ASSOCIAÇÃO TEATRO CONSTRUÇÃO, JOANE

Existimos para servir a comunidade

Quando em 1977 o grupo de jovens que, uns anos antes, decidira juntar-se para dar corpo à enorme vontade de fazer teatro avançou para a constituição legal do agrupamento estava longe de pensar no que, três décadas e meia depois, se tornaria a Associação Teatro Construção (ATC).
“Um pequeno grupo de pessoas ainda muito jovens começaram um projecto sem ter a noção de até onde podiam ir”, começa por recordar Custódio Oliveira, um dos elementos desse grupo fundador e actual presidente da ATC, continuando: “Começaram por fazer teatro num campo de futebol e depois, passo a passo, o projecto foi crescendo, melhorando e ganhando estruturas, transformando-se numa grande instituição ao fim de 35 anos”.
E se foi pela representação que a instituição deu os primeiros passos, ao longo dos anos a ambição foi crescendo e a ATC estendeu-se a outras áreas, trilhando um caminho que procurou sempre dar respostas às necessidades da comunidade em que se insere, ou seja, a vila de Joane.
“Hoje a instituição mantém a alma da cultura, pois tem lá o teatro e toda uma vasta parte cultural, mas tem a parte desportiva, com a Academia do Basquetebol, ou seja, a formação de crianças e jovens no desporto, e uma área de educação e solidariedade social muito forte”, explica Custódio Oliveira, que sublinha: “É um projecto muito bonito, com uma história muito bonita e com algumas características muito próprias”.
Sobre esse grupo de jovens fundador, Custódio Oliveira refere: “Nós somos filhos daquela onda de liberdade, de entusiasmo e de fé que foi o 25 de Abril, desse sonho que não sabíamos até onde é que ia”.
O primeiro passo de alargamento da acção da Associação resultou de uma necessidade do próprio grupo: “No início dos anos 1980, tomámos consciência de que as mulheres que faziam teatro não tinham onde deixar os filhos, pois não havia uma única creche em Joane, nem à volta, e portanto, tivemos que encontrar uma solução”.
Se o apoio à infância foi a primeira valência que a ATC ganhou em termos de solidariedade social, ao longo dos anos outras necessidades foram surgindo e mais respostas foram criadas pela instituição.
“Temos uma filosofia muito clara na instituição, ou seja, nós existimos para servir a comunidade. As nossas respostas têm que ir de encontro àquilo de que as pessoas deste núcleo urbano precisam. Por exemplo, criámos o Centro de Actividades Ocupacionais (CAO) por solicitação das famílias. A questão da Saúde é a mesma coisa, não queremos dar respostas que já existam, isso não nos interessa. Avançámos agora com consultas de pediatria porque em Joane não existem consultas da especialidade”.

APOSTA NA SAÚDE

Depois de estender a sua actividade à infância, criando uma creche que inicialmente funcionou numa garagem sem condições, à medida que os anos foram passando e as necessidades surgindo, a instituição foi criando respostas nas áreas da solidariedade social, desporto, educação e saúde.


Esta é mesmo a mais recente grande aposta da Teatro Construção, proporcionando à população de Joane, a preços mais económicos, alguns serviços de saúde, como consultas de especialidade, fisioterapia e ainda serviço de enfermagem. Por altura do aniversário, celebrado a 18 de Maio, a ATC anunciou a criação de mais três respostas nesta área, que são as consultas de Pediatria, de Psicologia e de Terapia da Fala, sempre com o fito de “encontrar respostas que, em termos financeiros, sejam vantajosas para as pessoas”, sustenta o presidente da instituição do concelho de Vila Nova de Famalicão.
Ainda na área da Saúde, a ATC tem o projecto para um Hospital de Cuidados Continuados, mas a conjuntura económica e a falta de apoios estatais obrigou os seus responsáveis a colocá-lo na gaveta, na esperança que melhores dias venham e a estrutura hospitalar possa então tornar-se uma realidade.
“Quando avançámos com a ideia do Hospital de Cuidados Continuados, que na altura ainda se chamava Hospital de Rectaguarda, fizemo-lo por considerarmos que na zona era um equipamento útil e necessário. Fizemos o projecto e demos os passos necessários… Porém, os poderes públicos entenderam que não era necessário, é um problema deles, pois nós fizemos a nossa parte”, argumenta Custódio Oliveira.
Com quase uma centena de funcionários e um universo de cerca de meio milhar de utentes, entre crianças, jovens e idosos, a ATC, que começou num campo de futebol, é hoje uma instituição com dois equipamentos de qualidade.
“O último grande desafio da instituição foi fazer as obras na Casa Telhado, pois foi intervir num edifício antigo e velho e que já não tinha as condições devidas e até legais para acolher as crianças. Conseguir apoios para fazer essas obras, porque não entravam no PARES, alguns dos quais ainda estamos a pagar ao banco, foi o último grande desafio. O penúltimo foi fazer a Casa de Giestais, para os idosos, inaugurada em 2001”, afirma o presidente da instituição.
Se estes foram os últimos grandes desafios da instituição, em que pelo meio surgiu ainda a certificação de qualidade, conseguida para todas as áreas da ATC, o futuro constitui novo grande desafio, com novos problemas a solicitarem a intervenção da Teatro Construção.
“Em termos de ideia, o nosso grande problema é ainda não termos dado resposta ao grande flagelo da comunidade e que se chama desemprego. E quando digo dar resposta é ajudar, porque dar uma resposta global é impossível, mas queremos encontrar formas de combater esse problema”, defende Custódio Oliveira, prosseguindo: “Em termos de projectos físicos, precisamos de espaços para o CAO e temos o projecto de um pequeno lar para pessoas com deficiência e CAO. Temos o projecto feito e quando conseguirmos o financiamento avançaremos, pois já temos o terreno. Depois, ainda temos a unidade de cuidados continuados, como já referi. E, em último lugar, e aí não temos terreno, nem projecto, precisamos de um pavilhão desportivo por causa do basquetebol. Os cerca de 150 miúdos da Academia de Basquetebol treinam em três locais diferentes e isso é muito dispendioso”.


E as questões financeiras, na ATC como em qualquer IPSS, são sempre alvo de muita atenção por parte dos seus responsáveis, daí que na instituição de Joane a sustentabilidade seja encarada de uma forma muito pragmática: “Sempre tivemos por princípio que as actividades não podiam dar prejuízo, mas nós agora substituímos este princípio por um outro em que toda a iniciativa tem que ter mais-valia para reverter para a ATC. A sustentabilidade constrói-se assim. Conseguir lucro em alguns projectos é muito importante, porque há muita gente que não paga nas nossas valências e para se poder servir estas pessoas é necessário que as coisas aconteçam desta forma”.
Apesar de tocar outras áreas bem mais concretas, como seja educar crianças e jovens, cuidar dos mais velhos, proporcionar a prática desportiva, prestar cuidados de saúde à população, é na Cultura que reside a alma da Associação Teatro Construção, e talvez por isso o sonho de crescer tenha sido sempre alimentado de ilusões que com o tempo se tornaram reais.
“Continuo a dizer sempre, porque o penso com toda a convicção, que a Cultura, como espaço de liberdade, de pensamento e de ter ideais, é a alma da Associação. Temos que ter consciência de que a raiz da ATC está na Cultura”, sustenta Custódio Oliveira.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2012-07-09



















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