Quando em 1988, José Augusto da Silva e João Carlos Sobral Meireles, juntamente com Maria Augusto Cupertino Meireles e Fernando Licínio Cardoso Teixeira, entre outros, decidiram fundar a Associação Centro de Dia de Sendim o que os moveu foi “a necessidade de uma população muito idosa e de aqui não existir nenhuma resposta deste género”, refere Alfredo Silva, presidente da instituição, que recorda: “Existia apenas resposta do género em Moimenta da Beira e Tabuaço, que tinham lar, mas há 20 anos não havia nada por aqui”.
Foi o benemérito João Carlos Sobral Meireles, “um dos herdeiros do dono do Banco Português do Atlântico, que tinha e tem família em Sendim”, que interpelou o, então presidente da Junta de Freguesia, José Augusto Silva, pai do actual presidente, sobre qual era a maior necessidade da terra.
“Eles acharam que a maior necessidade era a construção de um lar para a terceira idade. Então, começaram por fundar a Associação, seguiu-se a obra e depois a entrada em funcionamento”, conta Alfredo Silva, cujo pai liderou a instituição até falecer em 2005.
Seguiu-se, então, um período menos bom da instituição, período em que uma outra Direcção tomou conta da mesma.
“Houve um período em que a instituição esteve entregue a uma outra Direcção, que por várias razões não deu andamento à própria instituição. No seguimento disso, senti-me um pouco pressionado, e também por gosto pela instituição, uma vez que foi o meu falecido pai que ajudara a fundá-la, a avançar. Como as coisas não estavam a correr nada bem, avancei para a Direcção e estou no cargo de presidente há três anos”.
E quando pegou nos destinos da instituição, Alfredo Silva não gostou do que encontrou.
“Quando aqui cheguei isto estava um caos, não havia panelas, não havia luz, as portas não fechavam, nem licenças havia… Isto estava mesmo numa situação degradante”, recorda, concretizando: “A instituição funciona neste edifício e num outro espaço que foi inaugurado em 2010, um equipamento que esteve fechado durante cinco anos, sem que lhe dessem qualquer utilização, porque também não tinha a dita licença de utilização. Esse é o equipamento onde temos a funcionar apenas o lar, com 14 camas”.
O trabalho de Alfredo Silva e da sua Direcção foi primeiro legalizar e depois melhorar a infra-estrutura: “Na altura começámos por licenciar os espaços, depois foi inaugurado e no mês de Julho começou a receber os utentes que tinham mais necessidade, porque isto é uma zona com muita necessidade, pois há muita gente por aí com muita idade. As pessoas que temos aqui no Lar são todas da casa dos 80 e 90 anos e logo por aí se vê a necessidade que existe de uma resposta destas. Reposta a legalidade, começámos a remodelar tudo, desde as máquinas, quase com 20 anos. Foi o aquecimento, as máquinas de lavar e de secar e agora só nos falta renovar a cozinha, que é o que faz mesmo muita falta, pois o fogão está numa situação de falência. Servimos cerca de 100 refeições por dia, pois ainda fazemos um serviço à Câmara Municipal, que é servir uma refeição diária às crianças da escola”.
Desde que está à frente da instituição, Alfredo Silva já conseguiu renovar grande parte do equipamento, mas ainda há muito por fazer, segundo o próprio, mas a falta de financiamento tem retardado a concretização dos desejos da sua Direcção.
“Isto tem sido muito difícil… Neste momento estamos na recuperação de toda a instituição, a modernizá-la e estamos a fazer uma sala, a partir de um espaço exíguo em que os cerca de 20 utentes andavam em guerra permanente por um lugar”, revela, deixando um lamento: “Desde o primeiro momento que aqui entrei há três anos, a primeira coisa que pensei foi fazer uma ampliação do edifício, mas os dinheiros são fracos a nível do País e nós não podíamos avançar com uma obra sem financiamento público. Então desistimos e começámos por nós e com a ajuda da Câmara Municipal a fazer a recuperação do edifício existente, tendo já construído uma sala de estar, um espaço que vai dar alguma dignidade à instituição, pois vai ser uma mais-valia para os utentes”.
No entanto, o grande sonho dos responsáveis pelo Centro de Dia de Sendim, concelho de Tabuaço, é a construção de uma Estrutura Residencial para Idosos de raiz, para a qual já existe projecto aprovado, mas não há financiamento.
“Temos um projecto que visava a ampliação deste espaço, porque temos muito terreno para trás. O objectivo era manter o edifício actual para instalar os serviços administrativos e, para trás, seria a ampliação do equipamento com dois pisos de quartos e um estacionamento por baixo. Era um projecto para 28 quartos, com capacidade para 56 pessoas, num investimento à volta de 1,5 milhões de euros”, refere Alfredo Silva, recordando: “Tínhamos, em 2010, a garantia de financiamento a 75%, mas entretanto mudou o Governo e isto acabou por cair. Temos os pareceres positivos de todas as entidades necessárias, só que não houve abertura de candidaturas por parte da Segurança Social. Aliás, foi a Segurança Social que nos disse para avançar com o projecto, mas acabou por ficar pelo caminho. Gastou-se muito dinheiro, que nos faz falta, mas não foi possível ainda”.
Neste particular dos apoios, Alfredo Silva deixa ainda um alerta em jeito de crítica: “Uma das razões que nos fez não avançar com as obras foi o facto de o PARES nos poder financiar apenas em 40%. É uma loucura uma qualquer instituição avançar para uma situação dessas, porque não tem condições. Uma obra que custe um milhão de euros, em que nos dão 400 mil e a instituição tem que arranjar 600 mil é impraticável. Por isso não avançámos e agarrámo-nos ao que tínhamos. Porém, penso que conseguimos fazer uma boa recuperação do edifício antigo”.
Apesar dos contratempos, Alfredo Silva guarda o projecto, mas sustenta que “não está na gaveta” e “quando houver possibilidades de o concretizar” a instituição avançará.
É por decisões destas que o presidente da instituição se mostra orgulhoso com a situação financeira da instituição.
“Não devemos nada a ninguém e os funcionários recebem ao dia 30, muito pelo rigor que existe na gestão. Não somos ricos, mas não devemos nada a ninguém”, sustenta, referindo que também não se cansam de procurar fontes de financiamento: “Fazemos candidaturas a muitos projectos, como foi ao Proder II para a melhoria do SAD e outro para o Lar e que ambos foram aprovados. Em conjunto foram mais de 30 mil euros que recebemos. Estas ajudas são fundamentais para que a instituição consiga ter saúde financeira”.
Actualmente, são 21 os funcionários da instituição de Sendim, que prestam serviço a sete utentes em Centro de Dia, 34 em Lar e três dezenas no Serviço de Apoio Domiciliário.
Sobre a importância da instituição, Alfredo Silva não tens dúvidas que, sem o Centro de Dia, Sendim “seria uma terra completamente deserta”.
“Quer queiram quer não, esta é a fonte de rendimento número um da freguesia, pelos postos de trabalho e pela riqueza que cria… Sem nós, se isto está mal, estaria muito pior. Algumas das pessoas que estão connosco, e há algumas aqui há 20 anos, já teriam morrido de certeza”, confessa.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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