A certificação de qualidade é o grande desafio do momento da Casa do Povo de Vilarandelo, que, no último dia útil de Junho, recebeu a primeira auditoria, estando agendada para Novembro nova visita da entidade certificadora para, então, confirmar e conceder a certificação que a instituição pretende através dos Manuais de Qualidade da Segurança Social (nível B) e ainda pela Norma ISO:9001.
“Esta primeira auditoria correu muito bem, tendo as técnicas passado o dia na instituição e apenas detectado pequenas situações que são de fácil resolução, para que em Novembro, falta só marcar o dia, possa ser realizada nova visita, esta já de concessão do certificado”, explica, ao SOLIDARIEDADE, Normando Alves, presidente da instituição do concelho de Valpaços.
“Quando há três, quatro anos se começou a falar na certificação da qualidade comecei logo a interessar-me por isso e lançámos de imediato esse processo”, explica Normando Alves, ao que acrescenta: “Contratámos uma empresa de consultoria de Braga e fizemos uma reunião com todos os colaboradores da Casa do Povo naquilo que foi o ponto de partida para a certificação da qualidade. Desse dia até agora temos feito um trabalho árduo e complicado, mas estamos muito satisfeitos”.
A satisfação do presidente da instituição entronca numa constatação simples: “Em toda a instituição, desde que iniciámos este processo de certificação, notam-se as melhorias na forma de trabalhar e de lidar com os utentes. E já introduzimos em todas as valências todas as normas necessárias para que a certificação nos seja atribuída”.
70 ANOS DE ACÇÃO SOCIAL
Com 70 anos de vida celebrados a 3 de Junho último, a Casa do Povo de Vilarandelo é uma instituição que tem orientado o seu trabalho nas áreas cultural, desportiva e social.
Com especial apetência para cuidar dos que mais precisam, a instituição teve na criação da, então denominada, «Sopa dos Pobres» uma das suas primeiras acções sociais.
Com o decorrer dos anos a Casa do Povo de Vilarandelo tem lutado sempre por aumentar o seu património e por proporcionar melhor bem-estar, melhor formação e melhor qualidade de vida às pessoas, não apenas de Vilarandelo, mas também das aldeias limítrofes, o que tem acontecido, desde 1999, com as freguesias de Alvarelhos (Lama D’Ouriço), Ervões (Sá, Lamas, Alpande, Alfonge, Valongo), Santa Valha (Gorgoço e Pardelinha) e Barreiros.
Apesar de ser uma vila com pouco mais de 1200 habitantes, que dista cerca de sete quilómetros de Valpaços, Vilarandelo construiu o primeiro Jardim de Infância do concelho, corria o ano de 1981. Hoje essa estrutura acolhe e cuida diariamente de 80 crianças, entre creche (30) e pré-escolar (50). Relativamente a valências para a infância, a Casa do Povo de Vilarandelo já teve um CATL, que, entretanto, encerrou, mantendo ainda o Centro de Acolhimento Temporário, que surgiu em 2001 por sugestão da Segurança Social, e que acolhe de momento 20 crianças.
Nesta valência, a instituição conta com a prestimosa colaboração da Liga dos Amigos «Unidos por um Sorriso», que ajuda na ocupação dos tempos livres das crianças, proporcionando-lhes passeios e visitas que de outra forma nunca conseguiriam fazer.
Ainda antes da construção do Lar de Idosos, cuja abertura aconteceu em 2009, a instituição criou, em 1999, o Centro Comunitário, onde hoje funciona o Centro de Dia, com 25 utentes, e os serviços do Rendimento de Inserção Social, que cobre todo o concelho de Valpaços, cujas duas técnicas e três auxiliares de acção directa são funcionárias da Casa do Povo.
APOIO AOS SENIORES
A Terceira Idade é, desde há muito, uma preocupação para os responsáveis da instituição, daí que tenham avançado para uma obra bastante ambiciosa que foi a construção do Lar de Idosos. No edifício, que começou a funcionar em 2009, funciona, não apenas o lar de idosos, actualmente com 30 utentes, mas também o Serviço de Apoio Domiciliário, com 85 utentes, e ainda o Serviço de Apoio Domiciliário Integrado, com 15 idosos.
Com uma lista de espera para o Lar de cerca de 60 pessoas, a Direcção da instituição vai proceder a obras de beneficiação a fim de poder albergar mais utentes. Nesse sentido, e em duas fases, a instituição espera poder dar resposta a mais 30 pessoas.
Uma dezena de vagas será criada no âmbito do Programa de Emergência Social que permite às instituições acolher mais idosos desde que as áreas dos quartos assim o permitam, e no caso há capacidade para albergar mais 10 idosos, enquanto que mais 20 vagas nascerão do aproveitamento de uma vasta área do edifício que está vazia e já foi deixada assim a pensar no futuro.
“Como necessidades há sempre, decidimos avançar com um projecto que já temos em mente desde que construímos este edifício. É o projecto que neste momento temos em mãos, com tudo pronto para entregar na Câmara. O projecto do Lar de Idosos não contemplava uma área que aqui temos que é o piso -1, que era só uma garagem até meio do edifício. Em vez de aterrarmos a área, deixáma-lo ampla e, então, fizemos tudo igual à parte de cima do edifício. Assim, em baixo temos um espaço amplo, que está vazio, e para o qual temos um projecto já elaborado para fazer 10 quartos, portanto, com capacidade para 20 pessoas. A nossa finalidade é fazer brevemente 10 quatros e todas as demais áreas para de apoio, como banhos acompanhados, uma copa grande e uma sala de estar. Essa é a próxima obra a realizar, tendo já seguido o projecto para a Segurança Social e para a Protecção Civil”, explica Normando Alves, acrescentando: “Agora, temos que arranjar o capital! No andar superior temos ainda um espaço igualmente amplo e vazio, com 350 metros quadrados, no qual pretendemos fazer uma sala de actividades com acesso por um elevador, que também vamos instalar, e que servirá desde o piso -1 até ao andar superior. Este é o projecto que temos em mãos, mas como em tudo o que fazemos, é com passos seguros”.
Esta afirmação final do presidente da instituição prende-se com o facto de para a construção do Lar de Idosos, ao abrigo do PARES, a Casa do Povo ter contraído um empréstimo junto da banca e que ainda está a ser saldado.
Relativamente ao Lar de Idosos, Normando Alves sustenta que “as contas são muito simples”, explicando como foi alcançado o financiamento dos 1,5 milhões de euros que o equipamento custou.
“O PARES deu aproximadamente 500 mil euros, dos quais 46 mil ainda não chegaram, e a Câmara Municipal, que nos ajuda sempre muito, deu-nos à volta de outros 500 mil. A Segurança Social tinha prometido ajuda na aquisição do equipamento, mas quando faltava meio ano para concluir a obra foi-nos dito que não havia possibilidade de nos ajudar. Então, ficámos com a criança nos braços!”, conta o presidente da instituição, que explica como foi resolvido o problema: “Bem, tínhamos duas opções, ou pedíamos dinheiro emprestado ou não abríamos o Lar! Contraímos, então, um empréstimo a cinco anos de um montante ainda significativo e abrimos o Lar quando estava previsto. A instituição, entre dinheiro que foi angariando e o que pediu emprestado, tem a seu cargo 574 mil euros nesta obra”.
Depois de criar condições óptimas para acolher os idosos, a instituição procura a todo o instante proporcionar a melhor qualidade de vida aos seniores que acolhe.
“Na área social, é ponto de honra para a instituição a animação dos idosos. A técnica de desporto e a animadora social acompanham constantemente os nossos idosos do lar e do Centro de Dia”, revela Normando Alves, sublinhando que a instituição se preocupa, não apenas com o envelhecimento activo dos seus utentes, mas igualmente com a solidariedade entre gerações: “Todas as festas e demais actividades são partilhadas por idosos e crianças. Parece que os idosos rejuvenescem nesses contactos com os mais novos, porque o que não queremos é que eles passem aí os dias de boca aberta a olhar para a televisão”.
RESPONDER À COMUNIDADE
É sabido que o Interior sofre problemas muito agudos de envelhecimento populacional e de grande isolamento, com aglomerados habitacionais muito distantes uns dos outros e uma debandada quase generalizada da população jovem.
A atestar isso mesmo é o facto de a Casa do Povo de Vilarandelo ser o terceiro empregador do concelho, actualmente com 80 funcionários, logo a seguir à Santa Casa da Misericórdia e à autarquia valpacenses.
A importância da Casa do Povo de Vilarandelo no concelho de Valpaços é enorme, pois não se cinge ao importante trabalho social que desenvolve. Quando os CTT quiseram fechar o posto de Correios da vila, a instituição assumiu esse serviço, sendo actualmente prestado por uma funcionária da casa. Mas a acção da instituição, para além de todo e meritório trabalho social que faz, estende-se ainda a muitas outras áreas, constituindo-se como o principal dinamizador cultural, recreativo e desportivo da área de sua influência, que se estende a todo o concelho de Valpaços.
A Direcção da instituição é responsável por toda a área social, mas são associações umbilicalmente ligadas à Casa do Povo que desenvolvem todas as actividades nas áreas acima referidas.
“Tudo o que há na vila de Vilarandelo gira em torno da Casa do Povo, excepção feita a três colectividades que são o clube automóvel, que faz provas de perícia automóvel, o clube «Os Perigosos», mais na área de todo-o-terreno, e ainda o clube de caça e pesca… Tudo o resto é promovido e organizado por nós”, explica Normando Alves, especificando: “Nesse sentido, nas áreas cultural, desportiva e recreativa há Direcções próprias, voluntárias e autónomas, nomeadas por nós. Assim, temos a Banda Musical de Vilarandelo, com cerca de 50 elementos, e que tem ainda uma escola de música. Não sabemos a data de fundação, mas há fotografias que reportam a 1830. Temos ainda o Rancho Folclórico e Etnográfico, fundado em 1966, e a Comissão de Carnaval «Os Malteses», que todos os anos organiza o corso carnavalesco, que é o maior, melhor e o mais conhecido do distrito de Vila Real. Ainda este ano estiveram em Vilarandelo qualquer coisa como 10 mil pessoas a assistir ao Carnaval. O clube de futsal, que noutros tempos tinha Futebol de 11, tendo, por falta de jovens para a equipa, optado pelo futsal. Neste momento tem duas equipas, uma masculina e outra feminina. Na sede, no centro da vila, temos ainda uma biblioteca popular, com quase dois mil títulos, e somos responsáveis pelo posto de Correios. No Salão de Festas, com espaço para 500 pessoas, organizamos e acolhemos os mais diversos espectáculos culturais. Temos ainda o «Arauto», jornal que é publicado de dois em dois meses e foi fundado em 1961. É o elo de ligação entre a vila e a instituição e os muitos emigrantes da terra que estão espalhados pelo Mundo”.
De facto, a Casa do Povo de Vilarandelo está presente em praticamente todas as actividades de carácter social, cultural, recreativo e desportivo, não só da vila, mas igualmente das freguesias vizinhas, constituindo-se como o grande motor de desenvolvimento da região e promoção da sua população, assemelhando-se a um oásis no cada vez mais desertificado e envelhecido interior transmontano.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
Data de introdução: 2012-07-09