ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA E GESTÃO DE FELGUEIRAS

Gestão das Organizações do Terceiro Sector é uma aposta estratégica

A Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Felgueiras leva a efeito a segunda edição da Pós-Graduação em Gestão das Organizações do Terceiro Sector. José António Oliveira, professor do Instituto Politécnico do Porto é o coordenador do curso que pretende, em sintonia com a própria instituição, “responder às necessidades do mercado de trabalho da região”.
José António Oliveira é Doutorado na área científica de ciências sociais e humanas e tem uma Pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos e é responsável da área científica de Ciências Sociais na ESTGF/IPP. É membro da direcção do Centro Juvenil de Campanhã.

A Pós-Graduação está associada à Licenciatura em Ciências Empresariais da ESTGF. Funciona como uma espécie de especialização?
Em primeiro lugar cumpre afirmar que a Pós-Graduação em Gestão das Organizações do 3º Sector adequa-se totalmente ao projecto educativo, científico e cultural da ESTGF. A missão da Escola é ser um elemento fundamental e catalisador do desenvolvimento das regiões do Vale do Sousa, Baixo Tâmega e circundantes (NUT III Tâmega), contribuindo assim para o desenvolvimento e bem-estar social destas, através da formação superior de cidadãos de elevada competência profissional, científica e técnica, da investigação e da prestação de serviços à comunidade. Seguindo o padrão característico do ensino politécnico, a ESTGF oferece cursos mais especializados e mais orientados para a execução, de vocação profissionalizante de empregabilidade rápida, tentando que os seus diplomados possam sair para o mercado de trabalho com uma dupla titulação – habilitacional e profissional. Dentro desse padrão, merece especial atenção a ligação ao tecido socioeconómico regional no desenho curricular das formações oferecidas, nas formações curtas, especialmente desenhadas para a formação ao longo da vida dos activos locais e regionais e nos cursos de especialização e de pós-graduação. A heterogeneidade na oferta formativa e a forte motivação para responder às solicitações do mercado é, assim, outra marca do projecto educativo da ESTGF.
Em segundo lugar, este curso de Gestão das Organizações do 3º Sector decorre da necessidade de responder aos legítimos anseios dos nossos diplomados e visa responder a reais necessidades do mercado – formação em gestão avançada para profissionais do 3º Sector. Em concreto, esta Pós-Graduação é constituída por um conjunto de unidades curriculares habilitadoras de competências científicas que permitirão uma especialização na área da Gestão das Organizações do 3º Sector. No seu projecto educativo, a ESTGF define como prioridade responder às necessidades do mercado de trabalho da região e, como tal, os objectivos deste curso foram construídos com base nessa mesma prioridade. De facto, este curso permite uma continuação normal aos estudantes da licenciatura em Ciências Empresariais, mas apresenta a mais-valia de ser uma formação atractiva para públicos diferenciados, das áreas da Gestão, da Economia, da Contabilidade e do Direito que pretendam enveredar pelo 3º Sector ou que já exerçam a sua actividade profissional em organizações de carácter social, cultural, desportivo ou educativo (associações, fundações, IPSS, cooperativas, mutualidades, misericórdias ou outras organizações sem fins lucrativos). Esta formação pode ser bastante atractiva para os públicos da Acção Social, Serviço Social, Gerontologia e Educação Social, cada vez mais carenciados de conhecimentos e competências ao nível da organização e gestão.

Qual é o público-alvo?
É nossa convicção que esta Pós-Graduação propiciará uma continuidade natural aos nossos estudantes, mas conseguirá captar candidatos de outras licenciaturas fora da ESTGF e possibilitará a todos uma formação avançada numa área carenciada, numa zona que não apresenta respostas formativas a este nível.
O curso tem como principais destinatários os recursos humanos das várias organizações do 3º Sector que pretendam enriquecer os seus saberes e/ou obter conhecimentos na área de gestão, adaptados às particularidades deste sector. Portanto, o ciclo de estudos será dirigido para pessoas que já trabalham ou pretendem, no futuro, trabalhar neste sector. Cumpre salientar que a primeira edição desta Pós-Graduação, que terminou em Julho de 2013, funcionou com um grupo de estudantes que tinham como denominador comum o facto de serem todos oriundos doutras instituições de ensino superior.

Decorrendo a Pós-Graduação em Felgueiras esperam que os interessados sejam oriundos das proximidades?
A experiência da primeira edição da Pós-Graduação mostra-nos que a origem dos estudantes não ultrapassou a dimensão regional – Vale do Sousa e Baixo Tâmega. Todavia, temos sido contactados por candidatos de regiões mais distantes (Porto e Braga, por exemplo) que têm manifestado sólido interesse na frequência da Pós-Graduação. Não creio que pelo facto de a mesma ser leccionada em Felgueiras seja uma condicionante para os possíveis interessados. Porém, não somos insensíveis à situação económica do país e dos portugueses, em geral: numa época de forte crise económica, de escassez de emprego e de deflação dos salários, não é fácil a muitos estudantes melhorarem os seus conhecimentos e as suas competências. No nosso entendimento, mais do que a distância geográfica, são os constrangimentos económico-financeiros a condicionarem as reais opções dos estudantes. Por último, o horário da Pós-Graduação é elaborado considerando as preferências da maioria dos estudantes inscritos.

Porquê a aposta da ESTGF no Terceiro Sector?
A aposta nesta área deve-se a uma necessidade cada vez maior das organizações do 3º Sector se ajustarem a um panorama de recursos escassos. Actualmente, o crescimento das organizações sem fins lucrativos salienta a necessidade de orientações e aconselhamento especializado sobre a forma de gerir eficazmente essas mesmas organizações e o aparecimento de uma gestão mais profissionalizada tornou-se inevitável. Para além desta importante razão, verifica-se que o 3º Sector tem apresentado um grande crescimento nos últimos anos e representa uma relevante parcela do emprego em Portugal. Adicionalmente, e através do CIICESI (Centro de Investigação da ESTGF), esta Pós-Graduação pretende criar bases sólidas para a promoção da investigação aplicada (em particular à região onde se insere) na área da gestão das organizações do 3º Sector. Estamos certos que no final da frequência da Pós-Graduação os nossos estudantes detêm conhecimentos e competências relevantes que lhes permitem intervir directamente nas organizações do 3º Sector, utilizando as mais recentes e avançadas técnicas de gestão organizacional, elaborar e executar ferramentas conceptuais apropriadas para a gestão das organizações do 3º Sector, a diferentes níveis: legal, financeiro, fiscal, de gestão … bem como criar e desenvolver competências e estratégias de gestão e marketing.

O Sector Social Solidário vai merecer alguma atenção especial na Pós - Graduação?
Parte substancial dos conteúdos programáticos da Pós-Graduação versa a componente solidária. O facto das actividades principais das instituições do Terceiro Sector serem desenvolvidas com base no princípio do bem comum, promovendo a integração social dos mais vulneráveis, respondendo a situações de emergência social, substituindo-se, muitas vezes, ao Estado, não as dispensa da necessidade de aperfeiçoar a vertente solidária, com maior e melhor conhecimento. Essa componente solidária está presente em muitas temáticas abordadas na Pós-Graduação como, por exemplo a elaboração dos planos estratégicos que os estudantes elaboram para as suas instituições, onde as actividades de cariz solidário são uma premissa, ou ainda as questões relacionadas com os benefícios fiscais e contabilísticos que as acções solidárias comportam para os doadores e que são tratados em unidades curriculares especificas. As questões do voluntariado e do marketing social onde a componente solidária tratada é uma das bases do programa. É um sector que procura sustentabilidade financeira e tem de se tornar cada vez mais profissional, especialmente nas suas estratégias para gerarem receitas e conseguirem manter o financiamento da actividade não lucrativa. A Pós-Graduação tem, assim, um papel importante para garantir a transmissão desses conhecimentos de gestão e, simultaneamente, a criação de valor numa área de suporte da economia tão necessária e importante para o desenvolvimento socioeconómico das regiões e consequentemente do País.

É uma aposta experiência ou é uma iniciativa que pode alargar-se a outro tipo de cursos e níveis?
Este curso de Pós-Graduação revela-se uma aposta estratégica na missão da ESTGF. É objectivo da Escola e da equipa que está a coordenar a Pós-Graduação (José António Oliveira, Marisa José Ferreira e Amélia Oliveira Carvalho) fortalecer esta formação com sólidas ligações ao meio e ao 3º Sector; aliás, muitos dos docentes da Pós-Graduação, além de especialistas no 3º Sector apresentam no seu currículo vários anos de experiência profissional na área o que, a nosso ver, se traduz em vantagens significativas para os nossos estudantes. Para além destes aspectos, estou em condições de afirmar que muito brevemente (ano lectivo 2014-2015), a ESTGF poderá iniciar um Mestrado em Gestão das Organizações do 3º Sector que, estruturalmente, tem como base esta Pós-Graduação. Em síntese – é uma aposta para futuro.

Esta aposta tem que ver com a visibilidade crescente do Terceiro Sector?
O crescimento do Terceiro Sector, por força da criação de novas organizações sem fins lucrativos, tem-se acentuado nos últimos anos tentando dar resposta ao serviço público. Esta aposta tentou reunir dois pilares importantes. O primeiro relacionado com a necessidade de potenciar os técnicos, que trabalham nas instituições deste sector, das ferramentas necessárias para conseguirem alargar e optimizar os seus contributos profissionais, nomeadamente na área da gestão e, segundo, partilhar o conhecimento académico e profissional que os docentes da Pós-Graduação detêm e que, em alguns casos, os estudos (resultantes de mestrados e doutoramentos na área do terceiro sector) que foram pioneiros, em Portugal, nas áreas do Voluntariado, Marketing e Contabilidade.

Não considera que o designado Terceiro Sector ainda está mal estudado?
Em Portugal, o Terceiro Sector, por força do seu crescimento, tem estimulado o aparecimento de estudos internacionalmente validados - algumas áreas foram acompanhando esse crescimento, concretamente as áreas da Sociologia, da Economia e do Direito. Todavia, há, ainda, um trabalho enorme para fazer nestas e noutras áreas de conhecimento que, embora com menos investigação no nosso País, têm noutras latitudes (EUA e Reino Unido, por exemplo) uma expressão dilatada e têm sido academicamente validados e utilizados para melhorar e criar valor no sector.

Que importância tem a definição em termos de dimensão nacional do Terceiro Sector revelado pela Conta Satélite do INE?
A Conta Satélite do INE apresenta muitos indicadores, económicos e sociais importantes para o conhecimento e análise deste sector, cruzando-os com as tipologias jurídicas que compõem o sector (associações, fundações, cooperativas, etc.). Contudo, não podemos esquecer que os dados apresentados são valores agregados e, por outro lado, este sector é talvez um dos mais informais da economia, o que torna difícil a exacta quantificação, dimensão e constituição do mesmo.

Julga que o Terceiro Sector pode ser uma alavanca para o país na empregabilidade?
Em Portugal, de acordo com a Conta Satélite da Economia Social (2010), o 3º Sector é caracterizado por uma forte heterogeneidade e em 2010 era constituído por 55.383 unidades. De acordo com vários autores, o 3º Sector em Portugal representa cerca de 5,6% do total do PIB anual e a sociedade civil (onde se inclui o terceiro sector) envolveu quase um quarto de milhão de trabalhadores equivalentes a tempo inteiro, dos quais cerca de 70% em posições remuneradas e os restantes 30% como voluntários. De acordo com esses autores, estes números representavam cerca de 4,2% da população activa portuguesa e cerca de 5% do emprego não agrícola. Desta forma, estamos em condições de afirmar que a empregabilidade dos graduados por este ciclo de estudo será promissora a que não será de estranhar as efectivas, úteis e profissionalizantes competências que estes estudantes adquirem, passíveis de contextualização e aplicação empírica. Acresce que esta oferta formativa é única no espaço de influência da ESTGF e é apelidada pelos stakeholders como útil, relevante e ajustada às reais necessidades dos recursos humanos da região.

V.M.Pinto (Texto)

 

Data de introdução: 2013-09-27



















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