ACADEMIA CULTURAL E SOCIAL DE MACEIRA, LEIRIA

Projectos aguardam financiamento

Fundada em 6 de Setembro de 1995, a Academia Cultural e Social de Maceira alcança a maioridade, precisamente, este mês e os seus responsáveis falam da mesma com grande orgulho, não só pelo trabalho desenvolvido, mas também pelo crescimento que a instituição tem patenteado.
“Foi um grupo pequenino de pessoas que, há 18 anos, sentiu a necessidade de apoiar os idosos, porque na freguesia não havia nada que colmatasse as lacunas daqueles que iam envelhecendo e a quem, muitas vezes, faltava o apoio familiar”, conta Eva Seguro, directora de serviços, que acrescenta: “Este grupo de três homens foi partilhando esse sentimento, que foi crescendo junto da população, o que fez nascer um grande movimento em torno da ideia”.
Sediada numa freguesia com 23 lugares, a Academia tinha na sua comissão instaladora representantes de quase todos os lugares, com toda a população a envolver-se em torno da ideia de criar uma instituição que respondesse às necessidades de uma população cada vez mais envelhecida.
“Houve cortejos de oferendas para angariar fundos, primeiro para se comprar terrenos para construir as instalações, porque na altura apenas havia a ideia e uma grande vontade, não havia mais nada”, continua a directora de serviços.
As primeiras instalações, construídas pela população de forma gratuita e nos terrenos, então, adquiridos com as verbas angariadas junto da população e de alguns beneméritos, especialmente empresas, tinham as condições mínimas para acolher as primeiras respostas sociais e ali funcionaram até 2002, ano em que foi inaugurado o novo edifício.
Serviço de Apoio Domiciliário, um Centro de Convívio e um Centro de Dia começaram ali a funcionar e continuam a ser as principais valências da instituição, até que em 2002, com a construção do novo equipamento e um alargamento do acordo de cooperação com a Segurança Social, a instituição abriu uma Estrutura Residencial para Idosos.
Actualmente, a Academia de Maceira acolhe 30 utentes em Lar, 20 em Centro de Dia, 10 em Centro de Convívio e apoia 56 em Serviço de Apoio Domiciliário (SAD).
Para além destas respostas sociais, a instituição, que conta com um corpo de 53 funcionários, serve 80 refeições diárias no âmbito de uma Cantina Social e apoia cerca de 170 famílias no seu Centro Comunitário.
Vocacionada, essencialmente, para a Terceira Idade, a Academia de Maceira ainda equacionou a criação de respostas para a Infância, mas tudo ficou pelo lançamento da primeira pedra, em Maio de 2008, do que seria uma creche e jardim-de-infância. Porém, não passou disso mesmo, pois a falta de apoio estatal e não necessidade de tal resposta na comunidade da sua área de acção fez cair o projecto.
E se na altura da criação da instituição a população foi um aliado imprescindível, a relação entre a comunidade e a instituição não é a que os responsáveis por esta desejavam, porque, no seu entender, as pessoas construíram ideias em relação à Academia que não correspondem à realidade. No entanto, salvaguardam que a população nunca virou as costas à Academia.
Liliana Santos, técnica superior de Serviço Social, é peremptória afirmando que “é uma relação com altos e baixos”, ao que a directora de serviços acrescenta: “As pessoas, por vezes, parece não compreenderem bem as limitações dos serviços, porque, apesar de terem sempre contribuído para a instituição, se quando necessitam não há vaga, levam uma má imagem da instituição, só porque naquele momento não acolheu o seu pedido. As pessoas têm também ficado um pouco frustradas por terem que pagar, pois pensavam que o Estado pagaria os serviços prestados. No início talvez se tenha instalado nas pessoas a ideia de que a instituição era para elas e no dia que precisassem as portas estariam abertas, mas isso não acontece sempre, porque não há vagas e porque é sempre preciso pagar qualquer coisa… Estas casas também vivem das comparticipações dos utentes”.
Apesar destes sentimentos contraditórios, o presidente da Direcção, Luís Heleno Cardoso, sublinha que “quando foi para construir o novo edifício, e se pediu dinheiro à banca, houve muita envolvência da população que deu uma grande ajuda para pagar o empréstimo, que demorou bastante a pagar, mas que, neste momento, está todo saldado”.
Para a Eva Seguro o clima que se vive no País é o grande culpado destes sentimentos.
“As pessoas estão mal com a vida e muitas vezes sentem, não têm, mas sentem culpa por não poderem cuidar dos seus e canalizam a frustração e essa carga negativa para quem cuida, que somos nós”, sustenta, acrescentando: “Hoje quem procura uma instituição para cuidar do seu familiar não está a abandoná-lo, pelo contrário, é porque se preocupa, pois não tem condições para cuidar dele devidamente e sabe que nas instituições ele é bem tratado”.
Como muitas IPSS por este País fora, a Academia de Maceira, saldado o empréstimo pedido para construção do equipamento, vai vivendo o sabor da tesouraria, vivendo, essencialmente, das comparticipações da Segurança Social e dos utentes, contando ainda com as quotizações dos associados (10 euros/ano) e de um par de empresa (100 euros/mês) e um donativo anual da Caixa Agrícola de Leiria.
“O que posso dizer sobre a saúde financeira da instituição é que os fornecedores estão muito satisfeitos connosco, porque são pagos com uma regularidade muito boa, ou seja, não há atrasos”, explica o presidente, ao que Liliana Santos, em jeito de brincadeira, acrescenta: “E as colaboradoras também estão satisfeitas… Ganhamos pouco, mas é sempre pago a tempo e horas e, muito importante, a Direcção nunca falhou em nada do que nos prometeu. Temos a perfeita consciência de que de nada nos vale pagarem-nos muito mais agora, para daqui a uns meses sermos mandadas embora, porque a instituição não nos pode pagar”.
Porém, e apesar da situação financeira da instituição ser estável, há alguns investimentos que careciam de uma injecção de capital que a mesma não tem.
“Há aqui algumas situações que necessitavam de intervenção, pois temos dois parques que estão péssimos… Começo pelo que é mais fácil de resolver, que é o parque informático e que está em vias de solução. Tudo isto está em evolução e aqui a doutora Eva luta diariamente com problemas de transmissão de dados para a Segurança Social. Os computadores são antigos, pois dantes não eram tão necessários porque era tudo muito mais à base de papel, mas as coisas agora são bem diferentes. No entanto, estamos a trabalhar para solucionar rapidamente este problema”, assegura Luís Heleno, que identifica o outro problema de bem mais difícil solução: “O outro, que é o do parque automóvel, é um problema muito mais grave. Esse, neste momento, é mesmo o grande problema que temos em mãos… Já fiz um estudo muito superficial sobre o assunto e estou a ver que, em princípio, teremos que investir já em dois carros, em sistema de leasing, mas precisamos de estudar melhor se temos capacidade para pagar”.
A Academia tem um parque automóvel de nove viaturas, na maioria “muito velhinhas”, o que cria um enorme receio ao presidente da instituição: “No que respeita ao parque automóvel temos algum receio que, de repente, tenhamos que investir obrigatoriamente, pois as viaturas são muito velhinhas. Os principais problemas são as cinco viaturas que todos os dias vão para o Apoio Domiciliário e as outras duas para transportes do Centro de Dia”.
E se estes são investimentos necessários para que a acção diária da instituição prossiga sem sobressaltos, outros projectos estão na calha, contudo, todos eles dependentes de verbas que a instituição, de momento, não dispõe.
Um desses projectos vem dar resposta a uma das grandes necessidades da instituição, que é o aumento da capacidade de Lar, única resposta social da Academia que mantém uma grande lista de espera, ao contrário de todas as outras que, devido aos tempos difíceis que o País e os portugueses vivem, deixaram de ter interessados a aguardar vaga.
António Francisco Febra, primeiro presidente da Academia, adquiriu um edifício onde funcionava uma residencial e doou à instituição, comprometendo-se, enquanto for vivo e dentro das suas possibilidades, em suportar todas as despesas inerentes à sua reconversão em Estrutura Residencial para Idosos.
“Essa história é-nos muito cara, porque é fruto de uma doação do primeiro presidente da Academia, que adquiriu aquele edifício que era uma residencial e fez o favor de o doar à Academia, com a promessa de cobrir todos os custos da intervenção necessária. Isto mediante as suas capacidades, pelo que a Academia terá que esperar, pois as obras necessárias ainda serão caras”, conta Luís Heleno, acrescentando: “O edifício tem três pisos, já está todo dividido em quartos, pois era uma residencial, mas necessita de obras de adaptação para ficar conforme as exigências da Segurança Social”.
Situado a alguma distância do edifício-sede, este alargamento do Lar já tem projecto feito e aprovado pela Câmara, estando o início das obras dependente da disponibilidade financeira do benemérito. O novo equipamento funcionará como uma extensão do Lar já existente, sendo que os serviços de apoio, como de cozinha, de lavandaria e outros, continuarão na casa-mãe.
Outro projecto que a instituição já tem em marcha é o de uma Horta Social, que será aberta à população que assim o desejar.
“Estamos a tentar reaproveitar o espaço que temos em volta do edifício… Temos aí um utente, que era agricultor, que enquanto pôde teve esses terrenos sempre impecáveis e cultivados, mas, entretanto, ele deixou de o cultivar, devido à idade, e as coisas desleixaram-se”, explica o presidente.
O principal objectivo deste projecto é, segundo Eva Seguro, o de “proporcionar às pessoas que não têm terreno próprio um local onde possam cultivar alguns produtos para consumo caseiro”.
O terreno foi dividido em 18 talhões, que agora serão atribuídos a quem estiver interessado. Com um vasto terreno arável em torno da instituição, muito dele já está a ser aproveitado para benefício próprio: “Há uma parte que é para a comunidade cultivar, mas temos outra parte do terreno envolvente que é para produção própria. Na verdade, já se tem comido alguns produtos ali cultivados, o que é também uma ajuda às contas desta casa. Não nos sustenta na totalidade, mas é uma ajuda, pois já tirámos dali beldroegas, espinafres, batatas, beringelas, tomates e outros produtos”.
Este trabalho não deixa os utentes de fora e a animadora social cria mesmo actividades para os utentes em torno do cultivo da terra, pois são os idosos que colocam as sementes nas cuvetes, que depois são colocadas na terra.
Atentos às necessidades da população, os responsáveis pela Academia fizeram uma candidatura ao BPI Capacitar com o intuito de criar uma estufa para ser trabalhada por pessoas com doença mental controlada, como esquizofrenia e outras.
“Esta seria uma resposta nova para os concelhos vizinhos, porque só em Alcobaça é que existe uma resposta para estas pessoas. O objectivo é ter uma resposta adequada para pessoas com quem o nosso Centro Comunitário tem contacto e que estão completamente abandonadas socialmente. O propósito é tentar inseri-las profissional e socialmente e criar-lhes um projecto de vida. Caso seja concretizado, mas para tal a nossa candidatura terá que ser aprovada, pretendemos criar uma resposta social com o apoio da Segurança Social”, explica Eva Seguro
Ao projecto foi dado o nome de «Aromas e Sabores», pois a finalidade é, com as ervas aromáticas que ali se pretende cultivar, produzir sabonetes, óleos de essências e outros produtos para posterior venda.
“Isto é um sonho, que sem apoio não será concretizado, mas também tem sido assim que esta casa tem crescido, sempre a partir de sonhos”, remata Eva Seguro.

Pedro Vasco Oliveira (texto e fotos)

 

Data de introdução: 2013-09-26



















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