A União Distrital das IPSS de Aveiro tem um pouco mais de 180 instituições filiadas e uma nova Direcção, eleita em Abril do corrente ano e presidida por Carlos Martins, que lidera igualmente o Centro Social, Cultural e Recreativo da Freguesia de Avelãs de Cima. Reconhecendo ainda não se ter dedicado aos destinos da União como deseja, mas espera fazê-lo em breve, o novel líder da estrutura distrital aveirense das IPSS é peremptório em afirmar que “a União agora está a ser orientada de maneira diferente”, apostando num novo e mais amistoso relacionamento com a CNIS.
Solidariedade – Que retrato social, no actual momento, traça do distrito de Aveiro? Carlos Martins – Este é um distrito que, tal como todos os outros, sofre dos mesmos problemas que grassam por esse País fora. A crise também se sente aqui e Aveiro não é um distrito incólume a essa situação. As pessoas estão, de um modo geral, a viver com grande apreensão, porque todas as informações que temos é que o dia de amanhã parece mais sombrio do que o de hoje… Há várias instituições que estão a passar momentos de dificuldade por razões diversas que já vinham do passado e que foram agravadas pelas do presente.
E quais são as instituições mais afectadas? Especialmente, as que têm grandes estruturas relacionadas com a infância. Surgiram, agora, os Centros Escolares e os Pólos Escolares e as instituições já tinham a estrutura toda montada… Por exemplo, a instituição a que presido já teve 110 crianças e, neste momento, tem cerca de meia centena. A natalidade tem vindo a diminuir por todo o País e, em segundo, o desemprego tem obrigado os pais a procurar outras soluções, no caso da minha instituição por causa das deslocações.
Dividindo o distrito em dois, ou seja, uma faixa litoral e mais urbana e uma mais interior e rural, há grandes diferenças entre as instituições de cada uma delas?
Nos grandes centros do Litoral, as instituições têm as valências de creche, pré-escolar e ATL praticamente todas preenchidas, não sentindo tanto os problemas sentidos na parte mais interior e rural, como sejam a dispersão populacional e as distâncias.
Os problemas do distrito, como referiu, centram-se mais na infância, mas, por outro lado, há falta de capacidade de resposta em termos de terceira idade? As instituições variam muito umas das outras e tem tudo que ver com o que cada uma tem para oferecer. E
algumas instituições começam já a ter alguma dificuldade em preencher as vagas em Lar, porque o desemprego faz com que os filhos fiquem em casa a cuidar dos pais e usem as reformas para ajudar no orçamento familiar. Poderá haver distritos com situações mais gravosas do que o de Aveiro, mas temos que estar atentos. Como presidente da União preciso de estar mais por dentro de todas as situações relacionadas com as instituições do distrito, mas ainda não cheguei lá, porque ando muito envolvido com a obra de ampliação do Lar na instituição de Avelãs de Cima. Porém, em breve vou desligar-me da instituição que presido há 32 anos e o que pretendo é dedicar-me efectivamente às outras instituições, porque sei que algumas não são tão cuidadas como deviam, em termos organizacionais e em termos de custos.
Nesse sentido, já foi feito alguma coisa? Até ao momento tivemos apenas duas reuniões de Direcção, mas o que está previsto é passarem a ser na primeira segunda-feira de cada mês… No entanto, para actuar preciso de tempo para me sensibilizar com a realidade da União e do distrito, mas ainda não consegui por causa da obra que decorre na minha instituição. Tenho andado tão ocupado que nem tenho tempo de passar por Aveiro, mas vou passar a fazê-lo quando deixar a presidência da instituição.
E a crise que se vive expôs mais essas situações? Dantes as vacas davam mais leite e não havia preocupação caso se perdessem algumas gotas… Agora não, porque as vacas estão mais magras e há que aproveitar todo o leite e fazer com que este seja convenientemente distribuído.
Sabendo-se que os recursos do Estado são escassos, que medidas advoga a UDIPSS Aveiro para que a situação de dificuldade de muitas instituições possa ser atenuada? Não será em todo lado, mas em determinadas situações as instituições poderiam aproximar-se mais e trabalhar em rede, no sentido de se ajudarem mutuamente numa série de situações. E fundamentalmente é preciso que as Direcções tenham uma forte sensibilidade para optimizar ao máximo as potencialidades de obter donativos e apoios particulares. No caso da minha instituição, por exemplo, fiz o que muito poucas fizeram, ou seja, criei uma horta social e uma grande parte do que se consome na instituição será, em breve, criado na nessa horta… Mas nem todas as instituições têm possibilidade de fazer uma horta com 500 metros quadrados! Depois, depende muito da dinâmica e da sensibilidade de cada Direcção… E há aqui um dado que nos preocupa, porque agrava a situação das instituições e que se prende com as educadoras, que têm progressão na carreira e recebem 14 meses. Uma educadora nas IPSS ganha muito mais do que as do sector público, porque estas viram o seu rendimento cortado. Penso que houve um erro na negociação ao
aceitar-se que as educadoras das IPSS se igualassem às do público… Isto é, veio esta reviravolta da crise e às do público tiraram subsídios e congelaram as progressões na carreira, mas nas IPSS não! E assim continuam a ganhar muito mais do que as do público.
Que mensagem, como presidente da UDIPSS, gostaria de deixar às instituições de Aveiro? Gostava que na União de Aveiro fôssemos capazes de ter um diálogo mais próximo, para vivermos mais próximos… Houve um período no passado que criou um mal-estar que, quando assumi a liderança, procurei acabar. Tive uma reunião com o senhor padre Lino Maia, sobre a qual informei a Direcção. Como se pode ler na acta da primeira reunião, “na oportunidade, a Direcção da União de Aveiro congratulou o presidente por esta tomada de decisão, considerando-a uma manifestação explícita de esperança de um futuro em união”. O que quero é que seja posta uma pedra em cima da trapalhada que existiu entre a União de Aveiro e a CNIS… E se nessa altura estava na União mais para fazer número, agora que presido quero aproximar-me de quem preciso e que é o meu presidente da CNIS. E quero que o senhor padre Lino Maia conte comigo e com a União de Aveiro. O que digo para o interior da União é que preciso da ajuda da CNIS, mas de uma forma escorreita, porque o que lá vai, lá vai… Espero que os factos passados tenham sido enterrados e que agora entremos numa fase de relacionamento diferente. A União está a ser orientada de maneira diferente, porque quando fui eleito foi ao que me propus. E é isso que quero continuar a fazer.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
Data de introdução: 2012-10-26