A PROSALIS é uma IPSS promotora de saúde, no sentido de dar continuidade a todo o trabalho que tem vindo a desenvolver na área da inserção sócio-profissional de toxicodependentes, reclusos e populações desfavorecidas, inicialmente apenas em Lisboa, mas que rapidamente se estendeu ao País inteiro, especialmente no que toca a levar a sua acção aos diversos estabelecimentos prisionais espalhados pelo território nacional.
“A PROSALIS nasceu para ajudar no combate à toxicodependência, numa altura em que havia pouca resposta nessa área. Nasceu na Clínica Universitária do Hospital de Santa Maria e pretendia dar resposta ao tratamento. Nesse caso eram consultas para toxicodependentes”, começa por recordar Maria Helena Paes, fundadora e presidente desde há 23 anos, tempo de vida que a instituição conta.
Como, entretanto, o problema da toxicodependência ganhou as próprias valências promovidas pelo Estado, como os CAT – Centros de Atendimento a Toxicodependentes, “a PROSALIS virou-se mais para a parte da reinserção social”.
“Foi nessa altura que se tornou entidade formadora e começou a ministrar formação certificada, tendo concorrido a projectos transnacionais. Tivemos alguns parceiros que trabalhavam em contexto prisional. Pedimos à Direcção Nacional dos Serviços Prisionais uma parceria que nos foi concedida, num primeiro momento num trabalho fora das prisões e depois, noutro momento, demos formação em contexto prisional. Neste contexto introduzimos toda uma componente comportamental, que na altura não se usava, dinâmicas de grupo, dinâmica de partilha, desenvolvimento pessoal, etc.”, explica a presidente, acrescentando: “Começámos a trabalhar a nível nacional, com intervenção em 29 estabelecimentos prisionais, sempre com parcerias com outras prisões de diversos pontos de Espanha, Bélgica e outros países, e ainda a desenvolver um trabalho com mães com filhos em contexto prisional”.
Para Maria Helena Paes, o propósito da instituição sempre esteve focado na prevenção, pelo que, entretanto, se constituiu como associação de família.
“Preocupámo-nos sempre muito com o público com que trabalhamos, seja em contexto prisional, seja a população toxicodependente… A nossa ideia foi sempre prevenir, cada vez mais cedo e em família, e foi nesse sentido que nos tornámos associação de família e organizámos o primeiro congresso sobre o que falta em políticas de família”, explica.
Essa preocupação com a prevenção em contexto familiar, levou a instituição a criar um ATL, uma creche e um jardim-de-infância, a efectuar distribuição alimentar, a ministrar muita formação fora do contexto prisional e ainda realizar diversos projectos no âmbito da inclusão.
“Hoje, a PROSALIS é secretária do Comité para a Família das ONG da Organização das Nações Unidas e passou a ter sempre uma intervenção com uma visão mais global”, sustenta a presidente, adiantando: “Por outro lado, foram-nos surgindo situações e pedidos de ajuda de pessoas com alguma idade e aí surge a PROSALIS, que numa primeira fase não estava vocacionada para essa área, a intervir na área dos idosos. Com a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da esperança de vida, passou também a ser uma das nossas preocupações e sentimos que também era nossa obrigação colaborarmos a esse nível. Começámos, então, a ministrar formação aos cuidadores formais e informais, que tinham uma necessidade de formação muito grande”.
FORMAR CUIDADORES
É neste âmbito que surge a candidatura ao Prémio Manuel António da Mota, que foi escolhido para os 10 finalistas, tendo recebido uma Menção Honrosa e os respectivos cinco mil euros de prémio.
“O que fizemos foi desenvolver conteúdos programáticos específicos de formação aos cuidadores formais e informais”, explica a presidente, que remete para Dora Pinto, responsável pela área de Formação da PROSALIS, uma explicação mais detalhada do projecto candidato: “Tem por base os cuidadores, as pessoas que estão a cuidar de idosos, sejam cuidadores formais ou informais. A nossa experiência diz-nos que cuidar de idosos traz uma carga de stress e grande esforço físico e emocional pelo que é preciso cuidar de quem cuida. Esta formação tem uma componente para os cuidadores formais, portanto pessoas ligadas ao contexto institucional, e que acaba por ser uma formação mais técnica… Estas pessoas já têm alguma formação, mas há sempre conhecimentos novos, actualizações e novas doenças, pelo que é preciso investir na reciclagem. Por outro lado, também apostamos na formação dos cuidadores informais, pessoas que estão no mesmo contexto familiar do idoso e que precisam de uma rectaguarda e de alguns conhecimentos técnicos para que possam ajudar melhor o seu idoso”.
O projecto pretendia abarcar a formação três centenas de cuidadores, mas a não vitória vai obrigar a redimensionar a sua aplicação prática.
“Inicialmente, o projecto pretendia abranger 300 cuidadores, mas agora terão que ser forçosamente menos”, argumenta Dora Pinto, ao que a presidente da instituição acrescenta: “Isto não invalida que se surgir algum projecto de financiamento não possamos concorrer, seja no Fundo Social Europeu, ou outro”.
POLÍTICAS PARA A FAMÍLIA
Numa primeira fase, a PROSALIS dedicava-se só à problemática da toxicodependência, ou seja à área da saúde, mas depois abriu-se à acção social e tornou-se associação de família.
“A PROSALIS está inserida na comunidade e sente os seus problemas… A primeira acção que fizemos foi o nosso primeiro congresso internacional subordinado ao tema estilos de vida e comportamentos aditivos, uma acção que mantemos até hoje, tendo realizado o último congresso no Parlamento, dedicado à questão da Emigração. Estando no terreno sentimos os problemas e como entidade formadora temos facilidade em debatê-los”, sustenta Maria Helena Paes, que sublinha: “Não queremos mudar o Mundo, mas queremos melhorá-lo, se possível… Queremos dar algum contributo para que as coisas evoluam de um modo positivo, tanto a nível dos idosos, que estão inseridos numa família, que hoje estão confrontadas com muitos problemas”.
As questões da família são estruturantes para os responsáveis da PROSALIS, de tal maneira que após dois congressos internacionais dedicados ao que falta em políticas de família, este ano de 2013 terá o terceiro capítulo.
Maria Helena Paes é mesmo bastante crítica perante a ausência de políticas para a família, destacando, por exemplo, a falta de políticas de natalidade em Portugal.
“Quando nos tornámos associação de família realizámos o nosso primeiro congresso para debater o que faltava em políticas de família… Pelos papéis que desempenhamos também a nível internacional, temos obrigação de seguir algumas directrizes da ONU… No nosso modesto entender, como as famílias estão a passar uma crise muito grande e por muitas dificuldades, achamos que era o momento ideal para voltarmos a pegar nas Políticas para a Família e chamar a atenção para elas… Sabemos que é algo difícil, mas já temos diversas pessoas que querem colaborar, lutar por e dar voz às famílias e, neste momento, isso é uma preocupação enorme”, explica a presidente da PROSALIS, acusando: “Há muitas situações menos justas que afectam as famílias, como o desemprego, a baixa natalidade, a habitação e até o aumento das taxas moderadoras… E temos também que chamar a atenção para as questões da natalidade, o que é que está a ser feito em prol da natalidade? Neste momento, tudo é feito contra o aumento da natalidade… Não se faz nada, pelo menos, que eu tenha conhecimento. Há países que têm o Ministério da Família, desconheço que ele exista em Portugal”.
Para a responsável da PROSALIS, “neste momento, com a Troika e as preocupações de financiamento, as famílias estão a ser esquecidas e são elas que seguram o País economicamente”, mas isso não pode fazer com que se deixe de olhar e de investir nas famílias, pelo que reforça: “Não queremos mudar o Mundo, mas queremos chamar a atenção para as coisas que poderiam ser melhoradas e é nesse sentido que voltamos a pegar no tema das políticas de família”.
Quanto ao futuro, Maria Helena Paes não espera facilidades, mas também assegura quer a instituição não vai virar a cara às dificuldades: “Vem aí uma luta grande e a luta é para continuar em muitas frentes… Não se avizinham tempos fáceis e sentimos isso na pele com todos os cortes que as instituições sofrem… Por isso, temos que ver um dia de cada vez, porque se queremos pensar a longo prazo o futuro assusta-nos”.
A PROSALIS, associada da CNIS, integra alguns fóruns internacionais tais como: Comité para a Família das ONG na ONU (secretária); Membro do ICAA – International Council on Alcohol and Addictions (Conselho Internacional para o Álcool e Adicções); FPAT –Federação Portuguesa das Instituições Sociais Afectas à Prevenção da Toxicodependência (presidência); Rede Europeia Anti-Pobreza; e EOEF – European Offenders Employment Forum (Fórum Europeu do Emprego Delinquentes).
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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