SC MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA

Comemorações de cinco séculos de história em marcha

Corria o ano de 1518, quando D. Manuel I outorgou o compromisso da Confraria da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, um acto que, mais do que criar, reconheceu a existência de uma obra de benemerência na cidade do Nordeste Transmontano.
No passado dia 6 de Julho, data em que se assinalaram 495 anos do reconhecimento régio da Misericórdia brigantina, a instituição promoveu uma cerimónia, que, em simultaneamente, deu início às comemorações dos 500 anos, que serão assinalados dentro de cinco anos.
Depois de um breve momento musical e do visionamento de um pequeno filme sobre o trabalho actualmente desenvolvido na Misericórdia, o provedor Eleutério Alves tomou da palavra. Após uma breve resenha histórica, em que se debruçou mais sobre o período desde a Revolução de 25 de Abril de 1974, altura em que a instituição perdeu “aquilo que era a sua marca, a sua referência e praticamente o seu objecto”, o Hospital da Misericórdia, até aos dias de hoje, o provedor recordou que foi também nessa altura que a instituição “começou a sua caminhada na área da acção social”.
“Hoje, 40 anos depois, é tempo da afirmação da Santa Casa da Misericórdia de Bragança, como factor de desenvolvimento social, cultural e económico do concelho”, afirmou Eleutério Alves, dando conta do longo braço da instituição: “A Santa Casa tem ao serviço 250 trabalhadores, que prestam apoio a mais de 800 utentes por dia, sendo 320 idosos e mais de 500 crianças, distribuídos, no sector social, por quatro creches, sendo uma creche familiar, três centros infantis, um equipamento de tempos livres, três lares de idosos, um centro de dia, um serviço de apoio domiciliário, uma cantina social, e uma casa abrigo; no sector da educação, uma escola do 1º Ciclo, para os quatro anos de escolaridade; no sector da saúde, uma clínica de medicina física, no sector cultural, um museu etnográfico; e, na área da habitação, um bairro social”.
Perante uma plateia composta por alguns trabalhadores, que seriam alvo de homenagem, e muitos dirigentes de outras instituições sociais do concelho, para além dos convidados de honra – António Jorge Nunes (presidente da Câmara Municipal de Bragança), D. José Cordeiro (Bispo de Bragança e Miranda), padre Lino Maia (presidente da CNIS) e Martinho do Nascimento (director do Centro Regional da Segurança Social de Bragança) –, o provedor da Santa Casa referiu-se, de seguida, às apostas de futuro, revelando dois investimentos em curso: “Ainda este ano, e tal como está previsto e acordado, acrescentaremos aos nossos serviços, através de um acordo de gestão, o Centro de Educação Especial, estrutura de apoio a pessoas com deficiência, dimensionada para 90 utentes. Também no final deste ano estará concluída a Unidade de Cuidados Continuados de Bragança, para entrar em funcionamento no início de 2014, com capacidade para 60 camas”.
Apesar de ser já um dos maiores empregadores do concelho, a Misericórdia conta criar mais cerca de 100 postos de trabalho com estas duas novas respostas sociais, sendo que com o Centro de Educação Especial, a Santa Casa abraça uma área que até aqui nunca tinha trabalhado, a deficiência.
Pretendendo dar continuidade à política de parcerias que sempre defendeu, Eleutério Alves relembrou a importância das IPSS no tecido social.
“As várias instituições de solidariedade que a nossa comunidade foi capaz de criar, são exemplo vivo do dinamismo e do querer que nos anima a todos. Grandes ou pequenas, rurais ou urbanas, todas desenvolvem com muita qualidade e empenho respostas para os problemas que a própria comunidade origina. Estamos na mesma luta, apoiando-nos e complementando-nos no sentido do interesse dos nossos concidadãos”, sustentou, realçando: “Não somos concorrentes, somos antes pequenos elos de uma cadeia de solidariedade que prontamente responde aos problemas sociais que a comunidade vai gerando. Por isso, entendemos que as instituições locais devem assumir-se como agentes de mudança, promovendo parcerias, fomentando redes, partilhando recursos, servir a comunidade”.
Esta ideia das parcerias foi reforçada pelo edil brigantino, Jorge Nunes, que começou a sua intervenção, dizendo que “a cooperação é um bem que deve ser cultivado e desenvolvido”, acrescentando: “O nosso tempo exige que as dimensões de cidadania e de voluntariado sejam reforçadas para que o País, neste capítulo, continue a ser um exemplo”.
Depois de elogiar a actual provedoria da Santa Casa, “que tem explorado bem as valências sempre atenta às necessidades”, o presidente da Câmara deixou uma palavra de elogio e de incentivo a todos os presentes: “Tenho assistido ao fortalecimento da Rede Social do concelho, tanto em número de instituições, como também no número de respostas sociais e de empregos que cria. Por isso, devemos continuar a ter esperança e confiança e, uma vez mais, quero destacar o Portugal positivo que emerge da Rede Social”.
Depois do responsável máximo pela Segurança Social no distrito, Martinho do Nascimento, ter felicitado a Santa Casa por tão vetusta idade e abordado o entendimento entre o organismo que tutela e a instituição sobre as novas respostas sociais que a instituição está a criar, foi a vez de o padre Lino Maia tomar da palavra e dirigir fortes encómios aos convidados de honra, em especial, a todos os que preenchiam a plateia.
Começando por dar nota da alegria pela presença do Bispo de Bragança e Miranda, o presidente da CNIS dirigiu-se ao edil brigantino agradecendo-lhe “o bom exemplo no serviço às populações, que é sempre muito melhor quando damos as mãos”, ao mesmo tempo que recordou que “as autarquias não são concorrentes das instituições de solidariedade”.
Na pessoa do director da Segurança Social, o líder da CNIS saudou “a colaboração e o diálogo”. Lembrando que “o Estado não é o poder, mas serviço”, o padre Lino Maia afirmou que “não há serviço sem diálogo e o senhor director trouxe o diálogo até aqui”.
No provedor da Santa Casa, o padre Lino Maia corporizou “o que são todos os transmontanos, caracterizados por algumas boas qualidades, como a dedicação, a lealdade e a responsabilidade”. Sublinhando o papel que Eleutério Alves desempenha na CNIS, o presidente da Direcção disse do seu tesoureiro ser “um homem leal, colaborador sempre pronto e muito responsável, tanto na CNIS como na Santa Casa”.
Depois, o padre Lino Maia dirigiu-se à assistência: “É bonito, num dia em que seriam assediados para ir para a piscina ou para o campo, vê-los aqui. É que a Santa Casa são vós, diria, a Santa Casa somos nós”.
Comparando o exemplo do resto do Mundo, em que as instituições sociais nascem do seio do Estado, o padre Lino Maia realçou “o envolvimento das pessoas” no caso português.
“Em Portugal são as pessoas que dão as mãos para responder às necessidades da comunidade, em especial dos mais necessitados. Quando se fala em instituições de solidariedade, Portugal está à testa das nações”, sublinhou, recordando: “O país profundo e do interior estaria terrivelmente esquecido se não fossem as pessoas a dar as mãos para resolverem os problemas das pessoas. Ao longo de 500 anos foi tanta a gente que se envolveu na Santa Casa para servir a população e Bragança estaria mais distante se não fossem estas gentes”.
A finalizar, o presidente da CNIS lembrou a todos os presentes qual a missão das IPSS: “Não estamos à espera do lucro, mas de fazer as pessoas felizes. E se Portugal não está como outros países, nomeadamente a Grécia, é porque há gente como vós que ajuda as pessoas. E se não fosse a Santa Casa da Misericórdia de Bragança muita gente não tinha emprego, não tinha educação, não tinha apoio, nem uma cama… e essa gente estaria muito pior”.
Durante a cerimónia, a Santa Casa assinou alguns protocolos de cooperação com diversas entidades, entre as quais a Câmara Municipal e os Bombeiros Voluntários, e homenageou uma série de funcionários, todos eles com mais de 35 anos de casa.
Foi ainda inaugurada uma exposição alusiva à vida da instituição, com alguns documentos históricos e muita arte sacra, seguindo-se uma missa na secular Igreja da Misericórdia, presidida pelo Bispo D. José Cordeiro.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2013-07-17



















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