LAR DE IDOSOS CONCLUíDO NO FINAL DE SETEMBRO

Centro Social Nª Sª do Extremo, Vila Pouca de Aguiar

É já este mês de Setembro que o Centro Social Nossa Senhora do Extremo terá concluída a construção de um Lar de Idosos, pensado para 20 utentes, mas que à luz do PES – Programa de Emergência Social terá capacidade para mais três seniores. Porém, mais vagas houvesse e todas estariam preenchidas.
“Este novo equipamento não cobre de forma alguma as necessidades que existem neste momento… O nosso Lar era para 20 utentes, será alargado para 23, devido à nova lei, mas verificamos que se fosse para 40 tínhamos gente para encher. No entanto, essa não é nossa intenção, porque não vivemos para ter um Lar grande e sermos os maiores, mas para servir as pessoas. E sabemos que o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) é o que melhor se adequa à nossa região”, sustenta Borges Machado, presidente da instituição, explicando: “Para o Serviço de Apoio Domiciliário temos Acordo de Cooperação para 40 utentes, mas se tivéssemos para 80 seria o ideal… Contudo, sabemos que o Governo não tem mais verbas disponíveis. E como fazemos o acompanhamento do RSI em todo o concelho, conhecemos muito bem as aldeias… Entretanto, fizemos um estudo para saber da necessidade da resposta social de Lar de Idosos e verificámos que as pessoas preferem e querem o Apoio Domiciliário. Arrancar um idoso da sua habitação, do seu ambiente e colocá-lo num lar não é a melhor forma de lidar com a problemática da velhice na nossa região. O nosso lar é efectivamente pequeno por isso mesmo. A necessidade maior é alargar o Apoio Domiciliário, pois assim as pessoas ficam nas suas casas e muito mais felizes. Não quer dizer que no Lar não se sintam felizes, mas é desenraizá-las e isso acarreta uma série de outros problemas”.
O novo equipamento está a ser construído ao abrigo do POPH, medida 6.12 do QREN, cujo projecto foi aprovado em Março de 2009. Inicialmente, a instituição tinha a perspectiva de receber uma comparticipação do POPH de 60%, mas como a matriz foi ultrapassada e o custo da obra subiu, a comparticipação da instituição subiu de 40% para os 59%.
Para tentar fazer face a este aumento dos custos para a instituição, Borges Machado revela que o Centro Social espera poder aceder à linha de crédito de 50 milhões de euros que o Estado entretanto criou… “Mas se não conseguirmos a verba dessa forma, consegui-la-emos de outra qualquer”, remata o presidente da instituição.
Porém, existe uma outra questão relacionada com o novo equipamento que deixa os seus responsáveis bastante preocupados e que se prende com o funcionamento do mesmo, pois, como se sabe, o Estado não está a realizar novos Acordos de Cooperação.
“Esta é, na maioria, uma população carenciada, com pensões baixas e a nossa grande dúvida é quando o Lar estiver em funcionamento como será a comparticipação dos utentes. Ninguém tem dinheiro para entrar para o Lar!... Se houver comparticipação da Segurança Social tudo bem, caso contrário é impossível abrirmos. Não conheço pessoas daqui que tenham reformas acima dos 500 euros e a maioria são mais baixas”, sustenta Borges Machado, sublinhando que apoiar os idosos “é a grande necessidade” da região.
Apesar de ser uma pequena aldeia cuja população não atinge as 200 pessoas, Tourencinho criou uma instituição cujas respostas sociais – Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Convívio – cobrem todo o vale sul do concelho de Vila Pouca de Aguiar, mais concretamente, as freguesias de Telões, que tem 11 aldeias, e a de Soutelo, que tem quatro.
Actualmente, no Serviço de Apoio Domiciliário, o Centro Social Nª Sª do Extremo alcança 40 utentes, enquanto o Centro de Convívio é frequentado por duas dezenas de idosos. O corpo de funcionários da instituição é de 16 pessoas, a que se juntam mais quatro adstritas ao acompanhamento dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção, num total de quase 200 pessoas.
Assim, o campo de intervenção do Centro Social Nª Sª do Extremo abrange várias faixas etárias e várias áreas. O trabalho desenvolvido pela equipa assenta no acompanhamento sistemático das famílias, as quais são encaminhadas para as diferentes áreas de intervenção (emprego, educação, formação profissional, saúde, ação social e habitação). Através deste acompanhamento pretende-se contribuir para a progressiva inserção social, laboral e comunitária dos indivíduos e prestar os apoios necessários a cada situação em particular, de forma a contribuir para a satisfação das necessidades básicas dos mesmos.
Isto dá à instituição um conhecimento profundo da situação económica-social do concelho em geral e da sua área de influência em particular, facilitando a implementação das respostas que mais se adequam às diversas situações.
A instituição funciona ainda como Centro de Formação Profissional, tendo ali já sido ministrados seis cursos, para mais de 120 pessoas.
“Em dois dos cursos que aqui foram ministrados, na área do apoio familiar à comunidade, no âmbito da geriatria, a empregabilidade chegou quase aos 100%”, diz, com orgulho, o presidente da IPSS.

NOVE ANOS DE ACÇÃO SOCIAL

O Centro Social Nª Sº do Extremo foi fundado a 23 de Dezembro de 2003, sendo portanto uma instituição criada já no novo Milénio, fruto da avaliação que as pessoas da aldeia de Tourencinho fizeram da situação social, não apenas da aldeia, mas dos aglomerados habitacionais vizinhos.
“A instituição nasce porque esta aldeia e a zona envolvente tem uma população muito idosa. O próprio concelho de Vila Pouca de Aguiar está envelhecido, aliás, como todos os concelhos do Interior… Este é um concelho muito virado para a emigração e todos os que têm capacidade de trabalho vão procurá-lo a outro lado, pelo que aqui ficam apenas os idosos e as crianças”, refere Borges Machado, acrescentando: “Aqui temos muitos idosos e muitas crianças e apercebemo-nos que não havia uma rectaguarda familiar, pelo que resolvemos criar uma associação com essa finalidade. Claro que nascemos numa altura em que os recursos não eram muitos, mas como esta aldeia tem uma exploração de pedreiras que o Conselho Directivo da aldeia tem alugadas a empresas, alguns recursos vêm daí”.
Numa terra em que a agricultura é, essencialmente, de subsistência e as indústrias que criem emprego e riqueza inexistentes, a exploração de granito, em que a região é muito rica, acaba de servir de contra-balanço. Com os terrenos da aldeia a renderem verbas importantes para a mesma, o Conselho Directivo de Tourencinho gere-os de forma criteriosa, melhorando não apenas as infra-estruturas da aldeia, mas, desde 2003, tratando também das pessoas.
“Para além dos recursos que usamos na reparação de caminhos, infra-estruturas públicas, como tanques para lavar roupa, zonas de regadio e outras, sentimos que havia necessidade de alargar a utilização desse dinheiro em prol da população. E na área dos idosos estava a fazer muita falta. Então, criámos a associação em Dezembro de 2003 para que no ano seguinte iniciássemos actividade”, explica Borges Machado, recordando: “Adquirimos umas casas aqui no seio da aldeia, reconstruimos o edifício e, desta forma, também damos vida à aldeia. Iniciámos a nossa actividade em 2004 com a distribuição de alimentos no âmbito do Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC), da União Europeia, nas freguesias de Telões, Soutelo, Lixa e Afonsim. Nesse ano de arranque reconstruimos o edifício e iniciámos a nossa actividade logo com 20 utentes e, desde então, temos vindo a crescer”.
E este crescimento tem sido feito fundamentalmente à custa de dinheiros da comunidade, essencialmente originados na exploração das pedreiras de granito.
“Não somos uma instituição rica, longe disso, mas o Estado, para as nossas infra-estruturas, deu-nos apenas 25 mil euros em nove anos. Isto é tudo fruto do dinheiro da comunidade”, frisa o presidente da instituição, referindo que a saúde financeira da instituição “é boa, fruto de uma gestão muito cuidada e criteriosa”.
“Digo que é boa no sentido de fazermos uma boa gestão. Não devemos dinheiro a ninguém, temos uma obra a decorrer e vamos precisar de dinheiro para ela, mas, em termos de gestão diária, o saldo no final do ano é sempre positivo. É com esta gestão mais equilibrada possível que conseguimos ter meios para responder a todas as solicitações que nos batem à porta… e são muitas!”.
No momento actual, em que a crise afecta cada vez mais pessoas, também na zona de influência da instituição isso se verifica.
“Estamos a gastar muito mais e a receber menos e as necessidades no concelho estão a aumentar de uma forma exponencial”, começa por dizer Borges Machado, dando conta de algumas iniciativas que a instituição tem tomado no sentido de as minimizar: “Antes de alguém falar nas Cantinas Sociais, esta instituição fez uma candidatura à EDP Solidária no sentido de fornecer alimentação às crianças do RSI e outras no período pós-aulas, ou seja, fim-de-semana e férias. E tivemos já a felicidade de entrar na segunda fase, pois já nos foram solicitados os documentos com vista à muito provável aprovação do projecto. É uma candidatura que ultrapassa os 90 mil euros, mas em que 75% da verba é para alimentação, pois funcionará com voluntários e meios da instituição. É que as carências aqui na zona são enormes… Os idosos por vezes até tinham alguma folga financeira, mas agora os filhos socorrem-se deles e quem sofre com isso é a instituição. Os nossos meios em termos de alimentação estão a ser reforçados ao máximo. O que achamos ser a gestão correcta, e uma vez que a região tem estes recursos endógenos que são os granitos, é aplicarmos criteriosamente as mais-valias nas infra-estruturas da aldeia, mas também nas pessoas. Outros têm grandes instalações e fizeram pouco, mas nós temos umas instalações humildes, mas fazemos muito por estas gentes”.

ALDEIA PEQUENA COM OBRA GRANDE

De facto, a dimensão da aldeia é em muito ultrapassada pela acção da instituição.
“Tourencinho é uma aldeia, mas, como se diz na minha terra, «o burro não vai à feira por ter as orelhas grandes»… Podemos ser uma aldeia pequena, mas fazemos coisas grandes. Somos uma aldeia pequena, mas somos solidários e fazemos coisas grandes. Não foi fácil demover esta gente para que os recursos da própria aldeia fossem aplicados na aldeia, mas também para beneficiar outras. Foi preciso fazê-los ver que ser solidários com os outros era a melhor forma… Chegou-se a pensar em construir o Lar noutro local, mais central, mas concluímos que não há espírito de entreajuda por parte das aldeias, então a nossa aldeia faz e depois partilha com as outras. E hoje com os nossos recursos temos obra que está à vista”, sublinha Borges Machado, que explica ainda que a escolha do nome da instituição foi igualmente uma forma de combater o a rivalidade que existe entre aldeias: “Ao dar nome à instituição já pensámos nisso. Não lhe íamos chamar Centro Social de Tourencinho, porque aí fechávamo-lo à restante comunidade. Assim, encontrámos a forma ideal da instituição ser mais abrangente, pois o Santuário de Nª Sª do Extremo diz muito a todas estas gentes”.
Apesar de a sua acção ser essencialmente voltada para a Terceira Idade, o Centro Social não deixa de promover o contacto dos idosos com as crianças da aldeia.
“A instituição tem uma parceria com a escola primária, em que todas as semanas as crianças vêm aqui e um outro em que os idosos vão lá. Fazemos caminhadas com os idosos e as crianças, celebramos o Carnaval, o Dia da Árvore, e desenvolvemos todo um conjunto de actividades em conjunto… E pode ter a certeza que é das coisas mais bonitas que fazemos”, enfatiza Borges Machado, para quem Tourencinho e a zona envolvente seria “uma terra de ninguém ou quase ninguém” se não existisse a instituição: “Pelo menos estariam mais pobres, mais tristes. Hoje a aldeia tem algum movimento devido à instituição e nós somos também um consumidor dos bens da aldeia, como batatas e tudo o que aqui se cultiva”.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2012-09-20



















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