. O que antigamente se fazia esporadicamente, neste momento, quase todas as semanas temos que rever preços, porque o pai ficou desempregado, ou porque baixaram o salário, ou porque a prestação da casa aumentou…”.
A directora do Centro revela ainda uma outra situação bastante elucidativa do momento que se vive e que lhe causou alguma surpresa: “Outra atitude que mudou na procura foi que antes vinham ver se havia vaga e agora trazem a folha do IRS para saberem quanto terão que pagar. Isso chamou-nos muito a atenção, mas felizmente, mesmo respondendo cada vez mais a famílias com rendimentos baixos, a instituição tem feito sempre uma gestão correcta e, por isso, temos conseguido manter uma sustentabilidade financeira que nos permite não falhar em nada, seja na qualidade, no bem-estar, ou até na alimentação”.

COM A CIDADE E PARA A CIDADE

Com uma longa história de mais de 70 anos ao serviço da população de Chaves, tentando sempre adaptar-se às maiores necessidades que surgem na comunidade que apoia, como seria Chaves sem o Centro Social e Paroquial?
“Mais pobre, porque todos nós contribuímos para o bem-estar e o desenvolvimento, com a consciência de que esta casa, ao longo da sua história, foi sempre uma resposta para os problemas sociais, não só em termos de uma resposta diária, mas de parceria e envolvimento da comunidade”, responde de pronto a irmã Elizabete Veiga, que releva a grande interacção com a comunidade, como, por exemplo, a Caminhada Solidária a Favor da Liga Contra o Cancro da Mama, uma iniciativa promovida e organizada pela instituição com a cidade e para a cidade.
“As nossa boas práticas são projectadas, o nosso esforço, dedicação e o entusiasmo desta equipa de colaboradores transparece e diariamente são projectadas para o exterior”, sublinha Nuno Gonçalves, que acrescenta: “Consideramos que temos uma pedagogia diferenciada e inovadora, os educadores de infância nesta instituição educam o olhar, no sentido de anular as relações verticalizadas e construir relações muito próximas da criança, de partilha, de convívio, de interacção diária com os encarregados de educação, que também são o nosso elo de ligação com o exterior… Nós conseguimos envolver de tal forma a comunidade que não precisamos de publicitar a nossa instituição, os pais encarregam-se disso. Os encarregados de educação são o melhor veículo de comunicação do bom que se faz aqui dentro”.
Aliás, como revela a directora do Centro Social Paroquial de Chaves, “muita actividade já é proposta e organizada pelos pais”, o que lhe dá enorme satisfação e a sensação de que o trabalho desenvolvido na instituição está correcto: “Sentimos muito o desafio dos pais, em fazerem, organizarem e em estarem connosco nas actividades. E isso é muito gratificante e encorajorador”.


Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2012-05-07



















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