A espionagem sempre foi um tema recorrente na literatura, no cinema e, naturalmente, na comunicação social. Na história das relações internacionais, nomeadamente na história das guerras, a espionagem teve, muitas vezes, um papel destacado, decisivo até em alguns casos. De qualquer modo, na guerra, na política, na literatura ou no cinema, o elemento central e determinante da espionagem sempre foi o homem, o homem ou a mulher, com a sua inteligência e a sua coragem, a sua abnegação ou o seu cinismo, o seu patriotismo ou a sua traição. Hoje, a importância da espionagem não diminuiu, mas os espiões clássicos estão em vias de desaparecer, substituídos como já foram - e serão cada vez mais – por especialistas das novas tecnologias. É uma espionagem diferente: a chamada ciber-espionagem.
Vem isto a propósito das tensões internacionais provocadas pelo escândalo das revelações feitas por um antigo colaborador da Agência Nacional de Segurança americana, Edward Snowden, sobre a utilização deste tipo de espionagem pelos Estados Unidos da América. O escândalo atingiu níveis inimagináveis, dado que praticamente nenhum país, amigo ou inimigo, escapou às pesquisas do “grande irmão”. E quem diz países diz pessoas. Compreende-se pois a reacção dos alemães, quando souberam que o telemóvel de Angela Merkel tinha sido controlado por espiões americanos da nova geração.
Parece que pouca gente terá sopesado, na devida altura, o outro lado das grandes invenções tecnológicas dos últimos anos, sobretudo as que tiveram origem, directa ou indirecta, na informática e nas suas imensas possibilidades. O facto é que hoje é tão fácil acompanhar em tempo real a vida e o comportamento das pessoas, como controlar um “drone” e liquidar alguém a milhares de quilómetros de distância.
Um dos directores da NSA afirmou que há outros países a utilizar os mesmos métodos desta nova espionagem. Mesmo que justificada, foi por certo uma desculpa pouco convincente, cujo objectivo foi o de desviar atenções do escândalo que é, sobretudo, da responsabilidade dos Estados Unidos. Mas numa coisa aquele responsável tem razão: é que praticamente nenhum país resiste à tentação de utilizar essas tecnologias, no caso de já as ter. De qualquer modo, importa lembrar ainda um pormenor que não deve ser menosprezado: é que ninguém pode garantir que os novos espiões sejam sempre, e em cada momento, suficientemente responsáveis e contidos para não se “divertirem” com as descobertas que a sua profissão lhes proporciona…
António José da Silva
Não há inqueritos válidos.