O MIúDO, AMARANTE

Boa gestão faz frente à crise e à quebra da natalidade

“O Miúdo” já tem 33 anos de idade. Filho de uma Associação de Pais da escola secundária, descendente da linhagem do pós 25 de Abril, nasceu oficialmente em Setembro de 1980, em Amarante. Da certidão de nascimento consta que foi registado como Associação de Pais do Infantário, com instalações no Terreiro da Navarras, na cidade do escritorTeixeira de Pascoais.
Com seis anos de idade ganhou o estatuto de associação de solidariedade social e passou a ser conhecido como “Infantário Creche O Miúdo”, ou apenas “O Miúdo” para os amigos e conhecidos, como ainda hoje é tratado. E é assim que também nós o vamos tratar daqui para a frente.
Não se pode dizer que teve uma infância facilitada. Desde a sua fundação “O Miúdo” habitou várias casas: desde um anexo da Escola Secundária de Amarante, até um espaço cedido pela Câmara Municipal, passando por um apartamento alugado na Rua das Bucas. Apenas em 1996 concluiu a transferência de todas as valências, creche e jardim de infância, para as novas instalações construídas de raiz na freguesia de S. Gonçalo, onde ainda hoje vive feliz, cheio de vida e saúde.
Cresceu saudável sustentado numa gestão eficaz e com um acompanhamento atento. Em 2004 foi inaugurada a nova creche para trinta e cinco crianças e uma sala de Educação Pré-Escolar, bem como o serviço de cozinha. Foi construída uma terceira sala para o ensino pré-escolar que entrou em funcionamento em 2006. Dois anos depois foi construída a terceira creche numa ampliação do edifício da Rua de Guimarães, na sequência de uma candidatura apresentada ao Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (Pares II). Foi inaugurada em 2009 e começou a funcionar com 33 crianças.
Hoje, aos 33 anos de idade, “O Miúdo” três creches com 100 crianças e seis salas de jardim de infância com 150. Ao todo, 250 crianças dos 4 meses de idade aos seis anos.
Quase podia dizer-se: “O Miúdo” está um homem...

SER OS MELHORES


Jorge Pinto é o presidente da direcção. Foi eleito há nove anos, já cumpriu mais do que os dois mandatos consecutivos que a lei prevê como máximo, mas a Assembleia Geral, também de acordo com a legalidade, autorizou que continuasse a comandar os destinos da instituição amarantina. “Não tem sido por minha vontade expressa, mas é o que tem acontecido. Não direi nunca que estou aqui por favor, onde estiver estarei sempre por gosto e paixão. Quando não for assim eu saio pelo meu pé.”
Foi assim que aconteceu na Câmara Municipal de Amarante, onde esteve durante 12 anos e na presidência do Amarante Futebol Clube, durante quatro. Na direcção da IPSS diz estar com “uma dedicação apaixonada” já lá vão nove anos na presidência e mais alguns como vice. E estamos a falar de alguém que tem apenas 55 anos de idade, foi professor do primeiro ciclo e agora está aposentado. “Procuro partilhar um pouco da minha experiência e conhecimento com os que me rodeiam. A minha regra principal é descentralizar competências e atribuir responsabilidades aos colaboradores, confiando neles plenamente”.
Em boa verdade, é um jovem a gerir “o Miúdo”. “Quando a instituição nasceu com este nome, dizia-nos na altura e hoje continua dizer, aquilo em que devemos ser especializados. Queremos ser os melhores na oferta de educação para o pré-escolar. Esse é um objectivo partilhado pela direcção e pelos colaboradores: queremos ser os melhores. A nossa especialização obriga-nos a uma aposta sistemática na formação interna e externa em busca permanente pela qualidade. Isso é um trabalho do dia-a-dia. Não é um chavão.”
A aposta única na infância tem tido vantagens e contrariedades. A vantagem é a especialização e a qualidade que permitem uma posição de referência face à concorrência do ensino público e do sector privado, no caso concreto, o Colégio de S. Gonçalo, com o mesmo estatuto de IPSS. As maiores desvantagens são a baixa natalidade e a crise que leva muitos pais a retirarem os filhos, por estarem ambos desempregados ou por emigrarem.
“O Miúdo” começa a sentir os efeitos da quebra da natalidade na lista de espera que quase desapareceu. Há falta de bebés e na transposição da Creche para o Jardim de Infância muitos pais trocam a IPSS pelo ensino público onde pagam menos. Na instituição foi determinado em 2008, pela actual direcção, que há um tecto máximo de 140 euros de comparticipação dos pais. A plataforma mínima, essa, depende de caso para caso. “Cada vez mais os pais têm menos rendimentos e pagam menos. Do ano lectivo anterior para este temos uma redução das comparticipações dos pais de três mil e quinhentos euros por mês. Alguns pais retiraram as crianças para pouparem o dinheiro da mensalidade outros falam connosco para renegociarem o valor. Se o único problema é não terem possibilidades de continuarem a pagar a comparticipação estabelecida, nós fazemos uma reanálise, tentando encontrar maneiras para que a criança se mantenha aqui. Há crianças cujos pais não pagam nada para além daquelas que estão protocoladas com a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens. O que nos preocupa é o bem estar das crianças.”
Se todos os males fossem esse, a IPSS amarantina ia resolvendo sem muitos sobressaltos. Jorge Pinto refere ainda outro problema relacionado com a crise: “Temos alguma dificuldade em cobrar algumas mensalidades, um problema que se está a agravar, e nós ainda não enveredamos pela via legal para cobrança de dívidas, mas, se calhar, é o que teremos que fazer.”
“O Miúdo”, porventura fruto de uma educação rigorosa e controlada, cresceu de forma sustentada e honrada. Têm as contas equilibradas, sem dívidas a fornecedores e sem compromissos financeiros para saldar com credores bancários ou outros. O presente, com a crise, é complicado. “Recebemos comparticipações públicas do Estado durante doze meses, dos pais recebemos durante onze meses e temos que pagar catorze meses de salário”, diz Jorge Pinto. O futuro, com a diminuição dos nascimentos, é sombrio.
A instituição tem 43 funcionários. Uma directora técnica, um administrativo, treze educadoras de infância, duas cozinheiras, quatro auxiliares de serviços gerais e vinte e dois ajudantes de acção educativa. O Estado contribui com 68 por cento para o orçamento anual de 900 mil euros que tem diminuído nos últimos tempos por via de uma boa gestão e uma cultura de combate ao desperdício: “Temos consigo reduzir as despesas, nomeadamente o que tem que ver com consumos energéticos, mercadorias, com alguma economia de escala, tínhamos duas cozinhas a funcionar e centralizamos numa só, temos painéis solares térmicos e, há três anos, produzimos energia fotovoltaica que nos ajuda a aumentar a receita própria.”
Com a flexibilização das regras, consentida por este Governo, “O Miúdo” legitimou uma prática de ter mais crianças do que aquelas que eram permitidas pelos acordos de cooperação. Com isso, conseguem pagar a uma educadora de infância extra. Jorge Pinto diz que as IPSS também têm uma maior responsabilidade social. Por isso assegura que nenhum dos funcionários leva para casa menos do que 500 euros líquidos e há uma preocupação em manter os postos de trabalho. “O grande desafio é a boa gestão. Dos recursos materiais e humanos. Procuramos fazer um trabalho de equipa em que todos os problemas são partilhados com os colaboradores e com os pais em reuniões frequentes”.

APOSTA NA QUALIDADE

“O Miúdo” não escolhe a dedo apenas os seus directores. Em termos etários, não é só o presidente que é da mesma igualha. A representante dos colaboradores e directora técnica é Mafalda Coelho, formada em psico-pedagogia. Tem 29 anos, agora, que quando foi escolhida para a chefia da equipa tinha apenas 24. Antes, apesar das aptidões superiores, foi ajudante de acção educativa. Foi aí que a direcção descobriu as capacidades da futura coordenadora técnica da instituição. “No início não foi tarefa fácil. Trabalhei dois anos como ajudante de acção educativa e isso também me ajudou muito. Sei lidar com as situações, sei identificar os problemas que me relatam, houve dificuldades, mas tive sempre a direcção do meu lado e o apoio nas situações mais difíceis de controlar. Com o tempo e com a excelente equipa, as pessoas deram-me a possibilidade de mostrar o trabalho e há um reconhecimento recíproco.”
Mafalda Coelho elogia o ambiente de trabalho e garante que com as mais de 40 colaboradoras há uma partilha e uma solidariedade permanentes. Gosta do que faz e dedica-se atentamente às 250 crianças que tem nas mãos. Conhece o nome de todas elas, bem como dos pais. “Preocupo-me com isso, vou às salas com muita frequência e acho que é isso que faz a diferença do nosso trabalho. Não gosto de ficar limitada aos papéis. Tenho que perceber e intervir na parte pedagógica até para ser mais justa na avaliação. Gosto de informar e ser informada. As crianças e os pais conhecem-me como eu os conheço”.
Sente-se o calor da emoção e o rigor das palavras quando fala das exigências da qualidade da instituição. “Não somos uma IPSS certificada, mas já há três anos implementámos alguns procedimentos de qualidade. Começamos com planos individuais, programas de acompanhamento, tudo o que é exigido pela Segurança Social em termos de legislação. Temos registo de sumários, em papel, onde as educadores reportam as actividades feitas com as crianças. Por incentivo da direcção, temos a possibilidade de migrarmos para a plataforma Moodle que foi criada recentemente. Consiste na informação sobre a instituição, vai ter informação sobre as nossas actividades, o nosso projecto educativo, de enriquecimento, projecto curriculares e tem a particularidade de registo electrónico dos sumários. Posteriormente vamos alargar a plataforma aos pais, para que acompanhem todas as actividades dos filhos, com muita informação sobre infância, alimentação, etc.”
Percebe-se que há um espírito de sã convivência entre a direcção técnica e a administração, mas também com a comunidade amarantina. É uma instituição de portas abertas, não só das 7 e 30 às 19 horas, todos os dias, mas sempre que os pais precisem de saber dos filhos.
A melhor prova do bom trabalho ao longo destes mais de trinta anos de actividade é o facto de haver hoje na IPSS filhos das primeiras crianças que por lá passaram.
“O Miúdo” está mesmo a ficar um homem...

V.M.Pinto (Texto e fotos)

 

Data de introdução: 2013-10-29



















editorial

VIVÊNCIAS DA SEXUALIDADE, AFETOS E RELAÇÕES DE INTIMIDADE (O caso das pessoas com deficiência apoiadas pelas IPSS)

Como todas as outras, a pessoa com deficiência deve poder aceder, querendo, a uma expressão e vivência da sexualidade que contribua para a sua saúde física e psicológica e para o seu sentido de realização pessoal. A CNIS...

Não há inqueritos válidos.

opinião

EUGÉNIO FONSECA

Que as IPSS celebrem a sério o Natal
Já as avenidas e ruas das nossas cidades, vilas e aldeias se adornaram com lâmpadas de várias cores que desenham figuras alusivas à época natalícia, tornando as...

opinião

PAULO PEDROSO, SOCIÓLOGO, EX-MINISTRO DO TRABALHO E SOLIDARIEDADE

Adolf Ratzka, a poliomielite e a vida independente
Os mais novos não conhecerão, e por isso não temerão, a poliomelite, mas os da minha geração conhecem-na. Tivemos vizinhos, conhecidos e amigos que viveram toda a...