O número de pobres na União Europeia subiu de 85 milhões para quase 130 milhões, entre 2010 e 2012, com mais 45 milhões de pessoas em situação de carência, divulgou, em Bragança, a Rede Europeia Anti-pobreza (EAPN). "A Europa está seguramente a fazer mais pobres, porque em pouquíssimos anos, entre 2010 e 2012, que são os dados disponíveis, passámos de 85 milhões para quase 130 milhões de pobres na União Europeia. É absolutamente inequívoco que estamos a produzir mais pobreza, mais desigualdade", declarou Sérgio Aires, presidente da rede europeia.
Para o dirigente, as eleições Europeias de Maio são "de extraordinária importância" para reflectir e se tomarem decisões sobre: "até que ponto é que queremos prosseguir neste caminho ou pretendemos alterar alguma coisa antes que seja tarde demais".
"Hoje lutar contra a pobreza já não é só reduzir desigualdades, aumentar a prestação social, é fundamentalmente garantir que continuamos a viver em democracia. Como já alguém disse os governos podem decidir ter desigualdade ou democracia, não podem ter as duas coisas", continuou.
O presidente da EAPN falava, em Bragança, num encontro distrital com dirigentes de instituições sobre os desafios que se colocam a estas organizações perante os actuais problemas sociais e a necessidade de uma maior articulação e trabalho em rede para melhores respostas.
As instituições de solidariedade "são o balcão onde as pessoas se dirigem e as primeiras a detectar as fragilidades das famílias".
Hoje em dia, "estão mais convocadas a grandes dificuldades, não tanto pela redução dos apoios do Estado, mas também pela dificuldade que têm as próprias famílias em pagar aquilo que lhes compete", como apontou o dirigente.
Apesar de tudo, "estão a conseguir sobreviver, o que não quer dizer que não tenham dificuldades, que não precisem de ajuda", acrescentou.
Portugal "apanha por tabela" com a realidade europeia, como observou o presidente da Rede Nacional Anti-pobreza, Jardim Moreira, referindo-se a uma "situação em que os pobres apenas são tratados como migalhas que sobram ou que se trazem da mesa dos ricos da Europa para os manter mais calados, mais sossegados".
"Só se preocupam com o défice e com a parte económica e não se preocupam com as pessoas. Penso que esta inversão hierárquica de valores é a causa desta situação em que as pessoas valem menos do que o lucro ou qualquer outra razão e, portanto as pessoas que morram, que não tenham assistência, que não tenham emprego", afirmou.
A Igreja é responsável por 70 por cento das respostas sociais na Diocese de Bragança-Miranda e o bispo José Cordeiro defendeu como "fundamental" um trabalho em rede e que se acabe com a "concorrência" entre instituições que afirmou ter já observado em algumas situações.
A diocese criou o secretariado diocesano da pastoral social e mobilidade humana que tem por missão "provocar esse encontro, essa reflexão e uma actuação cada vez mais efectiva e afetiva junto das pessoas".
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