JOÃO CARLOS DIAS, PRESIDENTE-ADJUNTO DA CNIS

Sou muito mais adjunto do que presidente...

João Carlos Dias é, desde o último Congresso Eleitoral, realizado em Fevereiro deste ano, o presidente-adjunto da CNIS. Durante 15 anos a função de presidente-adjunto da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade confundiu-se com o estatuto e a visibilidade do professor Eugénio Fonseca.
João Carlos Dias, 50 anos, vogal da direcção da APPACDM de Lisboa, assume ter sido surpreendido pelo convite do padre Lino e explica que não quer imitar o seu antecessor no desempenho do cargo. Não quer e também reconhece que seria impossível. Nas novas funções, prefere virar-se para dentro, para a dinâmica e estrutura da CNIS, do que ser um rosto e uma voz pública da organização. Nesse particular, João Carlos Dias elogia a força tranquila da liderança do padre Lino Maia que tem credibilizado a Confederação.
João Carlos Dias tem formação em design da comunicação, foi professor de educação visual. Entrou na CNIS em 2006 fazendo parte da primeira equipa do padre Lino Maia. Nos dois primeiros mandatos foi vogal. Agora é presidente-adjunto.


SOLIDARIEDADE - Ser presidente-adjunto da CNIS é diferente de ser apenas dirigente?
JOÃO CARLOS DIAS - É uma responsabilidade que nunca pensei vir assumir, nunca me passou pela cabeça estar a desempenhar esta função. É uma função de alguma forma complexa, mas é essencialmente uma função de apoio, de retaguarda ao presidente da CNIS que é quem, de facto, tem a responsabilidade de gerir toda esta organização.

A função foi criada em 1996. O professor Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas, foi o presidente-adjunto de três líderes da CNIS. Até agora tinha sido o único. Sente, de alguma forma, o peso desse passado?
Não, não pesa. O professor Eugénio tem uma dimensão neste meio muito importante. Ele desempenhou o cargo de presidente-adjunto tendo por base essa sua experiência, esse seu estilo, essa sua forma de estar. E desempenhou-o de uma maneira que a mim não me passa pela cabeça vir a desempenhar. Somos pessoas diferentes, com experiências de vida completamente diferentes, temos visões coincidentes relativamente a determinadas matérias, outras nem tanto. Ele tinha um papel preponderante e é uma figura pública dentro e fora da CNIS. Não é esse o meu papel. O meu papel é de apoio directo e de suporte ao presidente. É um papel completamente diferente.

Por natureza, uma das suas funções pode ser a de substituir o presidente...
Esperemos que não seja necessário. Mas mesmo que isso venha a ocorrer, será sempre com uma ligação muito próxima com padre Lino. Com esta posição não estou propriamente a subalternizar o meu papel, mas quando fui desafiado para assumir este papel, disse logo desde o princípio que o meu papel seria um papel de retaguarda, um papel de apoio, de complementaridade, se for o caso, para acções mais internas da CNIS.

Em termos da estrutura e da orgânica da Confederação Nacional faz sentido continuar a haver um presidente-adjunto?
Eu não estou muito focado nesse aspecto. Em teoria, eu tenho uma responsabilidade diferente daquela que eu tinha como vogal. Obviamente, tenho uma responsabilidade diferente. Mas não estou propriamente focado, no meu dia-a-dia, no facto de ser ou não um presidente-adjunto. Sou um elemento daquela direcção que tem uma responsabilidade de acompanhar, estar perto, e dar suporte ao presidente de diversas formas. Tentando que a direcção, no seu todo, e cada um dos seus elementos, corresponda às necessidades de resposta ao nível da negociação, da representação, mas é mais tentar liderar esse processo interno. Não estou muito focado no facto de desempenhar o cargo de presidente-adjunto. É uma função que desempenharia com outro título qualquer. Sou muito mais adjunto do que presidente.

O professor Eugénio Fonseca dava-lhe uma dimensão diferente. Havia um presidente-adjunto com uma visibilidade própria, para além da do presidente. No seu caso, quase anulou essa função. Foi de propósito?
Não se trata de anular. Estamos a falar de personalidades diferentes. O professor Eugénio tem aquela dimensão pública. Mesmo que houvesse uma opção por parte da direcção da CNIS de que o presidente-adjunto não tivesse aquela visibilidade, era impossível porque ele próprio tem essa dimensão pública. Eu não a tenho. Ele tem uma apetência para essa própria dimensão. Eu não e assumi desde logo o tal papel de apoio. Não se trata de anular. Acho também preferível que exista apenas um rosto que é conhecido do que dois rostos. E com isso não quero dizer que não tenha funcionado muito bem durante os anos anteriores com o professor Eugénio como presidente-adjunto, quer do padre Lino, quer de outros presidentes. Porque funcionou bem. Houve sempre sintonia. Mas não tendo eu essa apetência para a função, para essa visibilidade, não vejo justificação para que, à força, a procure. Porque não há necessidade disso. Somos duas pessoas diferentes, que desempenhamos o mesmo papel, mas que o desempenhamos de uma forma diferente.

E acha que, no passado recente, a CNIS ficou a ganhar com a coexistência de dois protagonistas na cúpula?
O padre Lino tem uma forma de comunicação muito própria. É um homem que diz o que tem a dizer no momento em que deve ser dito. Isto pode ser entendido por muitos por deficit de visibilidade e comunicação. Apesar de tudo, estou de acordo com ele. Acho que é importante dizermos apenas aquilo que deve ser dito e dizê-lo apenas na altura certa. Eu acho que ele desempenha bem esse papel. Entre nós falamos dessas situações e, portanto, há um acompanhamento da minha parte relativamente a essas opções. Eu percebo que as pessoas queiram notícias, eu percebo que de alguma forma, as IPSS no seu todo, gostassem de se rever na imagem que o padre Lino projetaria delas próprias ao aparecer mais. Mas é importante que este sector tenha alguma reserva e não entre em demasiados comentários nem em demasiadas notícias que acabam por, muitas das vezes, nem se virem a confirmar. Julgo que esta calma, esta serenidade de olhar para as coisas e responder aquilo que deve ser respondido, no tempo exacto, é a melhor opção para a CNIS. Nos mandatos anteriores, tínhamos muitas vezes, o presidente-adjunto da CNIS em várias intervenções públicas, mas se reparar, muitas vezes em nome da Cáritas e não propriamente em nome da CNIS. Portanto, se pensarmos bem, não existe uma grande diferença, ou seja, em nome da CNIS, continua como antes a falar, o padre Lino Maia.

Foi essa intervenção ponderada, tranquila, serena, que granjeou uma credibilização de que a CNIS necessita para ser tida em conta?
Eu acho que sim. Eu acho que estes dois últimos mandatos foram de uma grande afirmação pela credibilidade. Hoje a CNIS é uma organização respeitada que dá contributos válidos para a resolução dos problemas que o país enfrenta, que os dá de forma antecipada. Não os publicita, é verdade. Não anda a dizer aos quatro ventos que vai fazer, tem-no feito e depois de feito, tem anunciado os resultados.


E tem sido considerada um parceiro efectivo dos sucessivos governos...

Tem. Nós hoje ouvimos duas críticas constantes: a de que não intervimos o que devíamos intervir e a outra é a de que estamos muito ligados ao poder e, portanto, numa grande sintonia com este governo. O que é curioso é que já era assim com o anterior governo...

Há cinco anos atrás a crítica era a de que a CNIS era pouco considerada pelo poder, nas opções sociais...
Hoje, só quem não quiser reconhecer... é, de facto, considerada e os resultados que tem obtido falam por si. Veja-se o que foi o último protocolo de cooperação que, em muitas situações, ajudou a resolver problemas efectivos das instituições e que, apesar de tudo, conseguiu um sinal importante que foi a actualização da comparticipação do Estado para o sector social, embora não fosse tão expressivo e tão significativo para a vida das instituições como nós gostaríamos. Mas, comparado com os outros sectores e tendo em conta tudo aquilo a que assistimos, é um sinal de respeito e de compreensão pelo papel das IPSS, neste grave momento de crise.

Na liderança da CNIS, houve um problema de substituição do padre José Maia, que esteve catorze anos à frente da organização. Encontrou-se o padre Lino Maia que diz agora estar no último mandato... A CNIS vai ter outro problema para encontrar um novo líder?
Não sei se vai ser este o último mandato do padre Lino. Ele tem manifestado essa vontade. Acho que é compreensível. Têm sido mandatos muito desgastantes, para ele em particular. As pessoas não imaginam as vezes que ele se desloca a Lisboa, por semana, e o que isso acarreta em termos de cansaço, disponibilidade mental e até do que representa em termos do afastamento daquilo que é a sua actividade principal. Ele é pároco e, portanto, tem uma actividade a que não pode virar as costas. É natural que ele apresente, neste momento, pouca disponibilidade para um novo mandato. Não sei se vai ser assim daqui para o futuro. Agora... só há uma solução de substituição que é a vontade das instituições. Haverá candidaturas, com certeza, findo este mandato, com ou sem candidatura do padre Lino. As instituições, em função dos programas apresentados por essas candidaturas hão de tomar as suas decisões e assumir desta forma os destinos da CNIS.

Neste mandato tem havido algumas alterações estruturais, mas acha que a CNIS, desse ponto de vista, precisa ainda de afinação maior?
Claro que precisa. Nós assentamos num modelo que é um modelo questionado por muitos. Desde logo, existem uma séries de vozes, representantes de algumas uniões distritais que reclamam, no mínimo, essa reflexão. E nós próprios, nós direção da CNIS, estamos abertos e entendemos que chegou o tempo de olharmos para esta estrutura e de a repensar. Agora isso tem que ser um processo muito aberto, tem que ser um processo com a participação de todos. Não pode ser a soma das vontades de toda a gente porque isso tornará a CNIS numa coisa inoperacional. Mas vai ter que ser uma reflexão profunda, com a participação de todos e com o assumir, por parte desta direcção, de um rumo que o proporá no órgão mais aberto e mais democrático que existe, que é a Assembleia geral. Mais tarde ou mais cedo, isso será feito.

A relação da CNIS com as Uniões e com as bases tem que ser repensada?
Tem, e isso é algo que, quer as Uniões, quer a direcção da CNIS, quer as instituições de base, uns por uma razão outros por outra razão, mas todas elas reclamam que deve haver aqui alguns ajustamentos. Eu não sei se são pequenos ajustamentos ou têm que ser grandes ajustamentos, o que sei é devem resultar da vontade do colectivo. A CNIS desempenha uma série de actividades com uma estrutura pequena. No tempo que estamos a atravessar não me parece propriamente útil estar a pensar numa reestruturação para aumento de dimensão. Nós temos um grupo de assessores que tem sido muito importante para o desempenho de funções nesta direcção. Julgo que tem que ser feita também uma reflexão a propósito da representação nos fóruns onde está a CNIS. Estamos a iniciar esta discussão de maneira a rentabilizar os recursos que temos. Tem havido uma atitude voluntarista de irmos a tudo aquilo que nos é pedido. Há que repensar essa dispersão e reorganizarmo-nos.

São tempos complicados... O maior problema da CNIS não será o de lidar com o risco de colapso do sector solidário?
Quero crer que não. Os responsáveis, e a CNIS também faz parte desse grupo, têm que encontrar soluções para responder às necessidades de quem precisa. Temos que centrar a nossa acção na resposta às necessidades de quem precisa, mais até do que às necessidades das instituições. Nós não podemos assentar todos os problemas deste sector na sustentabilidade e na falta de dinheiro. Temos que ser capazes de gerir de forma adequada as instituições pelas quais somos responsáveis. É isso que temos feito. Estou convencido de que vamos ser capazes de encontrar soluções, conjuntamente com o Estado, para um financiamento justo às instituições.

V.M Pinto - Texto e fotos

 

Data de introdução: 2012-11-08



















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