Tal como outras instituições, a ASSOPS – Associação de Passos de Silgueiros, concelho de Viseu, integra o FAS3, uma formação-acção promovida pela CNIS com vista a melhorar e assegurar a sustentabilidade das IPSS.
“O que nos fez aderir ao FAS3 é o que nos preocupa desde o princípio, porque, como costumo dizer, nós metemo-nos nesta alhada mas ninguém nos obrigou, fomos nós que conscientemente nos metemos nesta tarefa e não sabíamos muito bem para onde íamos, algo que só soubemos quando já cá estávamos”, começa por afirmar António Lopes Pires, fundador e presidente desde então da instituição viseense, acrescentando: “A nossa preocupação sempre foi, desde a primeira hora, em prestar um bom serviço. Achamos que não é possível prestar bom serviço se as pessoas não tiverem alguma formação e as condições para prestarem esse bom serviço. Isto é como a pinga de azeite, que vai alastrando, alastrando… Sempre alertei o pessoal que nós existimos e eles têm emprego enquanto houver crianças e idosos, pelo que temos procurado fazer as formações que estão ao nosso alcance”.
Para além disto, o líder da ASSOPS não descarta a vertente da sustentabilidade implícita no FAS3, até porque a sustentabilidade da instituição não é a melhor.
“A saúde financeira está mal por duas razões. A primeira razão é porque o nosso trabalho não corresponde ao apoio que recebemos do Estado. A diferença entre o apoio oficial e o trabalho realizado é muito grande. Não é possível vivermos com alguma tranquilidade financeira quando recebemos apoio para 25 e assistimos cerca de 60 pessoas… Mas podem dizer-me, então não avancem! Mas nós não viemos para aqui obrigados e quando vemos alguém com necessidades especiais só se não pudermos é que não vamos lá. A outra razão é que estamos numa zona em que os utentes têm receitas muito baixas. Os idosos têm pensões da ordem dos 300 euros, o que se reflecte nas comparticipações e nas contas da instituição”.
Por isso é que António Pires olha o FAS3 como uma mais-valia.
“Aprender é uma coisa boa e este programa há-de ajudar-nos a prestar melhores serviços aos outros e à instituição… Também procuramos engendrar formas de melhorar as nossas receitas, através de algumas festas, refeições e formas de poder haver algumas ajudas, portanto, tudo o que viermos a aprender irá ajudar-nos nessas duas vertentes, ou seja, ajudar para fora e para dentro, porque se o de dentro morrer o de fora morre também”.
Neste sentido de serviço à comunidade, a ASSOPS alberga também uma Cantina Social, servindo cerca de 80 refeições diárias.
“Levamos as refeições a casa. Esta questão da Cantina Social levanta problemas que inicialmente não me pareceu que pudesse levantar, que são os das pessoas que precisam, mas têm vergonha em aceitar. Por isso, temos desenvolvido algumas estratégias… Andamos na rua e, como nos meios pequenos toda a gente se conhece, temos possibilidade de saber o que se passa. Fazemos sondagens indirectas e depois directas. A nossa estratégia tem sido sempre que possível tentarmos estabelecer com as pessoas uma espécie de contrato em que elas compram as suas refeições, obviamente, por um preço mais do que simbólico. E procuramos evitar o mais possível que as pessoas se desloquem à instituição, pelo que lhes levamos as refeições. Depois se possível procuramos cobrar algo simbólico, para que as pessoas possam sentir que estão a comprar as refeições”.
Actualmente, e assistindo a freguesia de Silgueiros e também as de São João de Lourosa (Viseu) e Lajeosa do Dão (Tondela), a ASSOPS tem 40 crianças em ATL, 20 idosos em Centro de Dia e 60 em Serviço de Apoio Domiciliário. Nestas duas respostas, os acordos de cooperação resumem-se apenas a 15 e a 25 utentes, respectivamente.
Se a integração no FAS3 tem como principal objectivo melhorar os serviços prestados, a ASSOPS tem outros projectos nesse sentido.
“Temos o FAS3, mas temos igualmente outro desafio em mãos, porque queríamos fazer algumas obras de adaptação para criarmos aqui uma residência para idosos”, revela António Pires, acrescentando: “É um pequeno lar, porque uma coisa que nos confrange é termos aqui as pessoas que precisam, mas quando elas precisam mais temos que lhes dizer para ir embora. Queríamos ter aqui um apoio para quando as pessoas de Centro de Dia ou do Apoio Domiciliário já não podem sobreviver só com estas respostas”.
A estrutura residencial seria para 15 camas e a esperança do responsável é que ainda este ano as coisas possam avançar decisivamente.
“Já há vários passos dados nesse sentido. Já temos todo o projecto aprovado e fizemos uma candidatura a fundos europeus, agora estamos a aguardar”, sustenta o presidente da ASSOPS.
INÍCIO EM 1978
Inserida numa região essencialmente rural, cuja cultura predominante é a vinha e a produção de vinho, a instituição de Passos de Silgueiros não nasceu logo com a actual vertente social, apesar das necessidades já serem evidentes.
De facto, a génese da ASSOPS está no grupo etnográfico e na sua forte vertente cultural.
“Esta era uma aldeia onde não havia nada, muito pobre e extraordinariamente atrasada, quando em 1978 nasceu aqui um grupo etnográfico, que criou um ambiente de amizade e de cooperação muito importante”, recorda António Pires, referindo que logo nessa altura se começou a juntar algum material de natureza etnográfica que levou à criação do museu anos mais tarde.
“A par de uma certa evolução social e económica a partir dessa altura, esta aldeia progrediu bastante do ponto de vista cultural, porque do ponto de vista económico nem tanto, já que esta é uma zona essencialmente agrícola, com todas as dificuldades que daí resultam”, continua o presidente da ASSOPS, explicando, então, o nascimento da IPSS: “Entretanto, demos conta de que havia aqui falhas de natureza social muito importantes e começámos a pensar na hipótese de criar uma instituição desta natureza. E foi assim que em 1987 fizemos uma alteração de estatutos e nasceu a ASSOPS – Associação de Passos de Silgueiros, com uma vertente social, mas também cultural, herdando tudo o que pertencia à associação primitiva”.
Dois anos volvidos iniciou-se a construção de raiz do edifício que alberga a instituição, o que demorou quatro anos e cuja conclusão da obra foi, para António Pires, “uma espécie de milagre”.
“Então, em 1993 começámos a funcionar aqui como jardim-de-infância. A seguir veio o ATL, depois o Centro de Dia e mais tarde o Apoio Domiciliário, respostas que temos no momento”, afirma o presidente, que esclarece que, entretanto, apesar de a instituição continuar a albergar as crianças do jardim-de-infância, esta é uma resposta que passou para a alçada da Câmara Municipal de Viseu: “
“Deixámos de ter a responsabilidade com as educadoras, porque cedemos o espaço à autarquia, mas continuamos a ter a responsabilidade do transporte das crianças e do fornecimento das refeições”.
E se o foco da instituição começou na infância, actualmente está a voltar-se mais para a terceira idade, o que para o líder da instituição não é mais do que um sinal dos tempos e uma adequação da instituição às necessidades.
“Os filhos fizeram a sua vida, mais perto ou mais longe, e os velhos ficaram sozinhos. O que se verifica é que o isolamento dos mais idosos é muito grande. E em alguns casos os filhos têm muitas dificuldades, ou pouco gosto, em ajudar a resolver os problemas dos pais”, sustenta António Pires, que sublinha: “Gosto da palavra velhos, porque eu gosto de ser velho, pois ser velho é o preço de estar vivo e eu gosto de estar vivo”.
“Por outro lado, não queríamos deixar de estar presentes no apoio à infância, porque ela precisa de cooperação, mas também porque é uma alegria para toda esta casa. Depois queríamos misturá-la com o outro extremo da vida, que são as pessoas mais velhas. Procuramos fazer muitas actividades em que velhos e novos se misturam, porque a vida também é assim e este é um intercâmbio muito saudável e agradável”, refere, asseverando: “Quero deixar bem vincada a nossa preocupação em prestar um bom serviço, porque os pais que nos deixam os filhos e os filhos que nos deixam os pais querem que eles sejam bem tratados”.
ETNOGRAFIA NA GÉNESE
E se o início de tudo residiu no Grupo Etnográfico, o impulso etno-cultural levou a que se seguisse a formação de um Grupo de Cantares, exclusivamente masculino; a fundação de uma Escola de Música, com uma forte componente de instrumentos tradicionais; a formação de um outro Grupo de Cantares, desta vez misto e com repertório unicamente composto por temas populares, e ainda de um Grupo de Teatro, que entretanto acabou, porque foi criado o Grupo de Teatro de Passos de Silgueiros, também acolhido na instituição., de um Grupo de Zé Pereiras e, durante algum tempo, do Conjunto Musical «E vão 3». Todos estes agrupamentos serviram, essencialmente, para elevar o nível cultural das pessoas da freguesia de Silgueiros, que conta com 16 povoações.
“Ao lado de tudo isto foi crescendo o Museu Etnográfico de Silgueiros e, paralelamente, a biblioteca de etnografia e história local, que conta já com cerca de 5000 volumes”, refere António Pires, que sobre o Museu acrescenta: “É etnografia apenas na vertente dos objectos que o Homem usava dentro de portas, desde as maiores curiosidades até peças de enorme qualidade. Temos milhares de peças”.
De facto, é impressionante a quantidade e a forma como estão expostos os objectos do Museu de Silgueiros, onde o SOLIDARIEDADE quer destacar a extraordinária colecção de botões. São mais de 171 mil botões que integram a colecção, contando com alguns dos primeiros botões fabricados em Portugal, ainda no tempo do Marquês de Pombal. Uma visita obrigatória.
“Esta terra mudou muito com esta instituição, e nós continuamos, desde a primeira hora, a pensar que se não houver utentes não há empregos e que para manter esses empregos é necessário prestar bons serviços. Os utentes estão acima de tudo e de todos e continuaremos atentos à nossa própria formação”, sublinha o presidente da instituição, que sobre a importância da ASSOPS na freguesia é peremptório: “Seria outra coisa completamente diferente… Fizemos aqui uma verdadeira revolução, somos, ainda hoje, o maior empregador, somos a entidade que do ponto de vista cultural marca a freguesia e o concelho… Quando alguém precisa de alguma coisa vem ter connosco”.
Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)
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