CENTRO DE SOLIDARIEDADE E CULTURA DE PENICHE

Novo ERI é a grande prioridade

É uma das maiores IPSS do concelho de Peniche e conta já com mais de meio século de história, desde que o padre Bastos criou a Sopa dos Pobres para acudir a uma população muito carenciada. Como qualquer população que vive da pesca, há períodos em que, devido ao defeso ou ao mau tempo, é impossível de ir ao mar, pelo que os pescadores não tinham rendimentos. Isso fez com que o pároco deitasse mãos à obra e criasse uma instituição que hoje assiste mais de 300 pessoas/dia, de bebés a idosos.
Mas os responsáveis pelo Centro de Solidariedade e Cultura de Peniche ainda não estão satisfeitos e querem acudir a mais gente, especialmente colmatando a falha em termos de lar para idosos.
“O novo equipamento surge porque o Lar de Santa Maria, que conta 72 utentes, já não cumpre os requisitos legais para uma valência do género. Quando aquele lar foi construído não existiam directrizes, nem regulamentos. É um equipamento que durou até agora, sempre sem problemas, mas actualmente a legislação exige determinados requisitos que não temos, nem temos hipótese de os montar naquele edifício”, começa por contar João Barradas, vice-presidente da IPSS, explicando: “Levámos dois anos a negociar com a Segurança Social de Leiria um projecto de remodelação do actual lar e no fim até conseguimos a aprovação, mas de um projecto que já não cumpria a legislação, nem era possível realizá-lo porque tínhamos que retirar os idosos para fazer as obras e não tínhamos onde os pôr”.
Perante este impasse, e com o edifício a mostrar-se incapaz de cumprir a legislação, a Direcção seguiu outro caminho.
“Perante aquilo, ficámos, então, à espera de uma oportunidade para construir um equipamento de raiz. Aparece o PARES e avançámos para a construção de uma coisa nova, com o piso térreo e primeiro andar eram para 60 camas”, revela o «vice», aproveitando para deixar uma crítica, antes de continuar o relato da construção do novo lar: “A nossa legislação também peca, porque é sempre a coisa mais moderna e requintada e depois não é suportável financeiramente… Depois pensámos que, com a cozinha, a lavandaria e demais serviços que tínhamos nas novas instalações, poderíamos fazer mais um piso para 60 camas e, assim, reduzir o preço per capita, o que oferece outra sustentabilidade”.
A instituição fez inicialmente uma proposta para que esse novo piso fosse para uma Unidade de Cuidados Continuados, que acabou por ser aprovada. “Estava tudo encaminhado, até com uma verba de 150 mil euros a fundo perdido, mas veio a Troika e acabou com tudo”, lamenta João Barradas.

AVANÇAR SEM APOIOS

Apesar disso, e com a obra já lançada, os responsáveis pelo Centro tomaram a coisa em mãos, decidindo avançar sozinhos.
“Agora, estamos a avançar por nós, pois o rendimento que poderemos tirar com o novo piso vai permitir-nos pagar com alguma facilidade. Em princípio vamos conseguir fazê-lo sem recorrer a outro tipo de financiamento”, afirma, ressalvando: “Agora como foi alterado o Fundo de Socorro Social e vamos ter também o QREN 2014/2020 voltado para a área social, vamos aproveitar para fazer umas candidaturas para ver se conseguimos compensar aqueles 150 mil euros que nos prometeram, mas que já não vêm”.
Este é o projecto que a instituição tem em marcha e que, por imposição do PARES, vai oferecer ainda mais duas respostas, para além da de Lar: 40 vagas para Centro de Dia e 20 de SAD, esta uma novidade para a IPSS.
“Queríamos ver se conseguíamos que o edifício estivesse pronto ainda este ano e no próximo o começávamos a equipar, mas neste momento ainda não sabemos se há financiamento para o equipar como gostaríamos, para então abrirmos portas”, sustenta João Barradas, que aponta para um custo final de três milhões de euros.
Por outro lado, aquando da altura de transferir os idosos que ocupam as actuais instalações do Lar de Santa Maria, novo desafio vai deparar-se à instituição, algo em que os seus responsáveis já andam a tentar resolver.
“Neste momento, estamos ainda com grandes dúvidas sobre o que vamos fazer com o edifício onde hoje ainda funciona o Lar. É um edifício de que toda a gente gosta arquitectonicamente, pois é sólido e está muito bem construída, mas precisávamos saber que utilidade lhe vamos dar, porque não nos podemos dar ao luxo de ter uma casa daquelas devoluta e sem dar rendimento”.
Porém, “na última reunião de Direcção pensámos que poderíamos criar ali um equipamento dedicado às demências, como o Alzheimer e o Parkinson, entre outras, porque é uma realidade que temos vindo a constatar e que no lar vamos ter dificuldade em dar uma resposta capaz. E é algo que não existe, até por falta de formação do pessoal”, sustenta o vice-presidente do Centro, que aproveita para enviar mais um recado: “Quando foram criadas as Unidades de Cuidados Continuados, o Governo só pensou nos hospitais, mas nessa altura devia ter chamado os lares, porque, ao fim e ao cabo, eram as unidades que já existiam. Até para tentar que isto funcionasse em conjunto, mas o Governo não foi capaz de fazer isso, ou não quis, e aí houve uma perda dada a situação da população idosa. Depois não se organizou o serviço de uma forma capaz”.

CERTIFICAÇÃO DE QUALIDADE

No âmbito dos novos projectos, Jofre Pereira, director-geral da IPSS, revela que a certificação de qualidade é uma meta, para a qual a instituição já corre: “Há outro projecto importante que estamos a desenvolver e que é a implementação da qualidade para alcançarmos a certificação. Nestes tempos mais próximos isso é difícil pelo contexto económico, mas estamos a fazer essa implementação, porque já houve muitos ganhos. Esse é um projecto interno que está a decorrer e que queremos dar outro impulso”.
E, de facto, o contexto económico tem condicionado de certa forma a acção das IPSS, o que aliado as outras situações lhes levanta dificuldades.
“Algumas dificuldades que temos tido têm que ver com a dimensão da instituição e com alguns requisitos que nos são impostos. E, realmente, as questões financeiras não nos permitem fazer o trabalho que gostaríamos, nomeadamente, esta questão da certificação, a melhoria dos nossos espaços, com algumas obras mais de fundo, que acabamos por não fazer por falta de verbas. Sentimos algumas dificuldades em cumprir todos os requisitos legais e a questão financeira tem sido um dos obstáculos”, revela Jofre Pereira.
Apesar disso, o «vice» João Barradas assegura que “a situação financeira, neste momento, está equilibrada”.
Já sobre a questão da receita que constitui a comparticipação familiar, o «vice» do Centro é claro.
“Não temos tido casos de falta de pagamento, mas o que tem sido significativo são os pedidos para rever as mensalidades, devido à baixa de rendimentos das famílias”, ao que o director-geral acrescenta: “Há também a retirada de algumas crianças porque os pais emigram, ou porque vão para o público, ou ainda porque, estando desempregados, ficam com a criança em casa”.
Nesse sentido, e apesar de ter aberto uma nova creche em 2010, a instituição depara-se com dificuldades para no próximo ano lectivo preencher uma das duas salas que tem na Creche Sant’Ana e S. Joaquim, actualmente com 25 petizes.
“A nossa região está, em termos de natalidade, um pouco acima da média nacional. Mas é um facto que tem havido diminuição de crianças e, depois, não somos a única instituição em Peniche que tem resposta para a infância. Neste próximo ano é o primeiro em que vamos ter algumas dificuldades em preencher todas as salas. Pelo número de inscrições prevemos isso, porque até agora não temos tido qualquer problema”, revela Jofre Pereira.

IPSS VS COMUNIDADE

Isso acontece também pela boa relação que a instituição tem com a comunidade.
“A instituição presta um serviço à comunidade e as pessoas em situações de aflição solicitam-nos ajuda. Penso que há uma boa relação e que as pessoas acarinham a instituição. A nível paroquial sinto que ainda temos que fazer um trabalho de pedagogia no sentido de as pessoas perceberem que a instituição pertence à paróquia e não é uma extensão da Segurança Social, como as pessoas a olham muitas vezes. Mas penso que temos uma boa relação com a comunidade e as pessoas vêem em nós uma referência pelos serviços que prestamos”, sustenta Jofre Pereira, que acrescenta: “Há 50 anos, não tenho dúvidas que o padre Bastos foi um visionário, porque a terra não tinha nada. Hoje sentimos que temos esta herança muito grande a que temos que dar continuidade e tentar inovar, estando atentos e não ficando agarrados àquilo que foi a génese da instituição e continuar a dar respostas à população. Seria uma perda para a cidade se deixássemos a nossa actividade. Para além das respostas mais tradicionais, há todo um outro trabalho que fazemos em parceria que é importantíssimo. No fundo, tentamos cumprir a nossa missão que é servir as pessoas e penso que conseguimos fazê-lo”.
Na área da infância, pela qual começou a actividade da instituição, em 1963, o Centro de Solidariedade e Cultura de Peniche dá resposta à comunidade com a Creche Sant’Ana e S. Joaquim (25 crianças), Creche Santa Maria (66), Jardim-de-infância João Paulo II (40), Jardim-de-infância Santa Maria (75) e ainda o CAT «Aconchego» (12). Já no que respeita à terceira idade, a instituição acolhe em Lar Residencial 72 utentes.
A IPSS presta ainda uma série de serviços à comunidade, a saber: Distribuição de alimentos no âmbito do Banco Alimentar a 85 famílias e do PCAAC a 260 pessoas; Distribuição de roupas e bens de primeira necessidade, em parceria com a Pastoral da Fraternidade, a 300 famílias; Cantina Social que serve 60 refeições/dia; Sala de apoio ao estudo que ajuda 12 crianças.
Ao serviço da instituição estão 97 funcionários e ainda uma bolsa de voluntariado que conta com 25 pessoas.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2013-08-23



















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